Roberto Marinho
Foi-se o tempo (ver foto) em que as viagens da Terceira Idade eram para hotéis de luxo, como o Le Canton (Teresópolis), Glória (maior de Caxambu), o resort Villa Gallé (Angra dos Reis), ou o Club Med (Mangaratiba). Eram dois dias de puro deleite para os mais de 15 mil idosos que participavam dos grupos da Smel, secretaria de Esporte e Lazer da prefeitura de Volta Redonda. Entre eles, gente tão humilde que alguns nunca tinham andado de elevador ou visto o mar. Outros, bem simplórios, pediam emprestadas as vassouras do pessoal da limpeza dos hotéis, “só pra dar uma arrumadinha no quarto”. Não tinham ideia que uma equipe faria isso por eles.
Agora, tudo mudou. Mudou tanto que um aposentado, de 71 anos, ligou para a redação do aQui, indignado, afirmando categoricamente: “Querem nos matar!”. Mas porque ele diria isso sobre o atual governo? Simples. Foi informado que a viagem da Terceira Idade, em 2018, será para o Rio de Janeiro, onde a violência obrigou o governador Pezão a concordar com uma intervenção federal.
Nada disso parece assustar o vice-prefeito e secretário de Ação Comunitária, Maycon Abrantes, que a princípio foi quem decidiu o destino turístico dos idosos de Volta Redonda. Ele está tão otimista que já marcou a data da ‘viagem dos velhinhos’: será a partir do dia 19 de março. E vai começar com tudo: na primeira leva, 15 ônibus levarão 675 idosos para visitar quatro pontos turísticos do Rio de Janeiro. Sabe-se lá como – porque é um roteiro difícil de fazer até de carro – os idosos irão ao Cristo Redentor, Aquário, Museu do Amanhã e farão um passeio pela orla, provavelmente em Copacabana, com direito a uma parada para o rango (almoço).
“O que eles estão pensando? Tem muita gente com problema de locomoção. Imagine só, 15 ônibus, com mais de 670 idosos, parando ao mesmo tempo para fazer as visitas? E como será para almoçar?”, disse o indignado aposentado, que pediu para não ser identificado. Ele afirmou que as informações sobre o passeio foram repassadas pela coordenação do grupo de idosos da Smel que ele frequenta, na Vila Santa Cecília. ”Em setembro o Maycon veio pessoalmente falar com o grupo sobre a viagem, mas parece que não teve coragem de falar o destino, disse que estava sendo definido”, contou o aposentado, que inclusive é ex-funcionário do Palácio 17 de Julho. “O pessoal pediu que fosse um hotel fazenda, e ele (Maycon) ficou até meio nervoso”, relatou.
Ele foi além. “Ele (o vice-prefeito) nos mandou avisar que a viagem seria para o Rio. Para quem reclamou, a resposta dele foi que “quem não gostasse, que não fosse”! Um tremendo desaforo”, desabafou, irado. E nada o convence de que a escolha do roteiro – um tanto quanto exótico, em se tratando de uma viagem para a terceira idade – foi justamente para esvaziar o passeio. “As pessoas estavam acostumadas a fazer um passeio de dois dias, em hotéis onde eram muito bem recebidas, com uma excelente estrutura, aonde iam para descansar, e muitos para ver coisas que nunca viram na vida, como um elevador, piscinas, e até o mar. Gente muito humilde. Quem vai querer ir ao Rio, nessa viagem tão cansativa? Acho que foi para que ninguém quisesse ir mesmo”, cravou, perguntando ainda, de forma irônica, se vão “fornecer coletes a prova de bala” para a turma. “Porque vai precisar, né?”, pontuou.
E em ano eleitoral, nada como agradar ao público, certo? Errado. “Se depender do meu voto, quero que ele (Maycon) morra! Não voto e não deixo ninguém da minha família votar, e ainda trabalho contra”, disse, bufando de raiva. Multiplica isso por 15 mil, dá pra ter uma ideia da encrenca, não é mesmo?