segunda-feira, dezembro 2, 2024
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“Vamos ganhar essa guerra”

Temer-e-Pezão

Na edição passada, o aQui abordou a questão da intervenção federal que acontece no Rio de Janeiro – que deve durar até o dia 31 de dezembro. A reportagem ouviu políticos e agentes de segurança que deram suas opiniões sinceras, e recheadas de incertezas sobre o que pode acontecer. Nesta semana, continuaremos abordando o tema, só que, desta vez, sob a ótica de Luiz Fernando Pezão.

 

O governador, oriundo de Piraí, provavelmente nunca foi tão odiado e amado ao mesmo tempo. Enquanto parte da população agradece a prometida presença das forças do Exército para liderar as forças de segurança, acreditando firmemente que com a presença das tropas nas ruas a violência se estancará, outra parte o critica ferozmente alegando que ele estaria levando o Rio à falência em todos os sentidos.

 

Contudo, independentemente da polarização gerada em torno da intervenção, uma coisa é certa: a população quer saber exatamente o que esperar da nova gestão de segurança, que, a partir de agora, é chefiada pelo general Braga Netto, do Comando Militar do Leste. Policiais também seguem sua rotina sem respostas no meio dessa guerra declarada contra o tráfico de drogas. E para tentar jogar luz às dúvidas dos leitores, o aQui conversou com Luiz Fernando Pezão. “Vamos ganhar essa guerra”, disparou o governador, em entrevista exclusiva ao aQui. 

 

“Sem a participação efetiva da União, continuaremos a enxugar gelo”, pontuou ao falar sobre a intervenção na área de segurança fluminense, garantindo ainda que não se sente diminuído por ter pedido ajuda ao presidente Michel Temer. “Todo o país está cansado de saber que, sem a participação decisiva do governo Federal, não haverá como derrotar a criminalidade”, disparou, revelando que teve uma conversa com os prefeitos do Sul Fluminense a respeito da intervenção.

 

Detalhe: Pezão garantiu que uma das estratégias para vencer essa batalha, além de contar com o armamento pesado e expertise em guerra do Exército, é destinar parte dos royalties do petróleo para investir na segurança pública. “As iniciativas que vão ser beneficiadas com esses recursos vão incluir ações de melhoria da qualidade de vida nas comunidades, ações sociais e educativas”, pontuou o governador, admitindo que é preciso investir mais em empregos e na Educação.

 

Tem mais. Ao aQui, na entrevista exclusiva, Pezão mandou um recado direto aos adversários que defendem a intervenção total no estado do Rio ou, mais radical ainda, a sua renúncia. “De jeito algum”, disse em tom firme, descartando deixar o Palácio Guanabara. “Não é hora de sentimentos menores”, respondeu, de forma irônica, aos inimigos.  

Confira abaixo, na íntegra, as respostas do governador.

 

aQui: Quais prefeitos do Sul Fluminense já procuraram o senhor para tratar da questão da segurança no interior do estado?

Luiz Fernando Pezão: Converso sempre com todos os prefeitos do estado sobre todos os temas. Segurança é um tema nacional, que aflige a todos os brasileiros, e não apenas os fluminenses. É claro que algumas regiões requerem mais atenção devido à locomoção da mancha criminal. A região de Angra de Reis e Parati, por exemplo, cidades que se tornaram rota de tráfico internacional de drogas, vêm demandando mais atuação das forças de segurança devido à ação do tráfico de drogas e armas. A nossa polícia, incluindo o Bope (Batalhão de Operações Especiais), tem feito operações na região e apreendido muitas armas e munições. Essa é a nossa luta diária. É um trabalho árduo, difícil, mas nada vai nos fazer recuar. Precisamos enfrentar. Como tenho dito, o Rio tem um grande arsenal, apesar de não ser produtor de armas e drogas. Por isso, desde que assumi o governo, venho pedindo o apoio da Polícia Rodoviária Federal nas rodovias federais que cortam o Rio, das Forças Armadas nas baías de Ilha Grande, de Sepetiba, de Guanabara. É bom frisar que o problema da violência não acontece apenas no Rio, acontece no país todo, infelizmente. Cada vez mais, o governo federal vai ser demandado para ajudar os estados no combate à criminalidade, como estamos assistindo. Precisamos cada vez mais do apoio federal, o que temos recebido e vem nos ajudando muito. Agora, com o trabalho cooperado com o general Braga Netto, vamos ampliar ainda mais o combate à criminalidade

 

aQui: O que o senhor disse e/ou prometeu aos prefeitos?

Pezão: O crime nas grandes cidades e no interior está cada vez mais ligado ao tráfico de drogas. O principal é resolver o problema. E todo o país está cansado de saber que, sem a participação decisiva do governo federal, não haverá como derrotar a criminalidade. E não é apenas a situação do Rio de Janeiro. Todos sabem que esse cenário é o mesmo de norte a sul do Brasil. O controle do mar e das fronteiras cabe à União. Portanto, é lógica elementar admitir que, sem a participação efetiva da União, continuaremos a enxugar gelo.

 

aQui: De que forma a intervenção federal impa-ctará, de fato, a vida dos moradores do Sul Fluminense?

Pezão: Da mesma forma que vai interferir na vida da população de todo o estado: com redução dos índices de violência, com maior segurança, como resultado do combate integrado à criminalidade, em parceria com o governo federal. Essa parceria é para que a população de todo o Estado do Rio tenha mais segurança e isso, é claro, inclui o Sul Fluminense. Não tenho dúvidas de que as melhoras vão ser sentidas pela população tão logo os trabalhos das forças integradas de segurança, nessa nova parceria entre governos federal e estadual, sejam iniciados de acordo com o planejamento que está sendo finalizado e será apresentado em breve à sociedade.

 

aQui: Os comandantes da PM e delegados do Sul Fluminense continuarão tendo autonomia ou já receberam novas ordens oriundas do Exército? Se sim, quais seriam?

Pezão: Tudo isso está em fase de definição e, como já dito, assim que o planejamento esteja concluído, será apresentado à sociedade.

 

aQui: Existe algum plano para evitar a fuga de bandidos da capital para o interior? Que áreas estão sendo acompanhadas com maior interesse no Sul Fluminense? Como ele funcionaria?

Pezão: Como disse, tudo isso está em fase de definição e, como já dito, assim que o planejamento esteja concluído, será apresentado à sociedade.

 

aQui: O senhor se sente diminuído politicamente como chefe do Executivo por ter solicitado a intervenção?

Pezão: De forma alguma. Não é um momento para vaidades, a hora é de fazer tudo o que for possível para aumentar a segurança para a população do Estado do Rio. Não é hora de sentimentos menores. É hora de ação. Tenho a absoluta confiança de que, unidos, conseguiremos sem dúvida ganhar essa guerra. Eu sempre soube, e disse, que não há solução para a violência no nosso estado, que não fabrica armas e nem drogas, sem a parceria do governo federal. Estou certo que não havia outro caminho e agradeço ao presidente Temer e sua equipe por terem tido essa compreensão e coragem. As autoridades federais observaram que atuação de tal magnitude só seria possível com uma participação ainda maior de Brasília na área de segurança, com as Forças Armadas assumindo o comando operacional. E se é isso que precisa ser feito, que seja feito. Da nossa parte, a colaboração será total.

 

aQui: O senhor acha que, por ser de uma pequena cidade (Piraí), isto estaria influindo nas críticas dos adversários e críticos, que pedem uma intervenção total e não apenas na área de segurança?

Pezão: Não vejo relação. Tenho muito orgulho de ser de Piraí, aprendi muito como prefeito da cidade, fiz uma administração ainda hoje muito bem reconhecida na região. Acho que as críticas ocorrem porque as pessoas estão, compreensivelmente, vendo apenas as consequências da crise, sem refletir que o verdadeiro tsunami que estamos vivendo não é apenas do Estado do Rio, mas de todo o país. A depressão econômica fez com que tivéssemos que lutar bravamente pela sobrevivência do Estado, sem as realizações que almejávamos. Tivemos que lutar muito pelo básico, para evitar que os transtornos para a população fossem ainda maiores.

Mas respeito as críticas. Creio que o tempo vai colaborar para que todos tenhamos uma compreensão mais profunda dessa crise histórica.

 

aQui: Algumas críticas partem do fato de que políticas públicas nas áreas de Educação, Saúde e Lazer, por exemplo, seriam precárias no Rio de Janeiro e, por isso, a presença do exército só apagaria incêndios. O senhor tem algum projeto para as áreas já citadas e também as de cunho social para livrar gerações futuras dessa violência? Quais?

Pezão: Nunca tive dúvida de que são necessárias ações sociais para conter a violência. Uma coisa não elimina a outra, de forma alguma. Aliás, acabamos de criar um fundo de segurança, inédito no país, que vai garantir que parte dos royalties do pré-sal, 5% de tudo o que for arrecadado por essa fonte, que deverá aumentar muito nos próximos anos, vá integramente para a segurança. As iniciativas que vão ser beneficiadas com esses recursos vão incluir ações de melhoria da qualidade de vida nas comunidades, ações sociais e educativas.

Tenho falado, com muita convicção, que é preciso aumentar o número de carteiras assinadas para diminuir a violência. Será preciso desenvolvimento econômico, educação e acesso à saúde de qualidade para vencermos definitivamente esse enorme problema da violência que, infelizmente, não é apenas do Rio, mas do Brasil.

 

aQui: O senhor admite renunciar? Explique

Pezão: De jeito algum.  Desde que assumi o governo, em abril de 2014, enfrentei toda a sorte de adversidades. No início de 2015, todos ainda previam algum crescimento da economia brasileira, que acabou desabando. No Rio, com a paralisação das atividades da Petrobras e a queda no preço do petróleo, a situação foi ainda pior.

Tentamos de toda forma gerar receitas suficientes para evitar o atraso no salário dos servidores e conseguimos até o fim daquele ano, apesar da queda forte nas receitas, mas chegou um momento em que, ao invés de melhorar, a economia só piorava.

Em 2016, enfrentei uma doença que me afastou do governo, mas ainda assim prossegui trabalhando, na medida do possível, pelo Estado. Voltei mesmo contra a vontade dos médicos e da minha família, porque sei das minhas responsabilidades com a população fluminense.

Em nenhum momento foi fácil, não está sendo, mas fiz e estou fazendo tudo o que está ao meu alcance, tudo o que é possível. Vou trabalhar pelo Estado do Rio, como governador, até o último dia do meu mandato.

 

aQui: Qual recado o senhor deixa para a população do Sul Fluminense?

Pezão: Estamos iniciando um processo de recuperação que vai se acelerar nos próximos meses. A economia está voltando a crescer, a receita de tributos está aumentando, o Regime de Recuperação Fiscal, que é o meu principal legado para o Estado, vai garantir o nosso reequilíbrio fiscal. Haverá uma sensível melhora na segurança, com essa parceria mais forte e integrada com o governo federal. Nossos dias de turbulência, que foram tão longos e dolorosos, estão chegando ao fim. Nós estamos reagindo e isso é bom para o Rio de Janeiro e o país. Quando o Rio vai bem, o Brasil vai bem. Tenho a absoluta confiança de que, unidos, conseguiremos sem dúvida ganhar essa guerra.

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