quinta-feira, fevereiro 13, 2025
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Descer a Serra das Araras sem problemas é como ganhar na loteria

Por Mateus Gusmão

Quem mora em uma das cidades do Sul Fluminense e precisa viajar até a região metropolitana do Rio de Janeiro sabe a que horas tem de sair de casa. Já a hora em que chegará, nem pensar. É uma loteria. Pode chegar em duas horas. Ou quatro. Ou seis. Ou mais. É que, nos últimos meses, praticamente todo dia ocorre um acidente na pista de descida da Serra das Araras, interditanso o trânsito por horas e horas. Gera, é claro, grandes congestionamentos. Para piorar, os motoristas ficam parados por horas em pontos sem sinal de telefonia celular, bem longe de qualquer posto de combustível ou mesmo de uma simples lanchonete. É um verdadeiro deus-dará. Quem começou o ano preso em um desses engarrafamentos foi Rodrigo Drable, ex-prefeito de Barra Mansa, que já havia há alguns meses reclamado do grande número de acidentes na Serra das Araras. “Alô, meu povo, 2025 chegou, a gente começa trabalhando, mas parado na Serra das Araras. Até quando? Está duro”, postou nas redes sociais, ressaltando que a população perde horas de produtividade nesses congestionamentos na Via Dutra.
Drable ficou preso no trânsito por conta de um acidente que ocorreu antes do meio-dia de 2 de janeiro, indo para o Rio de Janeiro. O engarrafamento chegou a 33 quilômetros e durou cerca de 13 horas. Foi provocado por um caminhão que transportava uma carga de frango, que colidiu com três carros e tombou, fechando a pista de descida na altura do quilômetro 233. Quatro pessoas ficaram feridas sem gravidade e foram socorridas pelo Corpo de Bombeiros. A pista só foi liberada na madrugada do dia 3 de janeiro.
O aQui procurou a Polícia Rodoviária Federal para entender os motivos de tantos acidentes na Serra das Araras. Segundo a PRF, as quatro principais causas são: problemas de freio dos caminhões, ausência de reação do condutor, velocidade incompatível (acima do limite de velocidade) e chuva. As principais vítimas, diz a PRF, são os próprios condutores dos veículos. No último trimestre de 2024, foram 19 acidentes, com 23 feridos e um óbito. Segundo uma fonte do aQui, outro possível problema seria a inexperiência dos novos caminhoneiros, que, com veículos modernos com direito a computador de bordo, chegam à Serra das Araras em alta velocidade e não conseguem fazer as curvas da pista. “Os motoristas mais antigos tinham que ter braço para dirigir, passar marcha e segurar o caminhão nas curvas. Hoje, isso mudou. Os atuais motoristas dirigem caminhões leves, com computador de bordo, ar-condicionado, tudo automático. Entram nas curvas da Serra das Araras em alta velocidade. Não conhecem os perigos e nem as manhas. Acabam tombando”, comentou um dos motoristas da velha guarda.
A avaliação faz sentido. “Com relação à prevenção dos acidentes, a PRF sempre busca a conscientização do motorista. A grande maioria (dos acidentes) é ocasionada direta ou indiretamente por ele e tem relação estrutural. Após estudos técnicos, a duplicação da serra começou em 2024 e, quando finalizada, trará enormes benefícios para os usuários da via”, crê a Polícia Rodoviária Federal. O aumento no número de acidentes na Serra das Araras, que não eram comuns, também foi apontado dentro de uma teoria da conspiração. Segundo uma fonte do setor, que pede para não ser identificada, os acidentes poderiam ser propositais. Interessariam a uma quadrilha especializada no roubo de cargas. “A quadrilha pode estar provocando estes tombamentos de carretas para roubar a carga”, comentou, sem apresentar provas ou detalhes de como os bandidos estariam agindo. A CCR Rio-SP, concessionária que administra a Via Dutra, também foi procurada pela reportagem. Detalhe: destacou que foram registrados, no período de janeiro a dezembro de 2024, 38 tombamentos de veículos pesados na pista de descida, entre os km 233 e 225, da Serra das Araras. Em 2023, no mesmo período, foram apenas 15 tombamentos. Ao aQui, a concessionária garante que tem intensificado as ações de segurança no trecho para mitigar os riscos associados a esses acidentes. Entre as medidas adotadas, diz a CCR, estão o reforço na instalação de faixas com mensagens de segurança, destacando a importância e respeito ao limite de velocidade de 40 km/h na pista de descida. Além disso, o trecho de alto risco conta com radares e sinalização regulamentada para o controle da velocidade e aumento da segurança. A informação sobre o limite de velocidade e o trecho em declive também é reforçada nos painéis de mensagens que antecedem a pista de descida. A CCR destacou ainda que tem promovido campanhas de conscientização em parceria com a PRF, focadas nos riscos de tombamento e na promoção da segurança viária no trecho, entre elas a manutenção dos veículos e o uso correto dos freios.
O ‘xis’ da questão é que, mesmo após essas medidas que a CCR e PRF dizem ter adotado, acidentes seguem acontecendo de forma recorrente na Via Dutra. O deputado estadual Jari Oliveira, de Volta Redonda, inclusive, criticou as ações adotadas até o momento com o objetivo de diminuir o número de acidentes na Serra das Araras. O parlamentar encaminhou, em dezembro, um ofício à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) questionando quais medidas estão sendo adotadas para evitar novos acidentes na Serra das Araras. A resposta da ANTT foi dada na primeira semana de janeiro e, na avaliação de Jari, não foi satisfatória.

Segundo Jari, as medidas não geraram até o momento, resultado positivo, e ele destaca a necessidade de ações concretas para garantir a segurança de quem transita pela via, pois o trecho da Dutra tem se tornado palco de acidentes, quase diários, que interditam a via parcial ou totalmente, colocando em risco a vida de inúmeros motoristas que trafegam pelo local. “Vida não tem preço, e  isso precisa ser entendido por todos. Temos acompanhado diversos acidentes, inclusive com vítimas fatais, na Serra das Araras, e nenhuma medida concreta é adotada pela concessionária CCR Rio- SP. As campanhas de conscientização não surtiram efeitos até o momento. Quase diariamente há acidentes na via”, frisa o parlamentar. Ele tem razão. Ontem, sexta, 10, um novo acidente foi registrado na Dutra. Foi de um caminhão que tombou entre os quilômetros 232 e 228.

Nova pista só em 2029

Considerada fundamental para o fim dos acidentes na Serra das Araras, a duplicação das pistas da Dutra ainda vai demorar. A obra foi iniciada em 2024 e deve custar cerca de R$ 1,5 bilhão. “A obra trará melhorias significativas para a segurança dos motoristas, com a implantação de 24 viadutos, duas rampas de escape na pista de descida, além da melhoria de 14 pontos de acesso e a construção de uma via marginal na pista sul, sentido São Paulo”, explicou a assessoria da CCR, destacando que o projeto também prevê o aumento da capacidade viária, com quatro faixas por sentido, acostamento e faixa de segurança, que contribuirão para a redução de até 50% no tempo de percurso, além de oferecer maior segurança, fluidez e conforto. As obras abrangem um trecho de oito quilômetros por sentido, totalizando 16 quilômetros de extensão, entre o km 225 e o km 233 da Via Dutra. Serão construídas 93 contenções, oito pontos de ônibus e três passarelas. Estima-se que as obras durem 52 meses e gerem cerca de 5.000 empregos diretos e indiretos, com a maior parte da mão de obra sendo absorvida pelos municípios de Piraí e Paracambi, no Rio de Janeiro. A previsão da CCR Rio-SP é de que a nova pista de subida seja entregue até 2028 e a pista de descida, até 2029.

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