sábado, setembro 7, 2024
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Vergonha alheia

Por Roberto Marinho

Que o clima político anda estranho, não há a menor dúvida. Mas alguns políticos estão passando dos limites. Justamente aqueles que poderiam – pela visibilidade de seus cargos – dar o melhor exemplo. É o que está acontecendo em Volta Redonda, onde a morte de quatro bebês em pouco mais de uma semana no Hospital São João Batista, ainda na barriga das mães, virou tema de campanha eleitoral, com parlamentares tirando selfies ao lado dos infelizes pais para postar nas redes sociais.

Apesar do forte apelo, não deveriam apelar. A crise no HSJB está feia, não se pode negar, tanto que o caso dos natimortos causou a queda do diretor médico da unidade, José Geraldo, um dia após o prefeito Samuca Silva ter mandado trocar o comando na maternidade do maior hospital público da região, além de dispensar o médico envolvido no caso dos bebês mortos. Deveriam ter feito como o chefe do Executivo, que não quis se pronunciar a respeito do uso político dos natimortos. Como também evitou falar sobre a Comissão Especial de Inquérito criada pelos vereadores, com apoio da posição da bancada governista.

O pior é que o prefeito poderia mostrar que Volta Redonda está abaixo da média nacional de natimortos – 14 a cada mil nascidos vivos – com cerca de 8 ocorrências a cada mil nascidos vivos, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, referentes a 2016. Os dados mostram que, neste ano, Volta Redonda teve 38 casos de natimortos. Em 2017, foram 29 óbitos, e em 2018, até agora, 18 casos.

Ao preferir manter silêncio sobre o caso, limitando-se a informar que teria demitido a cúpula da maternidade, a prefeitura de Volta Redonda deixou espaço para o uso político do caso. Candidato a deputado estadual, Munir Francisco, irmão do ex-prefeito Neto, foi um que pegou carona na tragédia, aproveitando para criticar a gestão da Saúde em Volta Redonda. Pegou mal, até porque casos semelhantes ocorreram quando o irmão dele era prefeito.

Os vereadores da cidade também não perderam o bonde, e na sessão de segunda, 24, usaram a tribuna para um morde-e-assopra danado, com declarações a favor da troca do diretor médico do HSJB e da criação da Comissão Especial de Inquérito (CIE), apresentada pelo presidente da Casa, Washington Granato (PTC).
No fundo, resta mesmo a saudade das mães e pais, que em alguns casos não chegaram nem a pegar seus filhos no colo, e a insegurança das futuras mamães que entram no HSJB para dar à luz, sem saber se o final da história será feliz. Que seja!

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