A novela Vita parece não ter fim. Desde a decisão da Justiça, divulgada com exclusividade pelo aQui no final de fevereiro, de desmobilizar (despejar) o Hospital para que o imóvel seja devolvido à CSN, a cada semana um fato novo acontece. Desta vez, a novidade foi a determinação da Justiça para que cerca de 40 credenciados (empresas e planos de saúde) que mandam pacientes para o Vita procurassem alternativas para manter o atendimento de seus clientes. Isso sem levar em conta que mais de 500 funcionários, entre médicos, enfermeiros e pessoal da área administrativa e de serviços, trabalham na unidade e podem sofrer prejuízos caso a pressão continue contra o Vita na cidade do aço.
Uma das primeiras empresas a se sujeitar à pressão foi a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) de Resende. Ela chegou a emitir um comunicado interno aos seus funcionários para que não recorram mais ao Vita. Que procurem atendimento médico oferecido por outras instituições hospitalares credenciadas à empresa, como o Hospital da Unimed e o Hinja, em Volta Redonda; a Casa de Saúde Santa Maria e a Santa Casa, ambos em Barra Mansa; ou os hospitais de Resende: Samer e Unimed. A gerência de Recursos Humanos da INB ainda disponibilizou os seguintes telefones para esclarecimento de dúvidas: (24) 3321-8835 / 8833 / 8630 / 8996.
A INB Resende conta com 1.372 funcionários e a pressão em cima deles não foi bem digerida em Volta Redonda. “Em termos numéricos, nada vai mudar. Mas foi uma atitude precoce da INB porque não há neste momento sentença judicial definitiva. Ela (INB) deveria ser mais cautelosa. Rescisão contratual, só depois da sentença….”, avaliou um dos médicos do Corpo Clínico do Hospital Vita, que pediu que seu nome ficasse no anonimato.
Essa semana, os médicos que formam o Corpo Clínico do Vita se reuniram com representantes da CSN em uma reunião em São Paulo. E pediram autorização para continuar atendendo aos pacientes, sem restrições, sem precisar descredenciar nenhum plano de saúde ou empresas, até para não comprometer a qualidade do atendimento no hospital. Segundo o aQui apurou, a CSN teria considerado que a “administração plena pelo Corpo Clínico seria algo muito distante e arriscado” e prometeu se empenhar para que os integrantes do Vita e do Centro Médico, anexo ao hospital, sejam aproveitados pelo grupo que fechar negócio com a Siderúrgica.
Uma fonte do aQui, pedindo anonimato, contou que a CSN tem total conhecimento da situação financeira e da importância do funcionamento do hospital. “Ela sabe do impacto social que a interrupção do funcionamento traria para a cidade de Volta Redonda e região. Ela quer evitar isto”, contou, acrescentando que a CSN teria deixado bem claro que não quer a reintegração do imóvel do hospital para deixá-lo em desuso, como tantos outros imóveis que a empresa tem na cidade do aço. “Esses imóveis (fechados) distorcem a imagem da empresa e um possível fechamento do hospital pioraria essa situação”, pontuou.
Segundo a fonte, os representantes da CSN teriam se surpreendido ao saber que os médicos do Corpo Clínico não tinham qualquer conhecimento da inadimplência do Vita. “Nos era passado que o Vita depositava o valor (do aluguel) em juízo. Não tínhamos nenhum conhecimento nem compactuamos com a inadimplência”, contou um deles, lembrando que a maioria dos médicos que atendem no Vita faz parte de empresas terceirizadas que pagam ao Grupo Vita até hoje uma parte do seu faturamento. Os médicos, segundo a fonte do jornal, não sabiam que estes valores pagos ao Vita não eram repassados à CSN.
BOMBA
Muito bem recepcionados pela CSN – inclusive pelo alto escalão da empresa –, os médicos do Vita teriam ficado impressionados quando representantes do jurídico da Siderúrgica disseram que o passivo do Vita é milionário. “Ficou bem claro para todos que o problema em assumir a gestão não é tão simples assim e que a bomba tributária, financeira e de passivos é muito maior do que se imagina”, disse a fonte, sem citar valores, mas a informação a que se tem conhecimento é que o Grupo Citrino Investimentos, que administra os negócios do Vita em Volta Redonda, teria enviado uma grande quantia em dinheiro (R$ 43 milhões) para paraísos fiscais. Atualmente, a dívida do Vita para com a CSN está, diz a fonte, em torno de R$ 58 milhões.
Sobre a proposta do Corpo Clínico, a fonte lembra que a CSN vê com bons olhos a tentativa dos médicos de manterem o hospital em funcionamento, porém, considera que a hipótese mais provável é que o “Corpo Clínico mantenha seu trabalho até a entrada do novo Gestor”, inclusive colocando no hospital pessoal administrativo escolhido por eles.
Vice-presidente do Vita aposta em solução com a CSNOs moradores do Sul Fluminense não vão ficar desassistidos. Quem garante é o vice-presidente do Grupo Vita, Francisco Balestrin. “O Grupo Vita e a CSN vão encontrar um caminho que não prejudique a população”, disparou, reatando, entretanto, que a falta de um entendimento com a CSN sobre o aluguel do imóvel tornou-se uma barreira para a sustentabilidade da administração do hospital. “Fizemos tudo que estava ao nosso alcance para chegar a um consenso. E continuaremos juntos com a CSN para encontrar uma alternativa favorável para a cidade. A CSN está entendendo que não podemos deixar a população desassistida”, informou Balestrin.
A questão, lembra, ainda está na Justiça, aguardando julgamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que deverá julgar recurso contra a decisão judicial que acolheu o pedido de despejo formulado pela CSN. Os atendimentos aos pacientes estão sendo acompanhados por representante do juízo e há garantia do Grupo Vita de que não sofrerá qualquer interrupção repentina.
Por sinal, o vice-presidente do Grupo Vita faz questão de ratificar que o hospital, mesmo que sob outra administração, manterá as suas atividades. São 65 anos, desde a sua inauguração em 1953, no Dia do Trabalhador, com o nome Hospital da Companhia Siderúrgica Nacional, de funcionamento ininterrupto. A unidade foi adquirida pela atual administração em 2000, quando, então, também mudou para o nome que permanece até hoje.
“Nós sabemos que a população está aflita em relação ao que vai acontecer. Até porque o hospital, sob a administração do Grupo Vita, tornou-se uma referência em atendimento para toda a Região Sul Fluminense. Além disso, os contínuos investimentos em infraestrutura, tecnologia e qualificação o transformaram referência de qualidade no Brasil”, destacou Balestrin.
O hospital foi responsável por trazer para a região procedimentos de alta complexidade, como, por exemplo, endoscopias de vias biliares – colangiografia retrógrada, pancreatografia, papilotomia transendoscópicas, entre outros. Os números comprovam como a unidade é uma referência para a população do Sul Fluminense. São 7.800 internações por ano e 4.880 cirurgias, além de 144 mil atendimentos ambulatoriais. Balestrin ainda lembra que o Hospital Vita foi o primeiro no estado do Rio e o quinto de todo o país a alcançar a Acreditação em Nível 3. As acreditações são certificados que atestam que a unidade segue padrões de qualidade reconhecidos internacionalmente. Em 2006, o Hospital Vita Volta Redonda foi Acreditado no Nível de Excelência pela ONA-Organização Nacional de Acreditação, Certificado renovado até setembro de 2019.
“O que queremos é que o hospital continue desenvolvendo as suas atividades e atendendo a população com a mesma excelência que o marcou, sempre, o Grupo Vita que esteve à frente da administração”, acentuou Balestrin.
Hospital Vita em números
- 14 municípios atendidos num raio de quase 150 quilômetros
- 126 leitos operacionais
- 7.800 internações por ano
- 4.800 cirurgias por ano
- 96 mil atendimentos em Pronto Atendimento por ano
- 144 mil atendimentos ambulatoriais por ano
- 450 empregos diretos
- 250 empregos indiretos
- 300 Médicos credenciados
- 55 Contratos com Operadoras de Saúde
- 162 Contratos com Médicos para uso de espaço (Centro Médico)