Por Luiz Vieira
Hoje, a tarefa mais difícil para um jornalista que mora no interior é escrever matérias, polêmicas ou não, baseadas em informações dos prefeitos do Sul Fluminense. A maioria é despreparada para o trato com a imprensa. Acha que tudo se resume em enviar releases para os jornais, muitas vezes com erros ou informações incompletas. Tem prefeito que nem responde às mensagens de WhatsApp.Seus secretários e assessores, então, deveriam – antes de aceitar o cargo – fazer um curso de como atender a reportagem dos jornais. Ignoram as demandas feitas. Em alguns casos, pisam na bola. Desprezam prazos, fingem que não receberam perguntas.
Desconhecem a importância dos jornais não para eles, mas para os próprios prefeitos. Preferem ficar publicando baboseiras, bem provincianas, em suas redes sociais. Alguns casos para ilustrar: os prefeitos de Rio Claro e Pinheiral, e a prefeita de Barra do Piraí, foram procurados pelo aQui para que respondessem – podiam escrever o que quisessem – sobre seus primeiros 100 dias de governo, completados no último dia 10 de abril. Fizeram pouco caso e não se deram ao trabalho até hoje. Ou talvez por não terem o que dizer.
Já em alguns casos, era melhor que as demandas não fossem atendidas. Foi o que aconteceu em Barra Mansa, quando o aQui procurou o prefeito Luiz Furlani para que este falasse sobre o polêmico Distrito Industrial do município, que é quase tão velho quanto a polêmica obra do Pátio de Manobras. O terreno, por exemplo, foi desapropriado em 2015 pelo ex-governador Luiz Fernando Pezão. No local, funcionava uma metalúrgica paulista, a Edimetal. A reportagem sairia na edição do dia 12 de abril, e as perguntas foram enviadas a Furlani no dia 9 de abril. Não foram respondidas. No dia 14 de abril, quando o aQui insistiu para que o prefeito se posicionasse a respeito, ele passou a tarefa a Bruno Paciello, presidente da Companhia de Desenvolvimento. Antes não o fizesse, tamanho pouco caso que o último demonstrou, alegando estar atarefado. As respostas foram secas, curtas e grossas. Sem valor jornalístico, é bom que se diga.
Uma das perguntas envolvia a empresa ‘Duo Vale’. O aQui simplesmente queria descobrir o que ela pretende desenvolver no Condomínio Industrial de Barra Mansa, qual o tamanho da área que teria adquirido, quanto teria pagado e quantos empregos realmente pode gerar. Vejam a resposta enviada ao aQui: “A Duo Valle vai realizar a operação logística multimodal do Parque Industrial”. Interessante, não é? A demanda envolvia também a empresa ‘Run Time’. E o aQui fez as seguintes perguntas, que o release oficial não revelou. “De onde vem? Qual a especialidade? Quantos empregos vai gerar? Qual o tamanho da área que comprou? Por quanto?”.
Mais uma vez, as respostas deixaram a desejar. “Uma empresa natural de Barra Mansa que está suprimida onde ocupa e precisa de espaço para expansão. Vai gerar 530 empregos diretos e outros indiretos”, respondeu Bruno Paciello, sem dizer a área que a empresa vai ocupar e, obviamente, quanto pagou aos cofres públicos. Em outubro de 2023, por exemplo, o ex- prefeito Rodrigo Drable chegou a anunciar ao aQui que o m2 seria vendido por R$ 2 mil.
Algumas perguntas ficaram sem respostas, outras foram respondidas de forma imprecisa. Vale registrar que a promessa, segundo o porta-voz de Furlani, é de que elas iniciem as suas atividades no primeiro semestre de 2026. Resumindo: o prefeito Luiz Furlani perdeu um bom espaço para mostrar aos barra-mansenses que o Distrito Industrial de Barra Mansa pode, enfim, sair do papel. Não basta enviar release aos jornais dizendo que as duas empresas citadas acima vão gerar 1.500 empregos e ponto-final. Não é por aí. Tem que mostrar, pelo menos aos leitores do aQui, como isso deverá ocorrer, quando vai sair do papel, quanto os cofres públicos receberam pelas áreas supostamente vendidas e para quem foram vendidas.
Afinal, uma das empresas, como o aQui já mostrou, a Duo Valle, foi criada oficialmente no dia 8 de abril, no bairro de Pombal, e com um capital registrado de R$ 100 mil. Tem tudo para ser uma grande empresa no futuro e, certamente, poderá ajudar Furlani no desenvolvimento do Condomínio Industrial de Barra Mansa, que, quando nasceu, era conhecido apenas como área da Edimetal, própria para a criação de bodes por ser uma área montanhosa, de difícil acesso.