Por Mateus Gusmão
A briga – que quase terminou nos tapas – entre Sidney Dinho e Rodrigo Nós do Povo na sessão de terça, 16, foi o prato preferido dos políticos de Volta Redonda durante os últimos dias. O vídeo do quiproquó, divulgado com exclusividade pelo aQui, foi compartilhado inclusive por outros meios de comunicação. Alguns deram o crédito ao jornal, outros não, o que é uma pena. Mostra que tanto o clima na Casa de Leis quanto na relação profissional dos jornalistas, está longe de ser harmonioso. E pode piorar.
Se Dinho e Nós do Povo não fossem separados pela turma do deixa-disso, o caso poderia ter sido trágico. É que ambos estariam armados. Dinho, por ser Policial Militar reformado e Rodrigo, por ser agente penal no estado de São Paulo. A confusão começou quando Dinho subiu à Tribuna e fez uma denúncia.
“Eu recebi uma ligação de uma pessoa desesperada porque estava com uma outra pessoa na casa dela dizendo que teria sido demitida do trabalho por causa de um suposto discurso que eu teria feito nesta Casa (na segunda)”, disse Dinho, revelando que um parlamentar, cujo nome não citou, estaria com uma equipe de seis pessoas contratadas pela secretaria de Ação Comunitária, fazendo serviço de capina e limpeza em seu reduto eleitoral.
Dinho disse que a pessoa que ligou para ele estaria acompanhada de dois rapazes: Bruno e Neno. “Os dois foram à casa dessa menina dizer que o vereador Rodrigo Ávila (o Nós do Povo) estava demitindo-os por justa causa, porque essa pessoa teria me enviado fotos e vídeos da turma dos seis que atuam no Vale Verde”, disse Dinho, dando a entender que os dois rapazes estariam atuando a favor de Nós do Povo.
“O que eu queria falar para o Rodrigo é o seguinte: eu já convivi com todo tipo de gente na minha vida. Mas mau-caráter igual a ele, eu nunca”, disparou, indo além. “Você é um cara mau-caráter e mentiroso”, completou, provocando a reação de Rodrigo Nós do Povo: “Idem”, retrucou, olhando em direção a Dinho. “Quero ver você falar isso comigo aí embaixo”, replicou Dinho, que desceu da Tribuna e sentou-se em sua cadeira no Plenário, separado do desafeto por apenas outros dois parlamentares: Paulinho AP e Renan Cury.
Como era de se esperar, Rodrigo rebateu as acusações. “Ontem o vereador Sidney relatou sobre esse grupo de capina, que é comandado pelo irmão do Temponi (líder do governo Neto), e não pela nossa equipe”, ponderou, tentando mostrar que Dinho estaria mal-informado. “Mau- caráter é uma informante (do vereador Dinho) chamada Paola, que não tem o que fazer, não tem uma roupa pra lavar, e fica passando informação”, ironizou, referindo-se ao trabalho da equipe de capina da Smac. “Quem é mau-caráter? Eu ou a Paola? Porque você falou idem pra mim”, interpelou Dinho. “Vocês dois. Você também me chamou de mau-caráter”, respondeu Rodrigo.
Foi aí que o caldo entornou. Conrado, presidente da Câmara, desligou os microfones dos brigões, mas a discussão continuou e os dois chegaram a se levantar como se fossem partir para a briga. Só não aconteceu porque Rodrigo foi levado para longe. “Acabou essa palhaçada sua. Você lava sua boca pra falar de mim, seu mau-caráter. Moleque e mau- caráter”, acusou Dinho. “Aqui não tem cacique não, rapaz. Aqui ‘nós ‘volta de dois, aqui nós volta de dois’ (sic)”, retrucou Rodrigo, antes de sair da Câmara.
Vídeo constrangedor
A briga rendeu. E um vídeo foi postado por Rodrigo mostrando os funcionários que teriam sido demitidos a mando dele, conforme denúncia feita por Dinho. Visivelmente des- confortáveis, eles desmentiram tudo, garantindo que estariam trabalhando normalmente. “Agradeço ao Rodrigo pela oportunidade de trabalho e ao prefeito Neto”, disse um deles, deixando claro que Nós do Povo foi quem os indicou para trabalhar na prefeitura.
Em entrevistas, o vereador chegou a prometer que iria fazer um Registro de Ocorrência na 93a DP contra Dinho, por ameaça, e disse que a rixa entre eles é antiga, já dura seis anos. Até o fechamento desta edição, entretanto, o RO ainda não tinha sido apresentado por ele. Sidney Dinho, por sua vez, não comentou o assunto. Na sessão seguinte, quinta, 18, eles estiveram presentes na sessão da Câmara. Ficaram separados por uma boa distância.
“Me chama para a porrada”
Os ânimos também ficaram exaltados por uma discussão sobre transporte público, tema de uma audiência e que gerou um pedido de requerimento, feito por Raone Ferreira, para que a Casa criasse uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar
possíveis irregularidades no setor. Detalhe: quatro vereadores teriam retirado apoio à CPI e um deles, Edinilson Vampirinho, teve o nome exposto nas redes sociais como se fosse contra a comissão. “Os caras estão difamando quem não participou da audiência pública do transporte, quem tirou o nome da CPI. Eu não vim porque estava no hospital com a minha esposa. O vereador que está fazendo isso (vazando a informação) não tem caráter em expor o nome das pessoas que retiraram o nome (da CPI). Não precisa ganhar votos dessa forma”, disse, aborrecido e sem revelar o nome do vereador que o teria exposto.
“Fica aqui minha indignação. Os caras aproveitam – não sei quem fez – mas se continuar vou notificar a Polícia Federal para identificar quem está fazendo isso”, completou Vam- pirinho, aproveitando para chamar para a briga o parlamentar que o achincalhou. “Eu não sei quem foi, mas a pessoa sabe que fez. Quem fez isso é moleque, babaca. Me chama para a porrada lá fora, vamos para a porrada. É melhor do que fazer isso (expor na inter- net)”, completou Vampirinho. Outro que também fez acusações contra um colega de Parlamento foi Cacau da Padaria. Ele disse que um vereador (Raone Ferreira, grifo nosso) teria compartilhado nas redes sociais uma crítica feita por uma internauta a ele, Cacau. “Eu fico muito triste quando um colega vereador reposta nas suas redes sociais um comen- tário de uma pessoa que cita meu nome… Isso é uma falta de respeito com a gente. Levanto às quatro horas da manhã todo dia pra trabalhar, eu sou trabalhador”, desabafou.
“Aí você vê um comentário te citando, e o vereador compartilha. Falaram que o dinheiro fala mais alto pra mim? Puxa meu passado, sou um cara honesto, sou trabalhador. Agora um colega repostar isso pra ajudar a desonrar a (minha) imagem é falta de respeito. Eu acho uma sacanagem o cara repostar na sua rede social uma coisa dessa. Eu tenho 61 anos, não sou moleque”, completou Cacau da Padaria.
Raone entendeu o recado e procurou Cacau da Padaria para lhe dizer que a postagem teria sido feita por um assessor, sem o seu conhecimento. Resultado: Raone deixou a sessão por ficar, após o ocorrido, sem ‘condições emocionais’ de continuar na Casa.
O tema continuou rendendo. Vander Temponi disse que nenhum parlamentar deveria atacar o outro. “Nós precisamos ter mais consciência. Tem vereador postando coisa contra vereador. Raone fez audiência pública aqui e vi que depois foram expostos nomes de pessoas que retiraram a assinatura da CPI a meu pedido. Eu, como líder de governo, pedi para retirar e retiraram”, explicou Temponi.
Na sessão de terça, 18, Raone leu uma nota oficial pedindo desculpas a Cacau da Padaria. “Gostaria de me retratar publicamente pelo ocorrido e pedir desculpas ao vereador, seus familiares e eleitores por esse equívoco”, disse. “Cacau é um vereador honrado e eu manifesto minha admiração e carinho por ele”, completou Raone. Da plateia, surgiu o comentário de um dos presentes que reflete bem a situação na Casa. “É melhor parar de servir café durante as sessões e começar a servir chá de camomila. A coisa está feia”, ironizou. Está mesmo.