Alguém em sã consciência acredita em almoço grátis? Tem certeza da inocência de Lula, Dilma, Temer, Cunha, Cabral e tantos outros? E, tratando do que ocorre na cidade do aço, acredita em passagem a custo zero? As respostas, até prova em contrário, são negativas. Todas, sem exceção. Mas que todos os voltarredondenses se preparem para serem bombardeados pelas redes sociais a acreditar que vão andar de graça no novo projeto do prefeito Samuca Silva, batizado de Tarifa Comercial Zero.
A experiência, que deveria ser implantada no dia 18 do mês passado, terá início a partir de segunda, 9, quando um ônibus elétrico, chique demais, e que custa R$ 1,2 milhão, passará a circular pela Vila, Aterrado e Retiro. Em nota aos jornais, Samuca diz que o objetivo é facilitar o transporte (gratuito) de moradores das periferias até os centros comerciais para gastar seu rico dinheirinho. “A ideia é aquecer a economia, levando os consumidores aos principais centros comerciais da cidade, sem interferir nas linhas convencionais”, disparou o prefeito, sem explicar como o itinerário, por enquanto bastante restrito – só ligando os centros comerciais -, sem passar pelos bairros afastados, vai contribuir para isso.
O veículo elétrico – a prefeitura pretende comprar três unidades por cerca de R$ 4 milhões que sairão dos cofres municipais – é o primeiro a rodar em terras fluminenses. Detalhe: com conforto. “O veículo terá ar condicionado, internet Wi-Fi e ligações USB para recarregar celulares. É isso que nossos moradores merecem”, comemora Samuca, sem revelar quem vai pagar a conta do luxo oferecido graciosamente. Há quem garanta, por exemplo, que os empresários do setor, que acompanham tudo da janela dos seus veículos convencionais, vão concordar em perder passageiros sem exigir um aumento proporcional na passagem.
Outro detalhe importante é que se a rota do ‘ônibus elétrico’, que pode ser considerado um pirata, como as vans eram em passado recente, ligar realmente os bairros da periferia aos centros comerciais, poderá, como em um efeito cascata, provocar uma quebradeira de pequenos lojistas. Até hoje, ninguém os procurou para perguntar o que acham da iniciativa. Os grandes empresários da Vila, Aterrado, Retiro devem estar soltando fogos de artifício, sonhando que o projeto Tarifa Comercial Zero dê certo. Já os donos de mercadinhos e negócios de fundo de quintal, certamente, passarão a ter pesadelos.
Mas se, ainda assim, o leitor quiser testar um ônibus de R$ 1,2 milhão é só entrar – e ‘de graça’ -, embarcar e desembarcar nos seguintes pontos por onde o ‘pirata’ vai passar: serão seis: Rua C, na Vila Santa Cecília; Rua Campos, no bairro Retiro; avenidas Lucas Evangelista e Paulo de Frontin, no Aterrado e ruas Gustavo Lira e Eduardo Junqueira, no Centro.
Detalhe: o ônibus deixará a garagem no Aterrado pela manhã e seguirá, vazio, até o ponto no Retiro, nas proximidades da Casa Olga. Só então, os passageiros poderão embarcar rumo aos grandes centros comerciais. Descer no meio do caminho, nem pensar! “Não serão utilizados os pontos existentes. Esse ônibus da Tarifa Comercial Zero vai utilizar pontos exclusivos, que já demarcamos, inclusive, com horários diferenciados”, frisou o secretário de Transporte e Mobilidade Urbana, Wellington Silva.
Ah, para os mais espertos que esperavam usar o ‘pirata comercial’ para ir trabalhar de graça podem se frustrar, mesmo aqueles que trabalham dentro da rota. Segundo palavras do próprio secretário de Mobilidade Urbana, só poderá usufruir do ônibus quem estiver literalmente a passeio. “É importante que as pessoas entendam que esse ônibus não servirá para pessoas que tenham compromisso com horário. Atenderá pessoas que querem circular entre esses pontos comerciais”, explicou.