Pollyanna Xavier
A capa da edição 1088 (ver reprodução) do aQui não agradou a muita gente. O prefeito Samuca Silva, por exemplo, chiou, embora a reportagem – o despejo do Hospital Vita – não tivesse nada a ver com a sua gestão. Diretores da CSN também reclamaram do foco como se a siderúrgica fosse a única responsável pelo caos que ameaça a saúde das pessoas que vivem em Volta Redonda e ainda nas cidades vizinhas, chegando até a afetar moradores da Costa Verde. Sim, muitas pessoas de Angra dos Reis procuram atendimento com os médicos especialistas da cidade do aço.
Ao invés de reclamar do jornal, deveriam se preocupar em ajudar a resolver o caso de forma bem rápida. “Pra ontem”, dizem os envolvidos. Hoje, quem vê o Hospital Vita em pleno funcionamento, apesar de toda a pendenga judicial entre o grupo e a CSN, não imagina que a engrenagem que o mantém ativo é movimentada por uma “corrente” de 19 empresas diferentes. São as terceirizadas que atuam há anos no Vita nos mais diversos tipos de serviços, desde prestadoras de serviços médicos até na limpeza da unidade.
A atuação destas empresas terceirizadas é tão importante que, nas negociações para a venda do Hospital Vita incluindo o imóvel do Laranjal, que pertence à CSN, seria um grande erro ignorá-las. Tem mais. A empresa que vier a se instalar no lugar do Vita pode encontrar muitas dificuldades se não mantiver os contratos já existentes.
Essa semana, o aQui foi atrás dos responsáveis por estas empresas terceirizadas. A intenção era saber quem eles são, o que fazem, quantos empregam, de onde são, e quanto pagam (de aluguel) ao Vita para atuarem dentro do Hospital. O resultado foi surpreendente: existem 13 empresas constituídas por médicos e seis por não médicos. Detalhe: todas são de Volta Redonda, com exceção de uma. As empresas médicas realizam dois tipos de serviços: um especializado, que são executados pelos laboratórios, banco de sangue e serviços de endoscopia; e outro de serviço médico propriamente dito, que é executado nas UTIs e Pronto Socorro. As de não médicos são as prestadoras de serviços de segurança, alimentação, nutrição, manutenção de equipamentos, manutenção civil, esterilização e lavanderia.
Durante a apuração, o aQui verificou que, apesar de o Grupo Vita ser o responsável pela gestão do hospital, o que se vê, na prática, é que o funcionamento geral da unidade é feito por estas 19 empresas que atuam lá dentro. “Sem elas, não existiria o hospital”, resumiu uma fonte que pediu anonimato. Segundo ela, todas as terceiras empregam uma média de 200 funcionários e a maior delas é a de nutrição, que terceiriza a alimentação dos empregados e pacientes do Vita. “A Nutrir é a maior empresa que está dentro do Vita hoje”, disse.
Estas empresas, lembra, repassam mensalmente ao Vita um percentual de seu faturamento ou de sua produção. Os valores são diversos, justamente porque depende de cada empresa e do serviço que ela presta. E, pasmem, o Vita não estaria repassando nenhum centavo dos valores que recebe à CSN. Ou seja, “sabia como a pendenga iria terminar”, dispara.
Ela vai além. Diz que as empresas, apesar de estarem no hospital executando os mais diversos tipos de serviço, não teriam sido chamadas, em nenhum momento, quando a direção da CSN decidiu encerrar as negociações com o Vita, iniciando o processo de venda ou aluguel do seu imóvel a outras redes do meio médico. “Infelizmente, se a CSN rescindir o contrato com o Vita (o que, de fato, deve acontecer) todas elas (as 19 empresas, grifo nosso) terão que sair de cena”, contou a fonte.
Preocupada com o possível caos – sim, no sentido de desordem, como previu a capa do aQui –, a fonte explicou que a situação contratual das empresas terceirizadas precisa ser levada em conta na crise instalada entre o Vita e a CSN. Isto porque os contratos até podem ser rescindidos com aviso por uma das partes com até 30 dias de antecedência, caso haja um despejo. Porém, “as circunstâncias podem estimular demandas judiciais contra o Grupo Vita de São Paulo, por quebra imprevista de contrato antes do prazo de vigência”, avalia a fonte.
Para ela, as demandas judiciais aconteceriam, especialmente, por conta dos muitos prejuízos às empresas terceirizadas. Prejuízos trabalhistas, financeiros, operacionais e sociais.
Emergência
Ainda de acordo com a fonte, até o atendimento no setor de emergência do ainda Hospital Vita corre o risco de acabar. Ou de ficar suspenso por um período, caso a empresa que assumir o Hospital opte por não renovar o contrato com as empresas médicas que realizam o serviço de atendimento no Pronto Socorro e na UTI. “Em caso de despejo e fechamento do Hospital, o setor de Pronto Atendimento (clínico, cirúrgico, pediátrico, ginecológico-obstetrício e ortopédico) também fecha. Não haveria mais os cerca de nove mil atendimentos mensais que existem hoje”, calcula.
Centro Médico
A situação do Centro Médico do Vita, pontua a fonte, é muito semelhante a do hospital. É que o CM também corre o risco de ter seu atendimento paralisado, dependendo das negociações da CSN com as empresas interessadas em assumir o ‘negócio Vita’. No CM, o atendimento também é feito por empresas terceirizadas formadas por médicos. “O Centro Médico é parte importante na alimentação de serviços do hospital, como também do seguimento dos pacientes após atendimento no hospital. A gente espera que ele continue a funcionar”, comentou.
A fonte acredita que se o CM parar haverá uma correria, sem precedentes (o caos, grifo nosso), para os consultórios médicos particulares, comprometendo a qualidade no atendimento. “Em média, o Centro Médico atende 12 mil consultas por mês em 43 especialidades médicas diferentes. Caso seja fechado haverá uma demanda enorme para os consultórios com evidente estrangulamento de agendas e perda total da integração assistencial entre o Centro Médico e o Hospital”, analisou.
Outro detalhe importante sobre as terceiras que atuam no Hospital Vita é que em nenhuma delas, ou mesmo na equipe clínica do hospital, há a presença de executivos do Grupo Vita São Paulo. Na verdade, nunca teve. O Grupo paulista, segundo verificou o aQui, mantém apenas o nome e o contrato de concessão com a CSN, porque, na prática, toda a gestão do hospital é realizada, há anos, pela equipe executiva local. “A única questão que não envolve o Corpo Clínico é a ação judicial entre a CSN e o Vita São Paulo; de resto, é o Corpo Clínico que mantém a engrenagem”, concluiu a fonte.