sábado, setembro 7, 2024
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Leilão branco

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Luiz Vieira e Pollyanna Xavier

A crise CSN x Vita, instalada na semana passada depois da decisão da Justiça de desmobilizar (despejar) o hospital para que o imóvel volte às mãos da CSN rendeu muita boataria nos últimos dias. Paralelo ao falatório ocorreram diversas manifestações, com distribuição de boletins, reuniões, telefonemas importantes, coletivas com a imprensa. A cada dia surgia uma novidade. A principal dava conta que o Grupo Vita estaria jogando a toalha. “Não queremos mais (manter o Vita, grifo nosso), nem na hipótese de lograr eventualmente alguma vitória diante da CSN”, teria dito o vice-presidente do Vita, Francisco Roberto Balestrin, durante reunião que manteve com os médicos em Volta Redonda.

 

Ele pode estar se referindo à pressão que a CSN vem fazendo para receber o que acha que o grupo Vita São Paulo lhe deve – algo como R$ 43 milhões. Embora possa ter jogado a tolha diante dos médicos, Balestrin, segundo uma fonte, estaria agindo de forma bem diferente para com a direção da CSN. “O Vita segue sem apresentar qualquer proposta formal para a solução do problema, embora seus representantes estejam dizendo, ora que vão fazê-la, ora que não têm interesse, como disse o Balestrin em Volta Redonda”, avalia a fonte, que pede que seu nome não seja revelado.

 

Ela vai além. Confirma que quatro grupos já procuraram a CSN com interesse de assumir o imóvel ocupado pelo Vita, no Laranjal. Eles também já teriam procurado a direção do Vita, em São Paulo. “É bom que o aQui deixe bem claro à população que a CSN não é dona do Hospital (Vita), ela é apenas dona do prédio onde funciona o hospital”, dispara a fonte, que completa: “A ideia da CSN é, imediatamente, alugar o prédio a outro hospital, seja da Rede D’Or, Unimed ou outro. Há cinco entidades negociando com a CSN”, disse.

 

Embora não tenha revelado o nome dos outros grupos – além da Rede D’Or, Leforte e da Unimed –, o aQui descobriu que o grupo Notredame Intermédica – que administra planos de saúde e hospitais em várias capitais brasileiras – também entrou na disputa. E tem cacife alto desde que passou ao controle da multinacional Bain Capital, dos Estados Unidos. Detalhe: que estaria sendo negociado com a Amil. “A Intermédica já esteve com a direção da CSN e do Vita, em São Paulo”, confirma uma segunda fonte do jornal, que também pede anonimato.    

 

Tem mais. Ela confirma que um grupo de médicos do Vita Volta Redonda encaminhou uma carta ao presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, pedindo para que analise a possibilidade de passar o imóvel para ser administrado por eles. “Os médicos e enfermeiros, por si só, não têm como assumir a gestão do hospital. Ele é do Vita. Os médicos e enfermeiros não têm personalidade jurídica e licenças para conduzirem – formalmente – um hospital. A ideia pode ser nobre, mas é de dificílima implantação”, pontua a fonte.

 

Saída existe, é bom que se frise. Basta que os médicos e/ou enfermeiros constituam uma empresa ou cooperativa, se for o caso, para assumir o aluguel do imóvel junto à CSN e, a seguir, negociar com a direção do Vita em São Paulo a compra ou aluguel dos equipamentos em funcionamento. “Eles representam o coração do Vita”, dispara a fonte, mostrando ser favorável à ideia. “Lembro que a CSN paga o atendimento que é feito no hospital (da família CSN, grifo nosso) para o Bradesco Saúde. O Bradesco é quem paga ao Vita. E assim por diante com outros planos de saúde e também com o SUS”, pontua.

 

Outra novidade que pode explodir a qualquer hora é a participação direta de um novo grupo interessado em fazer parte do ‘leilão branco’ do Vita. Pedindo para que não tenha o nome revelado, o grupo diz que pode até desistir de um grande investimento que estaria tentando emplacar em Volta Redonda para investir mais em Saúde. Pode até propor uma parceria empresarial com a própria CSN. Ou seja, o Hospital Vita poderia voltar a ser o Hospital Siderúrgica Nacional (HSN), como já foi conhecido no passado.   

 

Com tantos boatos na mesa de operação, a semana não poderia deixar de ser polêmica. A notícia veiculada pelo aQui, com exclusividade, no  final da tarde de sexta, 9, sobre o despejo do Vita explodiu nas redes sociais. O site do jornal foi acessado por mais de 90 mil internautas. No Facebook, a notícia alcançou 81.748 internautas, rendendo 646 curtidas, 729 compartilhamentos e 387 comentários. Detalhe: a maioria contra o grupo Vita São Paulo, por ter deixado o caso chegar ao extremo de uma ação de despejo, colocando em risco o emprego de mais de 500 pessoas, entre médicos e funcionários da sua unidade em Volta Redonda.

 

Sobrou até para a Unimed – tanto nacional quanto local –, que também estaria negociando, em segredo, com a CSN para assumir a administração do Vita, seu concorrente. Houve quem desaprovasse o nome da cooperativa médica, acreditando que ela não daria conta de administrar dois hospitais na cidade do aço. “Os cooperados não querem. Esta ideia partiu da direção da Unimed e eles estão propondo que médicos arquem com a reforma do Hospital, isto sem contar com o dinheiro que os cooperados teriam que desembolsar para assumir o negócio do Vita e pagar aluguel à CSN”, confidenciou a fonte do aQui. “Eles estão propondo pagar R$ 200 mil de aluguel; é pouco”, dispara.

 

Corpo Clínico

Na segunda, 12, uma novidade trouxe luz à crise CSN x Vita. É que o Corpo Clínico que atua há mais de 35 anos no hospital, formado por médicos experientes (remanescentes da época em que o Vita ainda era subordinado à Fugemss, uma fundação da CSN), se mostrou disposto a assumir a gestão da unidade. A proposta, bastante ousada, já foi formalizada. Os médicos acreditam que, com a experiência adquirida nos últimos anos e com o histórico construído dentro da unidade, conseguirão carta branca para gerirem, sem intermediários, o hospital, sendo Vita ou não.

 

Os médicos estão, inclusive, dispostos a pedir apoio do prefeito Samuca, dos vereadores, do Sindicato dos Metalúrgicos e de quem mais eles acharem que possa ajudar nesta empreitada. Na terça, 13, uma comissão de representação foi formada por cinco médicos que, com o apoio do Cremerj, confeccionaram um comunicado à população e ainda uma carta à CSN propondo uma reunião para tratar do assunto. À população, os médicos lamentaram o litígio entre CSN e Vita e disseram que o Hospital – “hoje chamado Vita Volta Redonda sempre foi, é e será o Hospital da Companhia”.

 

Ainda no comunicado, os médicos disseram que “a vida do Hospital, que já foi HSN, Santa Cecília e hoje é Vita, se deve a um grupo de colaboradores e ao seu Corpo Clínico, com muitos estreantes à época em que era um Departamento da CSN e que aqui estão há 10, 25, 35, 45 anos”. E salientaram que o conflito entre a Siderúrgica e o Grupo Vita não nasceu dos operadores locais do Hospital. “Não foram seus empregados, fornecedores, terceiros e muito menos o Corpo Clínico que iniciaram e mantiveram o litígio, que é sim uma ação direta do Grupo Vita (sediado em São Paulo) com a CSN”. Segundo Rônel Mascarenhas, diretor médico do Vita, “independente do rumo institucional do hospital, o Corpo Clínico manterá a qualidade, a integridade e o compromisso que sempre teve”, prometeu.

 

Quanto à carta enviada à CSN, os médicos solicitaram uma reunião com o presidente da Companhia, cuja pauta principal será (1º) informá-lo de que Corpo Clínico está disposto a manter o Hospital em funcionamento; e (2º) convencê-lo que os médicos têm capacidade técnica para gerir a unidade neste período de transição. Ou até mais. No documento aberto à população, os médicos disseram que aceitaram “sempre com disciplina as regras da Empresa Proprietária”, mudando de Operador “sem reações infantis, intempestivas ou irresponsáveis”.

 

Segundo o documento, os médicos informam que as mudanças que já ocorreram no Hospital “nunca se tornaram empecilho” para que o Corpo Clínico continuasse a trabalhar normalmente. “Com o respaldo do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), decidimos e encaminhamos à CSN uma carta que solicita audiência para que a Comissão Representativa do Corpo Clínico do Hospital Vita Volta Redonda possa ser recebida para diálogo com a empresa”, informou Rônel Mascarenhas.

 

Caso a CSN concorde com a proposta de gestão do Corpo Clínico, serão totalmente desnecessárias as medidas de esvaziamento da demanda do Hospital. “Sabemos e respeitamos totalmente a consecução das fases e medidas judiciais, porém com a declaração pública de afastamento e desinteresse do Grupo Vita, perdeu o sentido de se desativar o Hospital, sendo totalmente possível aguardar todos os procedimentos para que um novo Operador o assuma, funcionando plenamente e se preparando de forma inteligente para esta transição”, diz um trecho da carta escrita pelo Corpo Clínico e enviada à população.

 

Desde a decisão da Justiça de desmobilizar o Hospital Vita, publicada com exclusividade pelo aQui na tarde de sexta, 9, um administrador judicial foi nomeado e está no Hospital para executar um plano de desocupação dos leitos. Ele terá que apresentar um relatório até o final de março, quando se esgota o prazo de 20 dias dado pelo juiz da 4ª Vara Cível da cidade do aço, Roberto Henrique dos Reis.

19-01-2017 - sindicato funcionarios - gabriel borges (6) samuca_cor1_COR

Samuca e Silvio Campos pedem manutenção de empregos

A crise CSN x Vita mexeu com as estruturas da cidade do aço. O prefeito Samuca Silva, preocupado com uma possível demissão em massa, chegou a ligar para o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, para interceder pelos ameaçados de perder seus empregos. Atualmente, o Vita emprega 500 funcionários diretos e outros 200 indiretos. O pedido de Samu-ca foi para que, seja quem for o novo operador do hospital, absorva os funcionários para que o impacto social na transferência da gestão seja minimizado.

 

Samuca também conversou com Steinbruch sobre os atendimentos realizados pelos planos de saúde e, principalmente, aqueles atendimentos pelo SUS. “Sei que é uma questão privada, com disputas na Justiça, mas os reflexos podem ser sentidos na saúde pública. Por isto, conversei com o Benjamin Steinbruch. Eu quis saber se já existe alguma solução para que as pessoas que têm plano de saúde não sejam prejudicadas, nem elas e nem os atuais trabalhadores da própria CSN. Ele me garantiu que não haverá prejuízos e que, em breve, uma nova rede irá assumir o hospital”, contou o prefeito.

 

Apesar da desmobilização judicial do Vita, o hospital segue atendendo pacientes normalmente. Tanto os trabalhadores da CSN (que possuem o Saúde Bradesco) quanto a população que possui outros convênios médicos. “O Corpo Clínico do Hospital tem garantido este atendimento”, reconheceu Samuca.

Reforço

Silvio Campos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, também fez a mesma solicitação, feita por Samuca, à CSN. “A gente está acompanhando esta questão e pedimos que a rede que vier, aproveite os funcionários que já estão no hospital. Temos uma equipe muito boa lá dentro, formada por médicos, enfermeiros, técnicos e atendentes em geral. A gente já está vivendo um momento difícil na nossa economia e uma demissão em massa seria um impacto muito negativo para a cidade. Pedimos isto e a CSN disse que vai nos atender”, contou Silvio.

 

O líder sindical disse que durante a semana foi procurado por vários metalúrgicos preocupados com a interrupção no atendimento no Hospital Vita. Para todos eles, Silvio deu a mesma orientação: a de que a transição não vai prejudicar o trabalhador da CSN, e que aqueles que precisarem de atendimento médico poderão recorrer ao Vita, como sempre fizeram, e ainda a Unimed, Santa Maria II e o Samer, em Barra Mansa e Resende respectivamente. “Sem atendimento não vão ficar”, garantiu Silvio Campos.

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