Está marcada para segunda, 19, a votação da proposta da CSN para a renovação do acordo coletivo dos trabalhadores da UPV. A votação acontece 49 dias depois da data-base (1° de maio) e há quase três meses da elaboração da pauta. Será a primeira da atual diretoria comandada por Edimar & Tarcísio e os operários terão que decidir se aceitam, ou não, um reajuste progressivo de 3% ou 4,5%, o dobro de crédito no cartão alimentação, um abono financeiro de 1,53 salário e outros benefícios, como reajuste no auxílio creche e um abono em forma de crédito no cartão, exclusivo em junho, no valor de R$ 900.
A proposta é a mesma já aprovada em outras unidades da CSN com negociações concluídas, com altos percentuais de aceitação. Só que em Volta Redonda, o Sindicato dos Metalúrgicos, de oposição à CSN, depois de insistir em uma negociação única, envolvendo outros sindicatos, inclusive de Minas Gerais, com propostas de reajuste salarial de 22%, entre outras, agora prefere que o trabalhador da UPV rejeite a proposta apresentada pela empresa. “A briga da pauta única foi tolice do Edimar. Mais uma vez, ele ficou sozinho. O Duda, do Metabase de Minas Gerais foi cuidar dos interesses de lá. O Edimar perdeu tempo com isso e deixou os trabalhadores acreditando na aprovação de uma pauta única. Todo mundo sabia que ia dar errado”, avaliou uma fonte. Tanto deu que a pauta única sumiu dos discursos e Edimar Miguel passou a usar o lema “cartão alimentação não paga plano de saúde” para dizer que a oferta da CSN colocada na mesa estaria muito aquém da pedida do Sindicato – que exigia, além do aumento salarial de 22%, que a PLR passasse a ser calculada sobre o Ebitda Ajustado e ainda a volta do Saúde Bradesco. Em vídeos, o sindicalista chega a cair em contradição ao declarar que o reajuste no cartão alimentação estava bom. Depois volta atrás, chama a proposta de “migalha” e conclama que o trabalhador a rejeite.
O esforço de Edimar para que a proposta seja rejeitada, pode virar fumaça. Pior. Pode terminar em dissídio. “Os trabalhadores da CSN não vão rejeitar (a proposta). Mas, se isso ocorrer, será o dissídio. E a Justiça do Trabalho não costuma dar mais do que o INPC”, avalia uma fonte do aQui com trânsito no meio sindical. Ela vai além. “O sindicato estava fazendo política. Para se promover, Edimar estava fazendo propostas absurdas e não contribuiu para o bom desenlace do processo. Foi a CSN que formulou uma boa proposta, principalmente para aqueles que ganham menos. Ficou claro isso”, pondera a fonte, pedindo anonimato.
Ela está certa. É que o trabalhador da Usina Presidente Vargas está ansioso pela conclusão do ACT, que já se arrasta há quase três meses, e pode aprovar a proposta da CSN, já aceita em várias outras plantas da siderúrgica. Em resposta a Edimar, alguns operários usaram as próprias postagens do sindicalista para questionarem o porquê de a proposta da CSN não ter sido rejeitada ainda na mesa, se o que a empresa oferecia não passava de uma ‘migalha’. “(Edimar) Poderia ter recusado e não ter deixado ir para votação”, reclamou uma internauta. “Tanto blábláblá desse sindicato pra no final aceitar a proposta da CSN e deixar ir pra votação”, emendou outra.
A indignação dos trabalhadores vai além. “Vota não e aí atrasa ainda mais. Sabemos que a CSN não vai melhorar mais nada, aí vem com a mesma proposta que foi recusada e passa. Ou seja, o Sindicato só atrasa nosso lado”, reclamou um metalúrgico na postagem do Sindicato. “Eleição marcada para segunda feira aqui na UPV e irá passar, pois esse sindicato não tem força nenhuma!”, escreveu outro. “Sindicato não era pra ter deixado ir para votação. Era pra ter recusado na mesa. Ele deixou ir e sabe muito bem que o peão vai aceitar. Estão acostumados com migalhas”, comentou outro metalúrgico. “(…) Sindicato tá com raiva da empresa, prejudica a peaozada”, desabafou outro trabalhador.
Em boletins distribuídos no interior da UPV, o Sindicato pede a reabertura do Recreio do Trabalhador (fechado na pandemia) e do Posto de Puericultura (fechado há mais de 15 anos) e, dentre outros pedidos, insiste no reajuste de 20 a 22%. Há ainda pedidos excêntricos, como um vale cultura no valor de R$ 150 para cada trabalhador, a concessão de um prêmio aniversário, que consiste numa folga no dia do aniversário e
ainda o compromisso da CSN de fazer suas compras somente no comércio de Volta Redonda, priorizando a economia local. Isto significa que materiais de consumo utilizados por ela, não poderão ser adquiridos em outras cidades ou regiões, como Rio ou São Paulo.
Em entrevista ao radialista Ilder Alves, na Rádio Vibe 89.3, no final da manhã de quinta, 15, Edimar Miguel voltou a falar do Plano de Saúde e ressaltou que nas demais unidades da CSN o convênio médico continua sendo o Saúde Bradesco, com atendimento nacional. E que somente em Volta Redonda tem a LIV Saúde, com atendimento local. “Nós queremos mudar isto. Ninguém trabalha sem saúde”, ressaltou, mesmo estando ciente que dificilmente Benjamin Steinbruch vai mexer no plano de Saúde. “Não vejo chances no momento. Há um contrato (da CSN) com a LIV e não pode ser rompido. Mas eles podem e devem melhorar”, comentou a fonte do aQui, referindo-se à LIV Saúde.
Aliás, disposto a cutucar o presidente da CSN, o que não ajuda em nada no relacionamento do Sindicato com a empresa, Edimar Miguel, em entrevista a Ilder Alves chega a questionar a religião de Benjamin Steinbruch e a relação dela com os trabalhadores da UPV. “Não sei se a religião judaica é desta forma, ele quer o melhor pra ele e o pior pra nós. Não pode ser assim”, comentou, sem necessidade de associar uma coisa à outra.
Votação e GalvaSud
– A proposta da CSN será votada na segunda, 19, das 6 às 18 horas, na Praça Juarez Antunes, em escrutínio secreto com cédula de papel e com as opções Sim ou Não. Espera-se uma aprovação expressiva, a exemplo do que ocorreu nas demais unidades do grupo CSN, onde o SIM foi escolhido por 4.930 trabalhadores, de um total de 5.731votantes, indicando 86% de aprovação. (CSN Cimentos UPV e Arcos, Mineração Sintec e Metabase).
O percentual poderia ser maior, se a conta incluísse os votos dos trabalhadores da CSN Porto Real (antiga GalvaSud), cuja votação está sub judice. É que o Sindicato dos Metalúrgicos não aceitou que as negociações fossem conduzidas pela Federação dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas. O que Edimar esqueceu é que o Sindicato não tem abrangência de base legal para negociar em Porto Real e quando isto acontece, os interesses dos operários são defendidos pela Federação. Em Porto Real, a proposta da CSN foi aceita por 93% dos trabalhadores.
A suspensão, claro, não agradou aos metalúrgicos de Porto Real que teceram críticas ao Sindicato nas redes sociais. “Vergonhoso é vocês ficarem nessa picuinha, enquanto os trabalhadores ficam esperando. Já tá em meados de junho e nada de acordo”, publicou um operário. “Eu concordo, não trabalho nessa empresa, trabalho na empresa vizinha e esse sindicato só tá atrapalhando. Não desenrola nada e a gente precisando. Nunca passamos por isso, não tem competência, mete o pé”, publicou outro.
O impasse na Galva- Sud foi parar na 2a Vara do Trabalho de Resende e o juiz Gilberto Garcia da Silva decidiu suspender, temporariamente, a assembleia de aprovação da proposta até o julgamento do mérito. Na próxima quarta, 21, será realizada uma audiência de instrução com a presença de representantes do Sindicato, da Federação e do Ministério Público do Trabalho para solucionar o problema. Enquanto isto, os trabalhadores da CSN Porto Real, que já poderiam ter recebidos os benefícios aprovados na assembleia, terão que esperar a decisão da Justiça, ou a boa vontade do Sindicato de reconhecer a legalidade da votação e liberar o ACT de Porto Real.
Nota da redação: A direção da CSN e da LIV Saúde foram procuradas pela reportagem do aQui para se posicionarem diante da postura dos dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos. A CSN preferiu não se manifestar e a LIV Saúde respondeu ao jornal, mas fugiu das perguntas enviadas. Questionada como avalia ter se tornado vilã da história nas mãos do grupo liderado por Edimar & Tarcísio, a LIV se limitou em dizer que oferece “um cuidado personalizado”, por meio “de uma equipe altamente qualificada”. Contou possuir 11 linhas de cuidado, lideradas por médicos especialistas e enfermeiras que acompanham de perto os pacientes crônicos e citou ainda que os usuários do plano contam com a tecnologia para marcação de consultas e autorização de exames e procedimentos. Concluiu reafirmando o “compromisso em cuidar da população sul fluminense” e que trabalha para que o metalúrgico e sua família recebam o cuidado integral”.

