Pollyanna Xavier
A folia acabou. A última movimentação do processo por locação de imóvel/inadimplemento que a CSN move contra o Grupo Vita, sinaliza para um possível pagamento. A informação, porém, não foi confirmada pela CSN, muito menos pelo Vita. Ambos preferem manter-se em silêncio. De acordo com o processo eletrônico, disponível no site do Tribunal de Justiça, um depósito referente ao pagamento de aluguel pelo uso do imóvel onde está instalado o hospital Vita teria sido realizado no último dia 8 de fevereiro. O valor, porém, não foi informado. Vale lembrar que, como o aQui mostrou, a CSN estaria cobrando cerca de R$ 30 milhões de aluguéis não pagos, devidamente corrigidos.
Há cerca de 15 dias, o Grupo Vita sofreu um revés na Justiça, na ação movida pela CSN que cobra o pagamento de aluguéis atrasados e atuais, do prédio do hospital. Na ocasião, o juízo da 4ª Vara Cível deu um ultimato ao Grupo Vita, determinando que o mesmo retomasse o pagamento do aluguel ou desocupasse o prédio e o devolvesse à CSN. O prazo para o cumprimento da decisão se esgotaria logo após o Carnaval. O Vita até tentou buscar uma alternativa junto ao Tribunal de Justiça, mas os desembargadores da 8ª Câmara Cível do TJ negaram, por unanimidade, o provimento do recurso apresentado pelo Vita.
Há cerca de um ano, os desembargadores do TJ já tinham decidido que o hospital não poderia sofrer despejo, por conta do impacto social que a decisão acarretaria. Por conta disto, a CSN e o Grupo Vita tiveram que chegar a um consenso quanto ao valor do aluguel. Na época, o próprio Vita concordou com a quantia mensal – que deveria ser depositada em juízo – de R$ 350 mil. Alguns pagamentos chegaram a ser realizados, mas num determinado momento, o Vita parou com os depósitos. No final de janeiro, esta inadimplência foi constatada pela Justiça, o que levou o juiz a tomar a decisão de pressionar o Vita a pagar a dívida com a CSN ou devolver o imóvel.
Na semana passada, o aQui tentou falar com o presidente do Grupo Vita-São Paulo, Edson dos Santos, mas ele não foi encontrado para comentar o assunto. Na ocasião, o diretor médico do hospital, Rônel Mascarenhas, também foi procurado, mas não pôde acrescentar muita informação. Esta semana, porém, Rônel falou a respeito. De forma muito clara e prática, o médico disse que, “embora o grupo gestor local não administre a relação do Grupo Vita-São Paulo com a CSN, a direção médica busca, em paralelo às forças sociais, políticas, empresariais e ainda junto às autoridades municipais, enfatizar que, seja qual for o caminho e os desfechos jurídicos, o Hospital Vita não pode ser fechado”.
E justifica: “Mensalmente são 12 mil consultas no Centro Médico, 9 mil atendimentos no Pronto Socorro, 400 cirurgias e 800 internações”. Ainda segundo Rônel Mascarenhas, as equipes médicas que atuam no Hospital não são jovens, mas formadas por profissionais experientes, “que reúnem um patrimônio científico e uma expertise em especialidades que não tem similar na região”. Rônel lembrou também que, além da excelente, equipe de profissionais médicos que atuam no Vita, o hospital é retaguarda para o acidente de trabalho na Usina Presidente Vargas – “inclusive com experiência histórica em grandes sinistros”, destacou.
Para o médico, que dirige o Hospital Vita Volta Redonda há alguns anos, uma possível venda da unidade jamais pode ser descartada. “Venda? Seria absolutamente natural. Todo negócio privado sempre está à venda…”, disse. Segundo o aQui apurou e publicou em sua última edição, existem duas grandes redes hospitalares interessadas em comprar o Hospital Vita. Uma delas seria a conceituada rede D’Or – com presença marcante no Rio de Janeiro. A outra seria o grupo Leforte – originário da fusão dos hospitais Bandeirantes e Leforte. O aQui descobriu que, em janeiro deste ano, este grupo enviou sua equipe de especialistas para conhecer o Hospital Vita em Volta Redonda e que a visita sucedeu às negociações de venda do hospital.
Um dos dois grupos, segundo uma fonte do aQui, estaria procurando apoio do presidente da CSN, Benjamin Steinbruch. “A CSN está pressionando, meio que indiretamente, o grupo Vita São Paulo a se desfazer do negócio em Volta Redonda”, pontuou, negando-se a revelar se a preferência seria dada ao grupo D’Or.
Para o diretor médico do Vita, Rônel Mascarenhas, independentemente de o Vita ser vendido ou não, o mais importante é que o hospital permaneça aberto e funcionando. “Fechar um hospital da estrutura do Vita, hoje, é colocar na rua 500 empregados diretos e outros 200 indiretos. Isto sem contar os médicos, cujo trabalho gera uma cascata econômica de consumo e emprego de outras pessoas – algo próximo de R$ 1 milhão todos os meses”, pontua. “Os gastos com compras na região também seriam prejudicados, uma vez que este cálculo também beira a casa do R$ 1 milhão”, destaca.
Ainda de acordo com Rônel, “o grupo gestor local não possui executivos de fora e mantém a operação normal apesar desta crise”. “O único interesse do grupo neste momento é que o hospital prossiga funcionando”, ressaltou, acrescentando que “os empregados do Hospital, os pacientes e a população da cidade não podem ser penalizados pela incapacidade do Grupo Vita em manter um relacionamento institucional adequado com a CSN”.
Por outro lado, analisa que a CSN deve “separar as coisas e não trazer o caos e o sofrimento a quem não tem nada a ver com o seu conflito com o Grupo Vita”. Para o médico, “quem tem poder protege, não destrói!”, concluiu. Ele está certo.
Entenda
O imbróglio envolvendo a CSN e o Hospital Vita é antigo. Em 2000, a siderúrgica cedeu ao Grupo Vita, por comodato gratuito de 10 anos, os imóveis onde funcionam (hoje) o Hospital e o Centro Médico (antigo Hotel das Enfermeiras). A gratuidade terminou no ano de 2010 e a partir daquele ano o Vita deveria passar a pagar um aluguel mensal à CSN, ou então devolver os imóveis. Nem uma coisa nem outra aconteceu. Depois de quatro anos tentando um acordo com o grupo Vita, a CSN acionou a Justiça para tentar receber os aluguéis atrasados. A primeira decisão, proferida em novembro de 2014 pelo juiz Alexandre Custódio Pontual, foi o despejo. O Vita recorreu e segue utilizando o imóvel da CSN. Resta saber por quanto tempo mais.
Tem mais. O Centro Médico, que é empresa independente do Hospital Vita, tendo CNPJ próprio, está em dia com os pagamentos dos aluguéis que faz conforme contrato firmado com o grupo Vita.