Para muitos, a política é uma arte. E para a maioria dos políticos de Volta Redonda e região, o ex-prefeito Neto seria um artista. ‘O melhor de todos’, gabam-se seus aliados. Entre os argumentos usados para endeusá-lo, o que chama mais a atenção é que o atual assessor do governador Pezão saberia montar, por exemplo, nominatas dos partidos às vésperas das eleições. Prova é que, na maioria das vezes, sempre acertou o nome dos eleitos tanto para a Câmara de Vereadores quanto para a Alerj e Câmara Federal.
Seu único fracasso ao longo dos últimos anos comandando o Palácio 17 de Julho teria sido, no passado, a candidatura de Carlos Macedo, seu ex-secretário de Administração, conhecido como ‘o poste’, à Assembleia Legislativa. E, recentemente, ter assumido a candidatura de América Tereza (MDB) contra Samuca Silva (ex-PV, hoje no Podemos), que se transformou no inimigo número 1 a ser vencido em 2018 e 2020.
A fama de Neto pode ir pro brejo. É que seus aliados, que não são necessariamente do seu grupo íntimo de poder, estariam revoltados com o lançamento do nome de Munir Francisco, seu irmão e ex-secretário de Ação Social das prefeituras de Volta Redonda e Angra dos Reis. “O Neto lançou o Munir e desagradou a uma penca de aliados e ex-aliados que sonhavam em ter o ser apoio nas eleições de outubro”, analisou uma fonte do aQui.
Ela tem tudo para estar certa. É que, segundo a mesma, o ex-prefeito teria prometido subir no palanque de muitos pré-candidatos à Assembleia Legislativa, inclusive de cidades vizinhas, como Barra Mansa e Angra dos Reis. Motivo: alavancar a candidatura à reeleição de Deley de Oliveira (PTB). “Sem a máquina do Palácio 17 de Julho, o Neto saiu compondo com os prefeitos vizinhos, pedindo apoio para o Deley. Tudo ia bem. Só que ao lançar o Munir, o Rodrigo Drable e o Fernando Jordão, que já tinham seus candidatos, podem deixar de apoiar ostensivamente o seu candidato (Deley)”, frisa a fonte, pedindo para não ser identificada.
Um dos insatisfeitos, que não esconde que ficou decepcionado com o lançamento do nome de Munir (que se filiou ao PTB) para a Alerj, é o vereador Dinho (Patriota, ex-PEN). Embora tenha destacado sua admiração e respeito pelo ex-prefeito, que o ajudou a se eleger como vereador em 2016, Dinho contava com o poder de Neto para se eleger para a Alerj. “Ele me ajudou (a se eleger) e eu sempre o ajudei”, pontuou Dinho. “Ele me disse que não lançaria o Munir. Eu não esperava isso. Fiquei surpreso”, disparou.
Na entrevista exclusiva ao aQui, Dinho desmentiu a informação de que iria desistir de sua pré-candidatura em favor de Munir. “Sou um sujeito obstinado. Sou pré-candidato a deputado e não vou apoiar ninguém”, disse. “Nem o Deley?”, indagou o repórter. “O meu partido tem ótimos candidatos à Câmara; o deputado Walney Rocha, por exemplo, que é presidente estadual do Patriota, vai buscar sua reeleição para a Câmara. Ele merece todo o nosso apoio”, disse, mostrando saber ser irônico. “A análise é sua”, completou Dinho ao ser indagado se o recado tinha endereço.
Dinho só não quis abordar o boato de que Neto teria lhe cooptado a apoiar Munir com uma promessa bem polêmica. De que seria o indicado do grupo do ex-prefeito a sair como candidato a vice-prefeito do próprio Neto – ou quem este indicasse – nas eleições de 2020. “Só quero falar das eleições de 2018”, disparou, para prometer uma coisa: “Ganhando ou não para a Alerj, tenho planos para as eleições de 2020, e eles não passam por sair de candidato a vice”, afirmou Dinho, o que para um bom entendedor basta, não é mesmo?
Barra Mansa
Na cidade comandada por Rodrigo Drable (MDB), todos esperavam que o apoio do prefeito a Deley fosse incontestável. Tinha tudo para ser, tanto que Rose Vilela, ex-secretária de esporte do governo Neto, foi comandar a pasta em Barra Mansa. Só que o prefeito teria – e tem – outros planos para a Alerj, que não passam por Munir. Ele chegou, inclusive, a reunir mais de 10 presidentes de partidos aliados para fechar em torno da pré-candidatura do atual presidente da Câmara, vereador Marcelo Cabeleireiro. “Ele tem tudo para representar Barra Mansa”, avaliou Rodrigo, que era cabo eleitoral de Edson Albertassi e Eduardo Cunha, dois políticos que não devem se candidatar nas eleições de outubro para a Alerj e para a Câmara, respectivamente.
Procurado para falar sobre o apoio a Munir, o prefeito Rodrigo Drable limitou-se a dar apenas uma declaração, curta e grossa: “Ninguém me pediu apoio”, disparou, referindo-se ao ex-prefeito Neto. “Barra Mansa terá candidatura própria a Estadual. Está na hora de voltarmos a ter representatividade na Alerj”, justificou.
Angra dos Reis
Na cidade praiana, comandada por Fernando Jordão, ex-deputado federal pelo MDB, a situação pode ser pior. Na prefeitura local, no mandato do atual prefeito, vários ex-secretários do governo Neto estão trabalhando desde que deixaram o Palácio 17 de Julho. Munir, por exemplo, comandava a secretaria de Ação Social. Cuidava dos velhinhos de Angra como cuidou do pessoal da Terceira Idade em Volta Redonda. A ida dos voltarredondenses tinha motivo extraoficial: todos trabalhariam para ajudar Jordão e abrir campo para a atuação de Deley.
Fernando Jordão, por sua vez, teria apoio de Neto & Cia para lançar um dos seus para a Alerj. Mais precisamente a sua mulher. Agora com o nome de Munir correndo por dentro, o apoio certamente não será dividido entre eles. Deve ficar tudo em família.
Volta Redonda
Na cidade do aço, além de Dinho, pré-candidato a estadual pelo Patriota, outros políticos contavam com o apoio do ex-prefeito Neto. É o caso de Nelsinho, que já foi concorrente, amigo e aliado do Palácio 17 de Julho. Procurado, foi econômico nas palavras. “Não contava com isso”, avaliou. O vereador Fernando Martins (MDB, do grupo de Albertassi e Pezão) também sonhava em ter o ex-prefeito Neto ao seu lado em um palanque, evangélico ou não. Vai ter que rezar pra chegar lá.
Por falar em reza, o católico vereador Jari, que herdou o apoio que Neto dava a Paiva, seu ex-vice-prefeito, muito ligado à Cúria Diocesana, também estaria sonhando em subir um degrau na política. Vai ter que abortar o plano. Pelo menos, por enquanto, pois o grupo de Neto vai mesmo é de Munir.
A dupla Munir e Deley conta com o apoio de Neto e torce para todas as arestas com os aliados e ex-aliados sejam aparadas até as eleições. Já os seus adversários vão trabalhar para que a estratégia do ex-prefeito Neto não dê resultados, como aconteceu na candidatura de Carlos Macedo, ‘o poste’. A eleição de Munir e Samuquinha, por exemplo, vingando ou não, vai ditar os rumos para as eleições de 2020.