sexta-feira, junho 2, 2023
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‘Doses homeopáticas’

Barra Mansa gaba-se de ter sido a primeira cidade da região a iniciar a vacinação em crianças.

Vinicius de Oliveira

Pode até ser coincidência, mas depois de criar polêmica (em novembro) ao aparecer em um vídeo – feito por ele mesmo – no meio de uma multidão de flamenguistas, a maioria sem máscara, o prefeito Rodrigo Drable virou um defensor da vacina contra a Covid-19, principalmente da pediátrica. Usa até os filhos como garotos propaganda, garantindo que os dois serão vacinados. Ficou tão fissurado que pôs na cabeça que Barra Mansa foi a primeira cidade da região a vacinar crianças de 5 a 11 anos.
Foi além. Gabou-se de ter sido uma das primeiras do Brasil. Pode até ter sido, mas não foi nem a primeira no estado do Rio. O feito coube a Maricá. Isso foi na sexta, 14, um dia antes de Barra Mansa mandar buscar suas doses na capital do estado. Conseguiu um lote de 970 vacinas. Maricá, por sua vez, recebeu 820 doses da Pfizer, e não saiu se vangloriando, como fez a secretaria de Saúde de Barra Mansa.
Sobrou para Rodrigo o status de prefeito da primeira cidade do Sul Fluminense a vacinar menores de 12 anos a partir do último sábado, 15. “Assim que tivemos a oportunidade, fui correndo buscar a vacina. Algumas pessoas ficam perguntando ‘por que vacinar no sábado e não na segunda’. Olha, se eu tivesse condição de pegar às três da tarde de sexta e começar às cinco da tarde de sexta, eu teria feito. Qualquer esforço que façamos para antecipar a vacina é importante”, declarou Rodrigo Drable em entrevista a uma rádio local concedida na terça, 18.
Mas este não foi o único arroubo megalomaníaco do governo barra-mansense. Sob a supervisão de Sérgio Gomes (secretário de Saúde) e de Marlene Fialho (coordenadora de imunização do município), a prefeitura abriu nada menos do que 16 postos de vacinação espalhados pela cidade para aplicar 970 doses que recebeu do governo do Estado. Como a população infantil é de 17.048 crianças na faixa etária a ser imunizada, o quantitativo de vacinas não deu nem para o cheiro. O engraçado é que até ontem, sexta, quando do fechamento desta edição, a ‘zelosa’ assessoria de imprensa do governo Drable não tinha se dignado a anunciar quantas doses da Pfizer pediátrica foram aplicadas.
“Recebemos 970 doses da vacina pediátrica da Pfizer contra a Covid-19. Vamos iniciar a vacinação nas crianças de 5 a 11 anos de idade, que possuam comorbidades, com laudo médico, ou deficiências permanentes (na fala, auditiva, visão ou motora). A secretaria Estadual de Saúde nos informou que haverá muitos repasses de doses ainda em janeiro. Com isso, poderemos acelerar este processo às idades menores”, comentou Marlene Filho, coordenadora de imunização da secretaria de Saúde de Barra Mansa. Ela também não divulgou quantas doses do total de 970 foram aplicadas.
Nas suas últimas aparições, Drable mostrou ansiedade. “Não só o Brasil, mas o mundo vive uma séria onda de contaminação pelo Ômicron. A previsão do ápice do que estamos vivendo é dia 23 de fevereiro. Falta pouco mais de um mês para os piores dias começarem. Então, se recebermos 100 vacinas, vamos aplicar as 100, porque vacina boa é vacina no braço e não na geladeira”, frisou Rodrigo na entrevista, cheio de expectativas com o novo carregamento que deve chegar na segunda, 24. Ainda não há informações de quantos frascos o município vai receber, mas se o governo mantiver a mesma média, a prefeitura vai levar mais de 4 meses para cumprir a meta. Ou seja, bem depois do retorno às aulas.
Pode ser que a única preocupação de Rodrigo não seja apenas compor o ranking de quem vacina primeiro. O mandatário parece estar também de olho nos técnicos que trabalham na secretaria de Saúde. Afinal, gato escaldado tem medo de água fria. Para o leitor entender a referência, é importante lembrar o caso da vacina de vento. Em março do ano passado, um técnico de enfermagem terceirizado fez uma aplicação falsa de vacina num idoso de 72 anos. O frasco estava vazio. O episódio ganhou repercussão nacional e deixou Drable furioso. “Seguimos estritamente o cronograma do Ministério da Saúde. Na sexta-feira fizemos uma capacitação em que foi, inclusive, usado o meu gabinete. Trabalhamos com gente preparada”, defendeu, sem explicar como se deu o treinamento.
Volta Redonda
Na cidade do aço aconteceu algo parecido. O município recebeu 1.360 doses para serem distribuídas em seis escolas diferentes. E no primeiro dia de vacinação, na segunda, 20, não escondeu, como Barra Mansa fez, que só conseguiu aplicar 260 doses. A média deve ter sido mantida nos dias seguintes e já na quinta, uma nova remessa foi recebida em Volta Redonda, de mais 1.360 doses para um público total de 20 mil crianças.
Antes de começar a vacinação, no entanto, o coordenador da Vigilância em Saúde, o médico sanitarista Carlos Vasconcellos – falando como se fosse secretário de Saúde, já que a titular não é vista em Volta Redonda há muito tempo – se deu conta na última hora de que não conseguiria abastecer todas as unidades com vacinas suficientes e abortou parte da missão. “Recebemos 1.360 doses. Cada faixa etária equivale a aproximadamente 3.300 crianças. Por enquanto, vamos manter as comorbidades, até termos um estoque um pouco maior. Na medida em que tenha mais estoque, iremos fazer nas outras escolas também”, explicou o médico diante do desafio de imunizar 20 mil crianças.
Assim como em Barra Mansa, as chances de completar o ciclo de primeira dose nas crianças de Volta Redonda antes do retorno às aulas são bem pequenas. “Isso depende, exclusivamente, do envio de novas remessas de vacinas pelo governo Federal, o governo Estadual faz a distribuição. Como visto, em edições anteriores de vacinação contra a Covid-19 em adultos, o município tem capacidade de vacinar. Caso haja estoque de vacinas para atender a demanda, podemos vacinar todas as crianças em até três dias”, defendeu Carlos, salientando que a procura pelas vacinas atendeu a expectativa da secretaria de Saúde. “Estão dentro das nossas expectativas, sim. Atendimentos estão ocorrendo tranquilamente, sem filas”, disse, anunciando que com a chegada de mais um carregamento de 1.360 doses, crianças sem comorbidades de 11 anos passaram a receber o imunizante nas escolas Delce Horta Delgado, no Aterrado e João XXIII, no Retiro. As doses pediátricas estão sendo aplicadas das 9 às 16 horas.
Vale lembrar que as crianças, tanto de Volta Redonda quanto de Barra Mansa, precisam estar acompanhadas dos pais ou responsáveis legais para poder receber a vacina. É necessário apresentar também: caderneta de vacinação, CPF ou cartão do SUS da criança. E a dose de reforço, segundo orientação do Ministério da Saúde, deve ser ministrada no intervalo de até oito semanas. “A prefeitura depende da entrega de novas doses para estender a vacinação a outras faixas etárias. Com isso, os postos de imunização exclusivos para esse público também serão ampliados”, adiantou Carlos Vasconcellos.
Testes para Covid-19
Todas as 46 unidades básicas de saúde (UBSs e UBSFs) de Volta Redonda passaram a agendar atendimentos médicos e testes para Covid-19 para evitar aglomerações e otimizar os atendimentos nos postos. Além desses locais, a secretaria de Saúde oferece testagem na Ilha São João, também em horário agendado. A prioridade é testar pacientes sintomáticos. Devem procurar o serviço, prioritariamente, pessoas que apresentem sintomas como: febre, calafrio, tosse, coriza, dor de garganta, cabeça e alterações no olfato ou paladar. Os testes disponíveis para detecção da Covid-19 são os de antígeno e RT-PCR.
O agendamento para atendimento e testagem tanto na Ilha São João quanto nas unidades será feito pela internet (link: https://forms.gle/SfBBa4MW4v68yDxEA). O coordenador da Vigilância em Saúde, o médico Carlos Vasconcellos, esclareceu que as pessoas que não tenham acesso à internet ou um endereço de e-mail, para efetuar o cadastro, serão atendidas sem agendamento nas unidades básicas de saúde.

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