Diz o ditado que “a saúde começa pela boca”. E, apesar do secretário de Saúde de Volta Redonda, Alfredo Peixoto, cirurgião bucomaxilofacial, dizer que ninguém morre pela boca, a sabedoria popular está coberta de razão. Pior. Estudos médicos comprovam que a boca pode ser o início e o fim de doenças mortais, como a endocardite bacteriana – uma inflamação nas estruturas internas do coração -, que começa com uma simples cárie, podendo levar as bactérias até o coração. Uma dor de dente pode causar a morte de até 20% dos pacientes, segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). Pode ainda causar má nutrição, gastrite e doenças no pulmão, entre outros males.
Pensando nisso, o governo criou, em 2005, o ‘Brasil Sorridente’ para atender quem usa o SUS (Sistema Único de Saúde) por meio das clínicas odontológicas municipais, implantadas com verbas federais. Em Volta Redonda, desde então, existem nove clínicas odontológicas, que são administradas pela prefeitura. “Nos tempos do ex-prefeito Neto era uma maravilha”, garante um dos usuários, inconformado com o que ele chama de um processo visível de sucateamento das unidades. “E olha que nosso secretário de Saúde é um dentista, além de ser veterinário”, ironiza, pedindo para não ser identificado.
Segundo ele, várias cadeiras de dentista e outros equipamentos estariam parados por falta de manutenção, profissionais e insumos. “A infraestrutura é precária nas unidades, está acontecendo de tudo”, dispara, garantindo, por exemplo, que na Clínica Odontológica Concentrada (COC) do Santa Cruz – inaugurada em julho – existem pelo menos quatro cadeiras paradas. “Ou por problemas de falta de manutenção”, pontua, acrescentando que a falta de peças para a substituição das que estragam é flagrante.
No Cais Aterrado – que é referência em casos de urgência odontológica – uma cadeira de dentista também estaria parada por falta de manutenção. Tem mais. Na clínica do Jardim Tiradentes – que há alguns meses atrás foi assunto de uma nota no aQui por conta da precariedade das instalações – a prefeitura mandou consertar as luminárias que estavam caindo e mandou costurar as cadeiras de dentista que estavam rasgadas.
Em compensação, o computador da clínica que ficava na recepção da unidade foi retirado, segundo as atendentes, “sem data para voltar”. O pior é que isso nem faz falta, pois a espera por atendimento com um cirurgião dentista já passa de quatro meses, revela a fonte. O que poderia estar se repetindo por toda a rede de Atenção Básica, na qual a Saúde Bucal está incluída. “Quem está com um problema sério não consegue esperar, e se tiver condições, paga um dentista particular, que não é barato. Quem não tem condições deve estar passando um inferno”, disse outro paciente da clínica, que preferiu não se identificar.
Ele afirmou que, apesar da precariedade, os profissionais fazem de tudo para oferecer um bom serviço. “O pessoal todo, das atendentes aos dentistas, é muito atencioso e cuidadoso. A gente entende que eles não conseguem fazer mágica, e estão tentando dar o melhor para o serviço não acabar, mas estamos vendo as dificuldades”, disse o paciente, que usa a clínica desde a sua inauguração, em 2002.
“Já houve problemas antes, é claro, mas do jeito que está nunca ficou. Está muito largado, parece que estão querendo abandonar isso aqui de vez. É uma pena, porque eles fazem um belo serviço e atendem muita gente aqui da região, de forma muito profissional”, diz o paciente.
Nota da redação: A secretaria de Saúde da prefeitura de Volta Redonda diz que “não procede as ilações” (sic) da reportagem. Disse ainda que desde o início do governo vem fazendo melhorias, “uma vez que as clínicas odontológicas estavam totalmente sucateadas e com equipamentos quebrados no início de 2017 e que as manutenções são feitas com frequência em todas as unidades de saúde e clínicas odontológicas”.
Por último, na curta nota que enviou ao aQui, desmente que o Centro Odontológico Centralizado (COC) do bairro Santa Cruz esteja com problemas como mostra a reportagem. “Foi inaugurado nesse governo em julho de 2017 e atendeu até o momento 7.928 pessoas”, destaca. Há controvérsias.