sábado, setembro 7, 2024
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Massacre eleitoral

Contrariando os Institutos de Pesquisas que apostavam em uma virada de Eduardo Paes (DEM), o juiz federal aposentado Wilson Witzel (PSC) venceu fácil a eleição no segundo turno para o governo do Rio. Os números não deixam dúvidas: Witzel obteve 4.675.355 (59,87%) dos votos válidos contra 3.134.400 (40,13%) de Paes. Obteve cerca de 1 milhão e 500 mil votos a mais do que o ex-prefeito do Rio de Janeiro. Witzel, novato na política, venceu em 89 dos 92 municípios do estado. No Sul Fluminense, onde já tinha se dado bem no primeiro turno, tendo vencido em todas as cidades, a votação do governador eleito no segundo turno foi impressionante. ‘Pra ninguém esquecer’, comentou o ex-prefeito Gotardo Neto, um dos poucos políticos da região que saíram fortalecido com a vitória ‘do amigo Witzel’. 

 

Gotardo, para quem não sabe, trabalhou duro – ele e o jovem Tiago Martins (ex-AAP-VR) para convencer os eleitores que o juiz Wilson Witzel, que ninguém nunca tinha ouvido falar, era o melhor candidato na eleição para o governo do Rio. Tudo começou no dia 24 de março. “Os únicos que apostaram no Wilson, desde o início, foram o Gotardo e o Tiago. Eles receberam o Wilson, em Volta Redonda, no dia 24 de março, para uma reunião no Clube dos Funcionários. O Gotardo não pôde ‘aparecer’ nas fotos por questões partidárias, mas ele (Gotardo) esteve no início, desde o primeiro momento da campanha”, detalha um dos presentes na Pet, dos Funcionários. 

 

A aposta dos dois deu certo. Em Volta Redonda, o juiz Wilson Witzel obteve 96.965 votos contra 44.053 dados a Paes, que tinha o apoio do grupo do ex-prefeito Neto e até do prefeito Samuca Silva. Em Barra Mansa, onde contava com o apoio ostensivo do prefeito Rodrigo Drable, Eduardo Paes fracassou. Só conseguiu 22.919 votos; Witzel, por sua vez, arrancou quase 60 mil votos: 59.855 para ser exato. “Foi uma vitória do Witzel e uma derrota do Rodrigo (Drable)”, analisou um político barramansense. “O novo governador obteve dois em cada três votos na região”, dispara. Ele está certo (ver boxes – cidade por cidade – espalhados pela reportagem).

 

Mas há quem não entenda assim. Não são muitos, mas existem. “Essa eleição foi totalmente atípica! A classe política apoiou o (Eduardo) Paes, pois a maioria dos deputados estava com ele também! O juiz (Wilson Witzel) era um nome desconhecido, mas usou muito bem a onda Bolsonaro e a mudança!”, pontuou. “A vitória do Juiz foi exclusiva dele, pois o povo queria mudar”, disparou.

 

No entendimento desta fonte, que não é ligada a Volta Redonda e Barra Mansa, o apoio do ex-prefeito Gotardo não teria tido tanta influência na votação do juiz Wilson Witzel. “(O apoio) Não somou muito em Volta Redonda e na região, pois o mesmo está afastado da política. Ele (Gotardo) apostou no Juiz, pois sabia que não teria muito espaço com o Paes”, ponderou. “O delegado (Antônio Furtado) apostou no Bolsonaro e no Juiz, pois sabia que esse modelo iria ajudar na eleição deles. O delegado foi o grande vencedor!”, disparou, certo de que daqui em diante tudo poderá mudar. “Tenho certeza que, após assumir o governo, o Witzel irá se reunir com os prefeitos para tentar uma aproximação”, crê.

 Lava-Jato 

Para muitos dos políticos ouvidos pelo aQui (a maioria pediu anonimato), a derrota de Eduardo Paes tem nome e sobrenome: “Perdeu por conta do MDB de Cabral”, sentenciou um deles. “O declínio político do prefeito de Barra Mansa (Rodrigo Drable) está ligado ao do partido no estado, atingido pela Lava-Jato, e que tem como principal símbolo a prisão de seus caciques. Enquanto o ex-governador Sérgio Cabral cumpre pena em Bangu 8, os deputados estaduais Jorge Picciani, Albertassi e Paulo Melo, que tinham forte influência na Alerj, continuam presos em Benfica”, analisa, indo além: “Os três foram presos em função da Operação Cadeia Velha, desdobramento da Lava-Jato no estado. Eles são acusados de ter beneficiado empresas de ônibus com leis e incentivos fiscais em troca de propina”, acrescenta.

 

A fonte, que circula no meio político de Barra Mansa, entende que o antigo PMDB sepultou as chances de Eduardo Paes, que chegou a mudar de partido para se filiar ao DEM. “Da antiga turma do PMDB, apenas três permanecerão na Alerj — Márcio Canella, segundo mais votado no estado, Rosenverg Reis e Gustavo Tutuca. A ruína do MDB respingou em Eduardo Paes, bem como no prefeito Rodrigo Drable que o apoiou abertamente”, compara.

 

Ela vai além. Prevê dificuldades maiores para o MDB daqui em diante, para 2020 para ser exato. “O prefeito Rodrigo Drable vem perdendo prestígio político desde que seu padrinho Eduardo Cunha foi preso e, agora, vai piorar com o resultado pífio de seu partido (MDB) nas eleições. Entre as principais derrotas do partido está a perda do Poder Executivo no Rio de Janeiro, estado que é o terceiro maior colégio eleitoral em número de eleitores e que o partido governava há 12 anos. Se hoje o MDB conta com a maioria das cadeiras da Alerj, o cenário será bem diferente na próxima legislatura. De 12 deputados, o partido passará a ter apenas cinco, mesmo número do PSOL, atrás do DEM (seis) e do PSL (13)”, avalia.

 

Outra fonte, esta com trânsito no Judiciário, endossa a versão do político barramansense. “A eleição do juiz Wilson Witzel, um desconhecido na política, deixa lições e marcas na região, que muitos “líderes” não gostariam de ter. A ampla votação que ele sobrepôs a Eduardo Paes demonstra a vontade do eleitor em romper com um passado recente do Estado do Rio, que assombra muitos prefeitos, e políticos em geral, e que levou o estado à bancarrota, em virtude da corrupção que envolveu figuras públicas e empresas”, compara.

 

Advogado e militante na política estadual, a fonte – acreditem – apostava na vitória do juiz Wilson Witzel desde o primeiro turno. “Os prefeitos do MDB e dos partidos coligados a Eduardo Paes pouco ou nada podiam fazer, uma vez que estavam, umbilicalmente, ligados a ele, a Cabral e Cia, embora tentassem esconder esta situação, a começar pelo próprio candidato do DEM”, disse, para completar: “Bem perto de nós, a movimentação feita em Barra Mansa pelo prefeito Rodrigo Drable chamou a atenção, pois lá (em Barra Mansa) se reuniram os expoentes da ‘velha política’ e da ‘nova velha política’, ironizou, garantindo que o ‘encontro de gerações’ teria sido no Clube Municipal.

 

Aqui vale um adendo. É que a fonte estava se referindo ao apoio dos prefeitos da região a Eduardo Paes. “Até o Samuca e o Neto subiram no mesmo palanque, oferecido por Ademir Melo, lá no Clube Municipal. Naquela época, o clima era de euforia, que embalou até mesmo o prefeito Samuca a deixar Romário, que era do seu partido, e ficar sob as asas ‘seguras’ de Paes. Ledo engano! O tempo passou e estas lideranças foram confrontadas pelo voto popular, que levou Witzel e Paes ao segundo turno. “Nesta oportunidade, o desespero tomou conta das campanhas, com acusações que, via de regra, não são perdoadas, pois ficam numa gavetinha ao lado do governador” profetizou, para concluir: “Podemos dizer que perderam os que mais se expuseram, como Rodrigo, Samuca, Neto e o DEM e o MDB como um todo”, analisou.

 

Quem concorda com a tese é um analista político de Barra Mansa, que já foi testemunha de vários processos eleitorais. Ele foi duro ao avaliar a derrota do grupo ligado ao ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Para ele, muitos perderam, apenas um saiu ganhando. “Perde o Rodrigo Drable – que ficou órfão de Paes e “mães” (Cunha, Cabral, Picciani, Albertassi, Paulo Melo e Pezão estão fora de combate). Perdem Neto e Deley, que contavam como certa uma nomeação no governo Paes. E perde o Samuca, que trocou o certo pelo duvidoso (Paes por Witzel), mas deu duvidoso. Ganha o delegado. Ele acertou no partido, no presidente e no governador. Se ele quiser, nada de braçada rumo ao Palácio 17 de Julho”, pontuou, também pedindo para não ser identificado. 

Sinal Amarelo

Pela avaliação das fontes, as eleições de 2018 para o governo do Rio vão dar muita dor de cabeça aos atuais prefeitos e velhos caciques da política regional. Eles se baseiam, até prova em contrário, no fato de que Wilson Witzel só mantém boas relações – inclusive de amizade – com dois voltarredondenses: o ex-prefeito Gotardo Neto e Tiago Martins, ex-diretor da Associação dos Aposentados de Volta Redonda.

 

Gotardo, que foi quem teria levado Witzel para a política e que é médico, pode até virar secretário estadual de Saúde. Tiago, por sua vez, presidente do diretório do PSC na cidade do aço, deixou de se candidatar a deputado estadual para ser um dos coordenadores da campanha de Witzel na região. Assim como Gotardo, pode ser chamado a trabalhar no novo governo – na secretaria de Administração.

 

Além deles, o delegado Antônio Frutado, eleito deputado federal, também poderá dar pitacos no governo Witzel. “O único que pediu votos na reta final para o Wilson (Witzel) foi o delegado (Furtado). No segundo turno, ele vestiu a camisa! Creio que está fortalecido e a eleição de 2020 (municipal) passará pelo delegado e pelo PSC”, dispara a fonte. “Acho que tirando o Gotardo e o delegado Antônio Furtado, o resto dançou…”, alfinetou outra fonte, essa com penetração no meio político partidário de Barra Mansa. “O Bruno também deu apoio ao delegado Furtado”, acrescentou, referindo-se a Bruno Marini, que foi candidato a deputado estadual, e que tem tudo para se lançar à sucessão de Rodrigo Drable em Barra Mansa. “Acredito que os prefeitos da região terão um retorno na urna caso não troquem de partido (Rodrigo e Ednardo) e, acima de tudo, não comecem a dar uma cara para suas cidades… cara do governo deles”, ironizou.

 

Em compensação, segundo avaliação de outra fonte, Rodrigo Drable e Samuca Silva deverão ter enormes dificuldades com a vitória de Witzel e, claro, a derrota de Eduardo Paes.  “O Rodrigo, afilhado de Eduardo Cunha, que procura esconder esta “chaga”, vai ter que conviver com o fraco desempenho do Paes em Barra Mansa; assim como o Samuca, que abandonou a candidatura de Romário. O Neto também é um grande perdedor, pois além do amigo Paes ser derrotado em Volta Redonda, viu seus votos minguarem, não com o Deley, mas com o próprio irmão – Munir –, dificultando e estreitando seu caminho de volta ao cargo mais almejado da cidade do aço, qual seja o de prefeito”, pontuou.

 

Ela vai além. Prevê mudanças para 2020. “Vejo que a vitória de Bolsonaro e do Wilson faz o PSL e o PSC serem os partidos com força para as eleições municipais! Já tem prefeito desesperado”, disse, sem dizer quem seria. “Para falar a verdade, a grande avenida para o Palácio 17 de Julho está com os sinais abertos para um novato na política, que pode ser o delegado Furtado, titular do xodó e votos de milhares de voltarredondenses, cansados dos mesmos e dos novos do ‘mesmo’, pois o novo político será deputado federal, e, além de grande votação, foi o porta-voz das mudanças, tanto de Bolsonaro quanto de Wilson”, crê. “Com certeza, para as velhas lideranças, mesmo jovens, o sinal amarelo para suas reeleições está aceso e, se nada mudar, vai se tornar vermelho”, prevê.

 

Não satisfeito, um dos candidatos à Alerj – não eleito -, que se sentiu levado pela onda de renovação nas eleições deste ano, fez a seguinte análise: “O ‘velho’ na política terá muita dificuldade de ganhar as eleições. A população está mostrando que quer uma renovação. Essa renovação acontecerá, principalmente, nas casas legislativas”, disse, soltando uma pérola a seguir, que vai provocar ciúmes e revolta, dependendo de quem estiver lendo esta reportagem. “O Neto tem um grande cabo eleitoral, que é o Samuca, mas terá o delegado (Antônio Furtado) como grande adversário, caso ele venha candidato a prefeito ou apóie alguém”, sentenciou, deixando um conselho para os políticos que sonham com 2020: 

 

“Nessas eleições, o que me chamou a atenção foram os políticos tradicionais insistirem na maneira antiga de fazer política, achando que reunião e conversa de lideranças, ou ofensas, ainda iria cativar o eleitor. Que esqueçam isso. Usem as redes sociais e apresentem novas propostas”, sugeriu.

 

Logo após o resul-tado oficial da eleição, o aQui procurou repercutir a vitória do juiz Wilson Witzel. O presidente do Podemos, empresário Rogério Loureiro, limitou-se a dizer que a derrota de Eduardo Paes mostrou que ele fez a escolha certa ao deixar o PPS no início do ano. Vale lembrar que o deputado estadual Comte Bittencourt, presidente do PPS, foi candidato a vice de Paes.

 

Comte, para quem não sabe, foi aquele que se recusou a assumir a vice-prefeitura de Niterói, em 2016, para continuar na Alerj, e agora vai ficar sem mandato. Além disso, o Podemos e Romário, embora não tenham manifestado apoio, trabalharam nos bastidores pela eleição do Juiz, cuja vitória é uma derrota da classe política atual.

Quem ganhou? Quem perdeu?

Outra fonte, que só falou com a reportagem desde que seu nome não fosse revelado, ao invés de dar uma entrevista, como os demais, preferiu fazer, de próprio punho (via WhatsApp) uma análise de quem perdeu e quem ganhou com a eleição de Wilson Witzel. Veja a seguir, suas colocações:       

Rodrigo Drable

Ele vem definhando no próprio governo, pois não consegue apresentar nenhuma grande obra. Vem mantendo os serviços básicos de forma precária e tem dificuldade de dialogar com os segmentos da sociedade. Sua comunicação não convence seus próprios comissionados, fazem de forma obrigatória. A vitória do Marcelo (Cabeleireiro), com votação baixa, demonstra a dificuldade de ser (Rodrigo) uma grande liderança, pois colocou a prefeitura e a Câmara para arrumar votos e não foi o esperado. Nesse caso, o mérito foi mais do Marcelo (Cabeleireiro) que do próprio Rodrigo (prefeito). O Marcelo foi pra rua em busca de voto e o Rodrigo, por um período, sumiu de sua campanha. O Rodrigo tem dificuldade em se relacionar, não consegue ser humilde e criar um relacionamento Pacífico, diante disso, creio, levará tempo pra compor com o governador Witzel e o próprio governador não tem muito que oferecer à cidade devido à situação complexa do Estado. E como o Rodrigo não tem paciência para construir uma relação de médio e longo prazo, entendo que ele ficará enfraquecido no momento que mais precisará para sua reeleição.

Ex-prefeito Neto

Tem dificuldade de aglutinar pessoas, é extremamente vaidoso, e essa vaidade está o fazendo derreter politicamente. Perdeu com suas duas candidaturas de estadual e federal demonstrando a baixa no prestígio histórico. A derrota do Eduardo Paes o deixou ainda mais isolado. Se tiver humildade em reconhecer os erros e unificar o grupo histórico, pode ser que ressurja em algum momento. Tem contra ele a idade e a forma antiga de fazer política, não atua bem nas redes sociais.

Contudo não se pode subestimar a força do grupo do Neto, por mais que nesse pleito tenha sido de derrota. Certamente se reestruturarão e disputarão a eleição com o confuso Samuca.

Delegado Antônio Furtado

O delegado, apesar de ter sido vitorioso nas urnas, ainda não dá pra dizer que está consolidado, pois veio na onda do Bolsonaro. Esses votos para serem consolidados vão depender da forma que se comportará no mandato. Tem contra ele a falta de experiência do Parlamento. Ainda não possui força política pra considerarmos uma figura emblemática que pode favorecer o governador em Brasília. Gozará inicialmente do prestígio do governador, mas a manutenção desse prestígio dependerá do desempenho no mandato. O delegado vai correr por fora. Com a popularidade em alta e com o tema segurança em ascensão, é um candidato forte a prefeito pra derrotar o confuso Samuca.

Gotardo

É o mineirinho come quieto. Atua no governo do Pezão e tem trânsito no governo Witzel. Aparentemente foi o vitorioso, mas é sempre olhado pelos políticos com desconfiança, exatamente por querer circular em todos os governos.

Tiago Martins

Inexpressivo, apenas mais um apoio. Não o vejo como figura de destaque no Sul Fluminense para dizer que foi um dos grandes vencedores.

Samuca

Confuso, inseguro e oportunista. Se elegeu pelo PV, correu para o Podemos quando o Romário estava em alta e pulou do barco quando o Romário não interessava mais. Ensaiou candidaturas e depois recuou. Se aproximou de Baltazar e Zoinho e deu água. O governo não apresenta obras importantes que possam colocá-lo numa situação confortável. Assim como o Rodrigo (Drable) está de pires nas mãos. Se tiver humildade, pode criar caminhos com olho na reeleição.

Marcelo Cabeleireiro

Quem o conhece sabe que gosta de viver ali (em Barra Mansa), frequentar o Rio não é sua praia. Conhece a vida parlamentar e pode se aproximar do governador e se assanhar para prefeito. Portanto, Rodrigo tem duas sombras pra não deixá-lo dormir, e quem o conhece sabe que esse assunto tira seu sono.

Roosevelt Brasil

 Quem sai intacto dessa eleição é o Roosevelt (Brasil, ex-prefeito).  Ficou em silêncio, não se desgastou com ninguém e é um técnico respeitado no Estado. Continua tendo um apelo popular de uma geração que o viu governando. Com sua postura silenciosa e carregando um histórico positivo na região, pode ser uma opção em meio à ausência de líderes.

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