Pollyanna Xavier
Há duas certezas nas negociações para a renovação do acordo coletivo dos trabalhadores da CSN: a primeira é que os operários sofreram forte influência da oposição sindical, saíram prejudicados, já poderiam ter recebido os salários com reajuste e quase ficaram sem acordo. Isto porque, quando apresentou a sua última proposta, a CSN avisou que, se houvesse rejeição, a pauta poderia parar na Justiça do Trabalho. O problema é que o dissídio coletivo, embora garantisse o reajuste pelo INPC, acabaria com todos os créditos e valores extras oferecidos. Mesmo com essa realidade, houve rejeição.
A segunda certeza é que a oposição sindical, com o apoio do Conlutas, usou a campanha salarial como palco político de olho nas eleições do Sindicato dos Metalúrgicos. Foi assim em Volta Redonda e em Minas. Por aqui, levaram os trabalhadores a promover paralisações e passeatas de protestos. A conta, porém, foi altíssima: os sindicalistas da oposição levaram a culpa por cerca de 200 demissões.
O que o grupo de Edimar&Tarcísio não esperava era que as votações em Minas Gerais – idênticas às da UPV e GalvaSud – fossem aprovadas com tanta facilidade. Foram bem expressivas, o que queimou o filme do Conlutas. Depois da derrota, decidiram mobilizar os operários de Volta Redonda a rejeitarem qualquer oferta que não desse menos que aumento geral pelo INPC, cartão-alimentação de R$ 800 e reintegração dos demitidos. “Ou tem nova proposta ou temos de preparar a greve. Basta de humilhação da empresa e traição do sindicato”, ameaçou a comissão, em vídeo que circulou pelo Telegram e WhatsApp.
A estratégia de Edimar&Tarcísio provocou a reação do apático Sindicato dos Metalúrgicos. E, como presidente, Silvio Campos deu uma resposta malcriada aos membros da Comissão dos Trabalhadores, que oficialmente não existe mais, a quem chamou de “radicais de garganta”. “Colocaram o rabo entre as pernas e nem foram tão radicais, não defenderam greve nenhuma”, disparou, indo além. “Aqui o Discurso do Conlutas/CTB/ PCdoB (Edimar, Tarcísio e outros radicais de garganta) foi de reprovar as propostas da CSN. Em Congonhas, o radical Conlutas pelegou. (….) O discurso foi que votassem conforme sua consciência”, diz um trecho do boletim, onde Silvio cita a tentativa de a oposição frustrar a campanha salarial dos trabalhadores da CSN Congonhas (MG).
Mais adiante na publicação, o tom permaneceu ácido. “Aqui em Volta Redonda fizeram um discurso radical, nos chamaram de pelegos, propuseram que o caminho era a greve, levaram os trabalhadores da CSN ao desespero, são os responsáveis pelas demissões. Disseram que iam até Brasília para que o Ministério Público convocasse a greve. Tudo lorota!”, publicou.
Alvo de Silvio Campos, Edimar e Tarcísio são os cabeças da oposição sindical. Mas, curiosamente, o advogado que sonha em assumir o Jurídico do Sindicato dos Metalúrgicos não faz parte da chapa 2. Questionado sobre a ausência do nome de Tarcísio na composição da Chapa 2 e se ele responderia pelo Jurídico do Sindicato, caso a chapa saia vitoriosa nas eleições, Edimar não respondeu ao jornal.
Aliás, desde a semana passada, o aQui tenta falar com Edimar sobre o processo eleitoral do Sindicato. Da primeira vez, ele disse que seu grupo ficou chateado porque o jornal publicou que as cabeças das chapas adversárias querem a cabeça de Silvio Campos. Claramente não entendeu o sentido figurado da expressão. Essa semana, novamente procurado, Edimar disse que daria entrevista ao aQui e um questionário com 20 perguntas lhe foi entregue com um prazo para as respostas. Ao final do prazo (que chegou a ser prorrogado), educadamente Edimar pediu para deixar a entrevista para a semana que vem, porque sua equipe de comunicação anda muito atarefada com as movimentações próprias das eleições e, por isso, não conseguiu responder às perguntas. O pedido foi aceito, mas ele perdeu mais uma vez a oportunidade de defender suas ideias e seu grupo dos ataques do Sindicato dos Metalúrgicos.
CSN reinicia conversas e votação acontece na quarta
Ontem, sexta, 10, Silvio Campos e Leonardo Abreu, diretor de RH da CSN, se reuniram para tratar da questão do acordo coletivo. O detalhe é que a empresa não mudou nada a sua oferta. Manteve a proposta de 12% de reajuste para quem ganha até R$ 5 mil, 10% para quem ganha acima deste valor, os créditos extras no cartão-alimentação, o abono de 1,9 salário (referente a 70% do target) e demais benefícios.
Pelo que ficou decidido, o sindicato vai reapresentar a proposta aos operários da CSN em votação na Praça Juarez Antunes, na quarta que vem, dia 15, véspera de feriado. Se passar, os pagamentos e créditos serão feitos até o dia 24, podendo ocorrer uma antecipação. Segundo Leonardo, a reapresentação da proposta foi um pedido feito pelos próprios trabalhadores, que enviaram à demanda através de líderes e supervisores de áreas.
Outro detalhe acertado na reunião foi quanto ao plano de saúde. A CSN se comprometeu a criar comitês para discutir melhorias na alimentação e no plano de saúde oferecido. Segundo o próprio Silvio Campos, são recorrentes as reclamações da qualidade da alimentação servida no interior da UPV e também os serviços prestados na cobertura do plano de saúde – que, após a mudança de Saúde Bradesco para Liv, descredenciou vários médicos, prejudicando pacientes em tratamento.
O curioso é que na quinta, 9, a oposição sindical já sabia do encontro de Silvio e Leonardo e foi para o Telegram para incentivar os operários a votarem ‘não’ à proposta da empresa. “A CSN vai vir com a mesma proposta. Eu peço encarecidamente a todos os irmãos de luta, aqueles que entendem esse movimento, que agora é hora de mais uma vez nós colocarmos o não na urna (…) A empresa não tem a capacidade de colocar a proposta de PLR boa (…) . A empresa junto com o Sindicato não teve a coragem de colocar a questão da reintegração dos trabalhadores (demitidos)”, disse Thales de Oliveira Ribeiro, um dos demitidos da CSN, em áudio postado.
Thales continua. “Eu venho em nome da Comissão, dizer para os senhores e para as senhoras que nós vamos muito além dessa eleição, (vamos) tomar esse sindicato e construir a esperança que o trabalhador espera na comissão e que nós esperamos de vocês na rejeição dessa proposta”, concluiu, provando, claramente, que o acordo coletivo da CSN é o palanque principal que a oposição subiu para tentar vencer as eleições do Sindicato. A proposta aprovada pelos operários de Congonhas, onde a oposição é maioria, prova isso.
Processo eleitoral entra na fase das impugnações
Tirando as disputas das três chapas que concorrem às eleições do Sindicato dos Metalúrgicos e as farpas que elas trocam entre si, o processo eleitoral conduzido pela Comissão própria segue sem intercorrências. Ontem, sexta, 10, venceu o prazo para análise dos pedidos de impugnação, pendências e possíveis irregularidades contidas na documentação apresentada. Segundo o aQui apurou, somente as chapas 1 e 2 entraram com pedidos de impugnação “Não pedimos porque entendemos que quem deve possuir o poder de impugnar é o trabalhador, que vai dar o seu voto na chapa que ele confia”, defendeu Vitor Júnior, cabeça da Chapa 3.
Na segunda que vem, dia 13, inicia-se um novo prazo, desta vez para que as chapas apresentem suas defesas em relação às pendências surgidas. No dia 24, elas deverão apresentar os substitutos dos nomes impugnados e somente no dia 28 de junho é que a Comissão Eleitoral irá publicar a relação oficial das três chapas. Até lá, muita coisa pode mudar. Outro detalhe, que tem tudo para atrasar todos esses prazos, é a confirmação das composições junto às empresas da base do Sindicato. É que a Comissão enviou um ofício às empresas solicitando a lista dos funcionários para verificar se os participantes do pleito são metalúrgicos e, mesmo com a cobrança em cima do documento, nem todas deram retorno.
Procurados para falar sobre as impugnações, os três candidatos – Edimar, Vitor e Jovelino – disseram que aguardam a manifestação da Comissão, coisa que só deve acontecer na próxima semana.