Vinicius de Oliveira
Embora os vereadores de Volta Redonda aleguem que não estão fazendo politicagem em cima do despejo do Vita, o juiz Roberto Henrique dos Reis – responsável pelas decisões envolvendo o litígio – percebeu que a comunidade política viu, sim, uma possibilidade e tanto de pegar carona no imbróglio. Para o magistrado, os políticos se mostraram bastante “ávidos por abiscoitar apoio popular, defendendo interesse social”, por isto mesmo resolveu antecipar a audiência especial, inicialmente marcada para o dia 16, no cartório da 4ª Vara Cível, para as 14 horas de ontem, sexta, 11. Em decisão recente, o juiz demonstrou interesse em abreviar as discussões políticas em cima de um assunto judicializado.
A política, aliás, ficou bem clara na noite de quinta, 7, numa sessão especial realizada na Câmara de Vereadores para tratar do conturbado despejo do hospital. A reunião foi pedida pelo Corpo Clínico do Vita, cujos médicos temem tanto pelo fechamento do hospital quanto por seus próprios empregos. Preocupados com os rumos que o assunto vem tomando na cidade do aço, os médicos não queriam passar atestado de ‘politiqueiros’. Alguns acabaram passando.
Antes do encontro na Câmara, representantes do Corpo Clínico chegaram a aventar que não queriam que políticos se envolvessem na questão. Mas não teve jeito. Tudo começou quando o deputado federal Deley de Oliveira (PTB) levou para Brasília a questão, apresentando um pedido de se criar uma comissão para acompanhar os desdobramentos do processo. O fato despertou a atenção dos vereadores de Volta Redonda, que convidaram funcionários para participarem da tal sessão especial.
Em uma rápida entrevista ao aQui, Deley defendeu a politização do caso. “É um fato político justamente por envolver a população. Eu não vejo problema de trazer o assunto para a Câmara e, assim, ajudar a resolver”, defendeu, frisando que tem esperanças de que a CSN abra um canal de diálogo. “Acredito que a empresa vai, sim, manter o diálogo para chegar numa solução que beneficie a todos. Chega de ver a empresa fechando tudo”, disparou.
O presidente da Câmara, Washington Granato, deu início à sessão explicando que a questão envolvendo o Vita e a CSN é de interesse público, porque o tema foi levado para apreciação na Casa. “Embora o Hospital Vita pertença à iniciativa privada, essa questão envolve os munícipes. Fechar o hospital pode prejudicar a população do Sul Fluminense inteiro. Precisamos ver uma forma de resolver a questão”, avaliou.
Pedindo proteção
Eduardo Sampaio, representante do Corpo Clínico do Vita, foi convidado para compor a mesa da presidência da sessão. Quase que recitando um poema, o médico leu uma carta aberta, endereçada, segundo ele, à população de Volta Redonda pedindo apoio na jornada contra o fechamento do Vita. “Em Volta Redonda dois hospitais particulares já foram fechados, mas nenhum da forma como estão fazendo com o Vita. Os outros hospitais pararam suas atividades de forma gradativa. Com o Vita, querem acabar com tudo de uma vez, colocando todos para fora como se despejassem de um simples apartamento um inquilino inadimplente”, apelou.
Ainda de acordo com Sampaio, os hospitais públicos de Volta Redonda e a Unimed-VR não terão condições de absorver os pacientes do Vita caso este feche as portas definitivamente. “São mais de 700 internados, mais de 300 consultas de pronto socorro e mais de mil cirurgias cardíacas feitas pelo SUS. Fechar um hospital dessa grandeza gerará impactos sociais profundos em Volta Redonda, pois os outros hospitais não terão como absorver toda a demanda. Sem contar os empregos. Cerca de 500 pessoas serão demitidas, além das 200 terceirizadas que perderão seus empregos. Por isso, viemos pedir a proteção dos vereadores”, continuou.
Na avaliação de Sampaio, ninguém do Corpo Clínico teria tido conhecimento de que o grupo Vita não estaria pagando os aluguéis para a CSN. “Não tínhamos conhecimento do processo de despejo. Nunca fomos convidados para participar de nenhuma reunião para tratar esse assunto. Mas hoje sabemos que a relação entre o Vita e a CSN se desgastou. Mas isso não pode significar o fechamento do hospital. É preciso que mude os gestores”, sugeriu o médico, insistindo na possibilidade de que o próprio Corpo Clínico administre o hospital até que um novo gestor apareça.
O advogado da CSN, Fernando Cardoso, presente à sessão, deu uma boa e uma má notícia ao mesmo tempo. Disse que a empresa não tem a intenção de fechar o hospital, mas que isso pode acontecer, sim, caso não se faça um acordo que a beneficie. Além disso, em seu discurso, Cardoso detalhou todos os capítulos da novela que virou o caso Vita.
“Quando o Vita assumiu o hospital da Companhia, que era administrado até então pela Fugemss (hoje Fundação CSN), o grupo fez um contrato com a CSN em modo de comodato, ou seja, não pagou nada pelos equipamentos nem pelo prédio. Depois que a Fugemss deixou de existir, a Fundação CSN fez um acordo com o Vita (grupo de São Paulo, grifo nosso) e lhe deu 10 anos para pagar os equipamentos. Esse acordo terminou em 2010, ano que teriam de começar a pagar pelo aluguel do prédio. Desde então, o Vita não efetuou os pagamentos, gerando essa conturbada história”, explicou o advogado.
“É claro que a CSN não tem a intenção de fechar o hospital, pois está ciente do impacto social que pode gerar em Volta Redonda. Mas a CSN é uma empresa e tem obrigações a cumprir; tem, ainda, acionistas para os quais deve satisfações. Sendo assim, não pode abrir mão do aluguel. Por isso, o fechamento do hospital não é impossível. Mas não é essa a ideia da companhia”, frisou Fernando Cardoso.
O advogado lembrou ainda que o grupo Vita subloca o prédio. “E esses sublocatários pagam rigorosamente em dia seus aluguéis e todo o dinheiro fica represado na holding (do Vita). Isso nos faz crer, com toda a certeza, que existe uma receita sadia. Então não há motivos para o grupo Vita não pagar o aluguel”, avaliou Fernando.
Todos os vereadores comentaram o caso. E foi também unanimidade entre eles que o Corpo Clínico do Vita faz um trabalho de excelência. Alguns, como Sidney Dinho, foram além. O vereador criticou a ausência do grupo Vita na sessão especial. “Eu repudio os gestores por não aparecerem. Desde que soubemos do caso, acompanhamos a história. Todo mundo nos recebeu, menos o Vita”, reclamou.
Tirando os discursos de ocasião, elogiando os médicos, criticando o Vita e enaltecendo a CSN por “abrir o diálogo”, nenhum parlamentar fez propostas realmente concretas. Na verdade, pouco ou nada poderiam fazer. A única ideia prática que surgiu foi a proposta de realizar uma audiência pública sobre a questão. Não marcaram a data mas, querendo ou não, a iniciativa deu algum resultado. Como já mencionado na abertura da matéria, o juiz que cuida do litígio resolveu antecipar a audiência especial: ao invés do dia 16, o magistrado resolveu reunir os interessados no processo na tarde de ontem, dia 11 (ver matéria na página 4).