quinta-feira, março 28, 2024
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Ruído na comunicação

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Paolla Gilson

Que a gestão econômica do governo Temer tem deixado a desejar, não é novidade. Os números comprovam. Em junho, cerca de 1000 estabelecimentos comerciais fecharam as portas no Rio de Janeiro. Corresponde a 149% a mais em igual período do ano passado. Tem mais. Segundo o CDL carioca, no primeiro semestre de 2017, 4.154 estabelecimentos, de todos os portes, encerraram suas atividades, um número 76,2% superior em comparação ao mesmo período de 2016. O motivo é simples: queda das vendas. Em Volta Redonda, apesar da realidade não ser diferente, ninguém sabe os números da crise. O que se sabe é que muitas lojas estão fechadas, à venda ou por alugar.

 

Pode-se andar pelos bairros da periferia e, principalmente, pelas áreas comerciais para dar de cara com uma grande quantidade de imóveis fechados. De empresas que quebraram. De pequenas lojas de fundo de quintal que abrem e fecham em menos de 30 dias. Na Avenida Paulo de Frontin, por exemplo, a reportagem do aQui contabilizou 13 lojas com placas de ‘aluga-se’, cerca de oito fechadas e nenhuma à venda. Na Avenida Beira Rio o número de pequenas e médias indústrias fechadas deve ser superior. 

O desinteresse pela venda na Paulo de Frontin se justifica pela complexidade em encontrar compradores diante dos altos valores pedidos – fora da realidade, ressalte-se. Já os preços de imóveis para aluguel estariam em queda, dizem os especialistas. Um exemplo pode ser o de um posto de gasolina. “O dono do imóvel queria R$ 50 mil de aluguel do antigo inquilino. Este não concordou com o valor, alto demais, e em menos de 30 dias desocupou o imóvel”, avalia um empresário do setor.

 

“Os aluguéis, devido à crise, abaixaram de preço. Um apartamento de R$ 1.500,00 está sendo alugado por R$ 1.000,00. Uma loja que seria alugada por R$ 7.000,00, atualmente está sendo oferecida por R$ 4.500,00 ou R$ 5.000, 00. Quer dizer, houve uma queda, sim, de valores. Agora, o índice de aumento está sendo bem pequeno e isso está ajudando muito aqueles que precisam alugar uma loja”, avaliou Walmir Vítor, proprietário de uma das grandes imobiliárias da cidade do aço.

 

Entretanto, apesar da queda no preço dos aluguéis, muitos proprietários continuam sofrendo na pele os problemas da crise. É o caso de um voltarredondense, proprietário de uma loja no Aterrado, que procura quem queira alugar o imóvel há um bom tempo. Ocupado enquanto fazia várias ligações (tentativas), ele confirmou ao aQui a dificuldade, destacando que o alto valor do IPTU dos imóveis em Volta Redonda atrapalha as negociações.  

 

Após ouvir este desabafo, o corretor de imóveis Leandro Neto fez questão de citar alguns dos motivos que podem levar à aceitação ou recusa pelo aluguel de determinado local, ressaltando que a complexidade não é inerente a todos os casos.  “Nem todos os imóveis têm tanta dificuldade para alugar. O que define o aluguel de um imóvel é seu estado de conservação e valor adequado, condizente com sua localização”, afirmou, sentado na cadeira da imobiliária Lerikel, onde trabalha. O estabelecimento, inclusive, possui três imóveis comerciais para alugar na Paulo de Frontin.

Quebradeira

A dificuldade para conseguir qualquer tipo de informação sobre o ‘abre-fecha’ das lojas em Volta Redonda é tanta que, durante um mês, o aQui tentou descobrir a real situação do mercado e não conseguiu. Pior. Não parece ser uma coisa planejada. Muito pelo contrário. Seria puro desconhecimento de causa. Em todas as entidades procuradas – CDL, Aciap e Sicomércio –, a resposta recebida foi sempre a mesma: “Os cálculos estão sendo feitos”. Não estavam, tanto que, passadas quatro semanas, não foram enviados à redação do aQui.

 

Gerente executiva do Sicomércio, Rose Carvalho, depois de muita insistência, resumiu sua tese para a quebradeira na cidade do aço à queda do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) em relação a 2016 e à dificuldade enfrentada pelas empresas por conta da alta carga tributária e o pouco dinheiro circulando. Mas informação concreta que é bom, nada.

 

Deveria se espelhar em Aldo Gonçalves, presidente da CDL-Rio, que explicou que o quadro econômico do país tem afetado e muito o comportamento do consumidor, diminuindo sua disposição para a compra. “Neste momento de incertezas, a primeira atitude do consumidor é reduzir os gastos, entre eles com as compras. Com isso, o comércio lojista, já massacrado pelo peso da burocracia e da alta carga tributária, acaba sucumbindo e não encontra alternativa, a não ser o encerramento de sua atividade”, pontuou.

 

Rua de Compras

Primeiro foi em Volta Redonda. Depois, Barra Mansa, seguido de Resende, Angra dos Reis, Barra do Piraí etc. Só falta Rio Claro também aderir à mágica da ‘Rua de Compras’, bolada pelos marqueteiros de Samuca Silva para estimular os consumidores a gastar a pouca grana que sobra em presentes para as mães, pais, namorados. O próximo será para o Dia das Crianças e, certamente, será adotado por mais cidades para que seus moradores não sejam levados à tentação de passear e gastar em outros municípios.

 

Mas, desde que o primeiro foi criado – em maio deste ano –, a dúvida que resta e que ninguém responde é se o evento é mesmo um sucesso de vendas. Ou não passa de um domingo especial quando todos – sem ter o que fazer – vão para as ruas levando esposa, filhos, sogra, cães e papagaios. Gastam o que têm e o que não têm (usando cartões) para beber e comer. E, caso ache algo muito barato, barato mesmo, comprar um presente para aquele a quem ama.

 

Quem acha que a Rua de Compras é um ‘achado comercial’ é o especialista em marketing e gestão estratégica de negócios, Alexis Aragão. Veja o que ele diz. “O projeto tem sido uma ótima ocasião para incentivar a economia da cidade. Grande parte dos consumidores deixa as compras para a última hora. Assim, a estratégia de realizar um evento que reúne oportunidades de compra por meio de descontos e promoções, aliado a entretenimento e lazer, tudo em um único dia, além de movimentar o comércio local, pode ser a saída para muitos lojistas que precisam colocar o estoque para fora. Especificamente quando é realizado perto de datas comemorativas, como o dia das mães e o dia dos pais”, posicionou-se.

 

Há quem pense diferente. Bem diferente. Pedindo que seu nome não seja divulgado por ter contatos (contratos) com o Palácio 17 de Julho, um empresário diz que já participou de dois eventos do ‘Rua de Compras’. “Essa tática de atrair os consumidores a gastar tudo em apenas um dia, um domingo, não é uma boa estratégia. No primeiro evento, vendi mais de R$ 50 mil. Nos seis dias seguintes – segunda, terça etc –, não vendi nada. Acabei tendo prejuízo, pois fui obrigado a pagar horas extras para os meus funcionários trabalharem no domingo. Sem o Rua de Compras, ia vender o mesmo nos dias seguintes, sem ter despesas extras”, contabilizou. “Só é bom pra encher as ruas de gente, a passeio. E para algumas empresas que não pagam aluguel e taxas cobradas pela prefeitura”, pontuou.

 

Por falar nisso, apesar de não estarmos às vésperas de nenhuma data ‘festiva’, como a do ‘Dia das Crianças’ em outubro, a quarta edição do projeto Rua de Compras em Volta Redonda será amanhã, 10, desta vez na Vila. Além do comércio aberto, o evento também vai oferecer, das 10 às 18 horas, atividades culturais e esportivas, food trucks, exposições e brinquedos para as crianças. Será um bom teste para descobrir se os consumidores vão gastar seus poucos trocados só por gastar.       

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