sábado, setembro 7, 2024
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Mais mulheres estão empreendendo, porém homens ainda dominam o nicho, o que faz aumentar desafio para elas

Empreender definitivamente não é uma tarefa fácil. Empresários de renome alertam aos que sonham com a oportunidade que é preciso, além de uma educação financeira apurada, ter acesso a linhas de crédito para manter o empreendimento apesar das nuances do mercado. Justamente por isso, ser seu próprio chefe foi privilégio masculino por muito tempo. Contudo, as mulheres vêm provando que são perfeitamente capazes de comandar um negócio próprio. Basta ter a oportunidade. É o caso da volta-redondense Elizabeth Vianna, que há dez anos vem lidando com os desafios de comandar, junto com sua mãe, uma empresa de mesa posta, a Aqui Entre Nós (aquientrenos, no Instagram), especializada em decoração de mesas para refeições diárias. Convicta de suas vocações, Beth (como é conhecida entre os amigos) diz que empreender significou a oportunidade de realizar sonhos antigos e fugir da rotina frustrante de uma fábrica. “Eu fiz engenharia de produção, mas não queria passar o dia inteiro presa em uma fábrica. Eu tinha outras vocações e decidi trabalhar nelas. E as vendas sempre fizeram parte de mim, desde a infância. Era algo nato, mas que eu não reconhecia. Uma vez vendi doces de São Cosme e Damião na escola, pois não queria comê-los. Achei que seria uma ótima orma para lidar com eles”, lembrou Beth. De acordo com sua história, Beth dava mostras de estar à frente do seu tempo, pois, na época, já pensava de forma sustentável. “Na caixa de sapato onde vendi os doces tinha um saquinho, para que os amigos que comprassem pudessem descartar o lixo e não poluir a escola”, relembrou. Consciente de que vende um conceito de beleza, Beth conta que sua maior inspiração para trabalhar no ramo sempre foi sua mãe, Martha Vieira, artista plástica. “Eu via minha mãe pintando coisas belíssimas, e as pessoas me diziam que eu também tinha bom gosto e que deveria investir nisso. Foi então que resolvi partir para esse negócio e atualmente vendemos até para o exterior. A Aqui Entre Nós já exportou para muitos países, tais como Londres, Emirados Árabes, Austrália e Estados Unidos”, explicou a empreendedora, salientando que seu público se concentra fora do Sul Fluminense e o maior número das vendas é feito pela internet, o que a coloca como integrante de outro movimento inovador: o empreendedorismo digital. “Começamos divulgando pelas redes sociais e vendendo por e-mail, depois pelo WhatsApp, que é uma ferramenta muito dinâmica e nos aproxima de nossas clientes. Temos milhares de seguidores. Mas presencialmente também vendemos em nossa loja, só que com hora marcada”, destaca. Para dar conta do crescimento da empresa, que é muito artesanal, Beth diz que foi criada uma pequena rede de apoio a mulheres que também buscam alguma forma de independência financeira e que têm dons manuais. “Hoje, todo o trabalho da loja é feminino. A produção é exclusivamente feminina. Temos mulheres em Volta Redonda que fazem crochê e costuram para nós. Algumas nunca estiveram no mercado; outras já estiveram, e hoje estão afastadas por motivos diversos. Eu sempre achei que juntar uma população de mulheres ociosas e desvalorizadas – uma questão cultural – e dar propósito a elas seria fundamental. Elas fazem tudo com muito prazer e orgulho”, explicou.

Donas do negócio

Mas nem todas as mulheres têm a ousadia ou mesmo a sorte de Beth. Segundo relatório especial de março de 2019 publicado pelo Sebrae sobre o empreendedorismo feminino no Brasil, apenas 34% desse nicho de mercado é ocupado por elas, enquanto 66% é dominado por homens. Outro levantamento mais recente, feito em parceria com a Global Entrepren eurship Monitor (GEM), mostra que 55% das mulheres que se tornam donas do próprio negócio o fazem por necessidade e não oportunidade, o que corresponde a aproximadamente 13,2 milhões de mulheres. Dentre essas, 47% são pretas. Um exemplo é o de Mariana Alves. Moradora do Santo Agostinho e mãe de um filho de seis anos, seu marido foi embora de casa durante a pandemia e ficou apenas para ela a responsabilidade de sustentar a casa. Sem possibilidade de acesso a qualquer tipo de crédito, Marina foi obrigada a empreender. Resultado: passou a produzir seu próprio material de limpeza e começou a vender de porta em porta. “Aproveitei que tenho ainda um carro, coloquei o material no porta-malas e fui vender. Eu precisava arrumar um jeito de ganhar dinheiro ou passaríamos fome”, contou a moça, enquanto deixava o filho na porta da escola e aproveitava para vender seu produto às professoras. “E assim a gente vai sobrevivendo. Mas definitivamente não é fácil. Tem dias que vendo, tem dias que não”, pontua. De acordo com a professora de Inglês Simone De Freitas Aleto, aluna do curso MBA em Gestão Escolar da USP, os dados acima reforçam que o caminho não é fácil para o empreendedorismo feminino. “Estou finalizando esse curso pois gostaria de abrir minha própria escola, mas sei dos desafios que me esperam. É perceptível a necessidade de se criar oportunidades que incentivem e qualifiquem lideranças femininas. Eu tive a oportunidade de estudar, mas muitas outras que são obrigadas a empreender hoje em dia não conseguem nem concluir o ensino médio, menos ainda um curso superior. É importante que os governantes compreendam a realidade das mulheres, dentro e fora dos negócios, para garantir que nós possamos assumir os postos de trabalho ocupados historicamente só por homens, mas cujas funções seriam muito melhor executadas por mulheres”, analisou.

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