Paolla Gilson
A novela da construção da Rodovia do Contorno, que já dura cerca de 20 anos (foi iniciada na gestão Baltazar), parece se aproximar do penúltimo capítulo. Nesse sentido, alguns estão aproveitando o cenário para buscar espaço como protagonista da trama. O prefeito Samuca Silva, o secretário estadual de Obras, José Iran, e os deputados estaduais Edson Albertassi e Gotardo Netto são alguns deles e compareceram na manhã de segunda, 25, no trevo do Santo Agostinho, para assistir o reinício das obras de conclusão da tão aguardada Rodovia do Contorno. Mas será que ela sai mesmo?
“Tem tudo para ser concluída, sim!”, calcula o deputado estadual Edson Albertassi (PMDB). “Só não sai esse ano se São Pedro não deixar”, brinca, referindo-se à possibilidade das chuvas atrasarem o andamento das obras. Mas o parlamentar, que foi quem viabilizou a retomada das obras graças às verbas que obteve para o DER (Departamento Estadual de Rodagem), aposta que em, no máximo, dois meses, com a ajuda de São Pedro, o último capítulo, o da inauguração da rodovia, será transmitido ao vivo e a cores. “Vamos entregar a Rodovia do Contorno para a cidade, pois este é um sonho que vamos concretizar”, pontuou.
O secretário de Obras, o voltarredondense José Iran, fez coro à previsão de Albertassi. “Temos apenas 6% de obras a realizar, boa parte voltada para limpeza, sinalização vertical e horizontal de pelo menos 10 quilômetros de um total de 13 quilômetros e alguma pavimentação (apenas 800 metros)”, explicou, ressaltando o papel da Assembleia Legislativa para o retorno das obras. “Esta retomada tem uma importância muito grande da Alerj, através do deputado Albertassi”, justificou, aproveitando para lembrar que a conclusão da Contorno faz parte de uma agenda positiva definida pelo governador Luiz Fernando Pezão.
Em julho, como foi noticiado com exclusividade pelo aQui, o governo Pezão liberou R$ 7 milhões para a finalização da obra e R$ 6 milhões para quitar as dívidas para com a Acciona, responsável pela conclusão da rodovia, que faz parte da BR-393, administrada por ela. Os recursos alocados por Albertassi para o DER são provenientes da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), que é uma verba específica para investimentos em construção de novas estradas ou manutenção de estradas já existentes.
Samuca, que há 20 anos soltava pipa no trevo do Santo Agostinho, também poderá se tornar um dos principais protagonistas dos capítulos finais da novela, já que, durante sua gestão, a tão sonhada obra poderá ser finalmente entregue. Com um sorriso de orelha a orelha, o chefe do Executivo conversou com as autoridades presentes, tirou fotos, deu longas entrevistas e gravou vários vídeos para serem divulgados nas redes sociais. “Estou muito feliz de participar deste momento”, declarou.
Samuca aproveitou para destacar o apoio da prefeitura na limpeza da área ao longo da via. “Desde cedo, mesmo não estando previsto no contrato com o DER, já estávamos na rodovia com uma grande estrutura para retirar lixo e entulhos acumulados ao longo desse tempo de obras paradas. Uma ação para não gerar novos atrasos. Todo nosso empenho está à disposição para que, em 60 dias, como afirmou o próprio estado, essa tão importante obra esteja concluída”, justificou.
Samuca também revelou que o trecho urbano entre os bairros Santo Agostinho e Conforto será municipalizado após a entrega da Rodovia do Contorno à Acciona (leia-se governo Federal) para que não haja preocupações com relação à falta de manutenção. Quando isso ocorrer, quem for utilizar a Contorno ficará sabendo se a concessionária irá ou não criar um posto de pedágio (previsto no edital de privatização da BR 393) a caminho da Via Dutra passando por Volta Redonda. Representantes da Acciona, entrevistados pelo aQui, fugiram do assunto, alegando que não tinham autonomia para falar em nome da empresa.
Desconfiado
Apesar do clima otimista entre todos, o deputado estadual Gotardo Netto deu uma de “desacreditado”. Tanto que, assim que chegou e Albertassi foi cumprimentá-lo, o ex-prefeito brincou questionando-o, como um dos protagonistas, se a obra iria mesmo ser concluída. “Estamos participando e espero que esta seja a última etapa desse processo. Estou sendo bem franco. Todos os processos e questões que existiam foram sanados e a expectativa é mesmo o cumprimento deste prazo de 60 a 90 dias, no máximo, para entregar essa obra para a população da nossa região”, ponderou.
A desconfiança de Gotardo tem fundamento. Afinal, a inauguração da rodovia já foi prometida muitas vezes. Há quem diga, por exemplo, que o ex-prefeito Paulo Baltazar chegou a fazer, por volta de 1976, a inauguração da Contorno – na verdade, de um trecho de 100 metros que foi asfaltado durante a sua gestão. “Quando fui prefeito, havia um projeto executivo da obra. Na época, nós desenvolvemos o processo executivo, mas a obra tinha embargos. Primeiro por conta de prestação de contas junto ao Tribunal de Contas da União. Havia embargo no Ibama, no Inea e ainda um processo muito pesado no Ministério Público Federal por conta do não cumprimento de algumas questões”, revelou Gotardo, referindo-se a processos movidos, entre outros, pelo próprio ex-prefeito Baltazar, por Maurinho Campos (hoje assessor de Samuca) e Mauro Coelho, da Associação de Moradores do Vila Rica, de oposição ao ex-prefeito Neto.