sexta-feira, março 29, 2024

Jogo duro

Diretores da siderúrgica falam do uso político das negociações por acordo salarial e revelam que entregaram prints das ameaças na Delegacia de Volta Redonda

Em uma verdadeira cruzada, que incluiu visitas ao bispo D. Luiz Henrique e ao prefeito Neto (ver foto), Luiz Paulo Barreto, diretor Corporativo Institucional da CSN, e Leonardo Abreu, diretor de RH, ambos de São Paulo, estiveram em Volta Redonda com uma missão específica: mostrar a jornalistas e comunicadores que as negociações do acordo salarial com o Sindicato dos Metalúrgicos podem se arrastar por muito tempo. “Os funcionários já poderiam estar com o abono pago, com seus aumentos de salário concedido… E não estão, pois a questão sindical está atrapalhando, está atrasando as negociações”, avaliaram, referindo-se às eleições para a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos, ainda sem data para acontecer desde que o processo eleitoral ficou sub judice.
Em entrevista exclusiva ao aQui, Leonardo e Luiz Paulo falaram das implicações das disputas entre oposição e sindicato e deixam claro que para a CSN é indiferente com quem ela vai negociar. “Só negociamos com quem está legalmente constituído”, afirmaram, confirmando ainda que a empresa procurou a Polícia Civil de Volta Redonda para denunciar os autores das ameaças contra funcionários da Usina Presidente Vargas que não aderiram aos protestos da oposição. “Não vai ter bagunça, acabou. A CSN agora vai agir duramente com aquele funcionário que exceder o seu limite. Ele vai responder por isso”, destacou Luiz Paulo, indo além. Lembra que teve caso até de incitação ao terrorismo. “Fizeram vídeo ensinando a fabricar coquetéis molotov (arma química incendiária, grifo nosso)”, denunciaram.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista concedida por Luiz Paulo Barreto e Leonardo Abreu:

aQui: O que levou a CSN a entender que a eleição para o Sindicato dos Metalúrgicos estaria prejudicando as negociações do acordo salarial?
Luiz Paulo Barreto: Diferente dos anos anteriores, a negociação salarial deste ano entre a CSN e seus funcionários, por meio do Sindicato, tem um fator externo que está tumultuando o processo: o da eleição sindical. A oposição passou a defender paralisações, incitar os funcionários a pregar a violência pela internet, e isso tudo tumultua o ambiente na Usina Presidente Vargas. Prejudicou – dentro do Sindicato – a continuidade de uma negociação normal, fazendo com que as propostas não fossem avaliadas de forma detalhada antes de serem levadas à votação. As votações foram politizadas ao extremo, com uma onda de rejeição praticamente unânime às propostas que, certamente, não foram bem avaliadas. Fica muito claro que a eleição sindical está provocando prejuízo às negociações em razão dessa disputa que está sendo empreendida aqui em Volta Redonda.

aQui: Mas o ‘x’ da questão não seriam os lucros que a CSN vem obtendo? A partir do momento em que a empresa distribui dividendos extraordinários, o peão não pode pensar “e eu, não levo nada”?
Luiz Paulo: Leva, claro que leva. A partir do momento que a CSN obtém lucros, ela faz o processo normal da divisão dos lucros, que é o pagamento de um abono (aos operários). E esse ano está sendo proposto um abono que chega a 76% do Target, que é correspondente ao resultado operacional das nossas atividades em 2021, em si, não levando em conta o lucro obtido por operações de vendas de ativos, processos judiciais, etc. Quando se soma o abono com o crédito extra no cartão alimentação, o empregado está recebendo um valor extra praticamente equivalente ao que seria 100% do target. E isso está sendo oferecido aos funcionários junto com um aumento salarial em cima de um percentual bastante razoável do INPC. Somados com acréscimos e ofertas do cartão-alimentação, chega praticamente a 100% desse bônus. Então o que podemos dizer é que os funcionários estão, sim, sendo contemplados com essa distribuição de lucros e dividendos por meio desse abono. Por estar politizada a situação (com a eleição), acho que eles sequer olharam direito a proposta para entenderem o seu conteúdo na totalidade. Certamente isso prejudicou a avaliação da proposta da CSN. Mas a empresa continua aberta a negociação. Está negociando com o Sindicato, só não pode negociar com terceiros – isso está fora da lei –, mas com o Sindicato ela seguirá negociando.

aQui: A CSN ainda pode melhorar a sua proposta?
Leonardo Abreu: Não podemos dizer nem que sim e nem que não, mas continuamos abertos a negociar. O abono que chega a 76% do target reflete o resultado da companhia em termos operacionais. É exatamente o que atingimos porque, quando você olha o resultado da CSN, tem uma série de coisas que o compõem. Ele necessariamente não foi operacional. Tem que separar bem o que é o operacional, o que aconteceu, porque não é o que gerou o negócio.

aQui: Dessas ameaças que têm sido postadas nas redes sociais, a CSN já identificou todos os autores? O que vai fazer com quem ainda não foi demitido?
Luiz Paulo: As postagens remetem a vários crimes. Crimes de ameaça, crime de terrorismo, como ensinar a fazer coquetel molotov, incitação ao terrorismo. Alguns gerentes foram identificados pelo telefone celular, com endereço de suas casas, foto da família, transformando a vida deles em um tormento. Preocupados, alguns mandaram a família para o Rio de Janeiro com medo que pudesse acontecer alguma coisa com seus familiares. Tudo isso a CSN teve que registrar, levar às autoridades policiais para que seja feita uma investigação. Isso não é prática sindical, não é negociação. Isso é uma tentativa de intimidação que não vai surtir efeito. E o que nos resta a fazer é identificar quem fez isso e demitir, porque efetivamente é uma razão para demissão e até levá-los à esfera judicial para que respondam por esse tipo de delito. Encaminhamos tudo à Polícia e já foi aberto um inquérito.

aQui: Todos os prints das ameaças foram entregues à polícia?
Luiz Paulo: Sim, todos foram entregues à Polícia Civil de Volta Redonda e foi aberto um inquérito para a apuração desses crimes que foram relatados por nós aqui agora.
Leonardo Abreu: Alguns funcionários foram abordados fora da empresa, e também fizeram boletim de ocorrência, pessoalmente.
Luiz Paulo: Nós fizemos o boletim por todos os casos que chegaram ao nosso conhecimento, mas quem se sentiu ofendido, ameaçado, também pôde fazer seu próprio boletim (BO).

aQui: O clima na UPV está tranquilo ou esse grupo dos prints, por exemplo, continua agitando lá dentro?
Luiz Paulo: Tranquilo. A produção está funcionando 100%.

aQui: A próxima reunião com o Sindicato dos Metalúrgicos já tem data marcada?
Leonardo: Ainda não. Continuamos abertos às negociações. Logo, logo, vamos sentar com eles, mas ainda não temos uma data fechada.
Luiz Paulo: O Sindicato vai pedir a reunião, acho que deve ser em breve.

aQui: A CSN acha que eles poderiam reduzir um pouco o pedido para provocar pelo menos uma reunião?
Leonardo: O primeiro pedido deles, eu vou te dizer, foi um percentual em cima do lucro líquido…

aQui: Se a eleição sindical só ocorrer no final de junho, a CSN vai ficar esperando o resultado para ver com quem ela vai negociar, ou não?
Leonardo: Essa não é a ideia. A CSN não está pensando em com quem vai negociar. Vai negociar com quem for de direito.
Luiz Paulo: A eleição é um problema do Sindicato. Quem tem que resolver é o sindicato, as chapas têm que ser votadas. A CSN não interfere nisso, ela negocia com o sindicato legalmente constituído. Qualquer que seja ele, ela vai negociar. Para a CSN, não faz muita diferença a questão sindical, pois o Sindicato é apenas um interlocutor para as negociações, como acontece todos os anos. Por isso a CSN não vai interferir de nenhum jeito na eleição sindical, e esperamos que a nossa negociação também não tenha nenhum tipo de vinculação com essa eleição sindical, pois isso prejudica, atrasa muito. Os funcionários já poderiam estar com o abono pago, com seus aumentos de salário concedidos, para o benefício de todos, da cidade, deles próprios, e não estão, pois justamente essa questão sindical está atrapalhando, está atrasando essas negociações. Estamos abertos a continuar negociando com os funcionários, por meio do Sindicato.

aQui: No encontro com o Bispo, vocês conseguiram convencê-lo de que a proposta da CSN é boa?
Leonardo: Conversamos muito mais sobre tudo que estava acontecendo do que propriamente da proposta. Nós tentamos esclarecer tudo, mostramos os impactos das coisas que estavam acontecendo, desde as ameaças até como as pessoas estavam se comportando.

aQui: E as demissões? Qual a posição do bispo hoje?
Leonardo: Eu não consigo te responder como seria a posição dele hoje, mas deixamos muito claro como foi o processo. Explicamos da melhor forma possível o que aconteceu, falamos da série de ameaças, das coisas que ocorreram, enfim, tem a parte social, mas a parte social para os dois lados, então hoje eu não sei te responder a posição do Bispo.

aQui: Onde o Silvio Campos e a oposição sindical estão errando?
Luiz Paulo: Eu acho que está em se fazer uma disputa sindical dentro da fábrica. A disputa tinha que ser feita no sindicato. Trazer para dentro da fábrica em um momento de negociação salarial é um erro de todos, pois não está beneficiando os funcionários. Se a gente perceber bem, as propostas discutidas estão muito próximas da realidade, próximas daquilo que se pode chegar com uma boa negociação. Mas, no momento que você politiza isso, passa a ter uma dificuldade de o funcionário aceitar, de formular uma proposta, e acaba atrasando todo o processo. Por isso que a gente acha que o erro hoje é tentar trazer para a negociação salarial, para dentro da empresa, o movimento de paralisação que não tem nenhum tipo de razão de ser. Por que você paralisa, se eu estou negociando? Esse tipo de movimento junto com os funcionários é oportunista, é um movimento que visa justamente tentar ganhar votos por meio do acordo salarial e isso não interessa à empresa, a gente não participa disso.

aQui: Qual a diferença do Sindicato daqui para o Sindicato de oposição que negocia lá em Minas? O acordo vai ser diferente?
Leonardo: Vamos pegar o que nós temos e o que está valendo hoje. Não tem diferença nenhuma. O que Volta Redonda fechar vai ser para as demais localidades.

aQui: Não importa a postura do Sindicato, se é situação ou oposição?
Leonardo: É isso aí. Às vezes um faz um movimento, um barulho, mas no final os acordos são iguais, não tem diferença de um ou de outro.

aQui: O que for bom para Volta Redonda será bom para os demais?
Leonardo: Exatamente.

aQui: Qual o recado que vocês deixam para os operários da Usina Presidente Vargas?
Luiz Paulo: A CSN é uma empresa muito séria. Sempre respeita as leis, os prazos, e ela não vai admitir bagunça, nem baderna, nem violação à legislação no meio de uma negociação do acordo sindical que está legalmente aberta. Se a empresa estivesse se recusando a receber o Sindicato, a negociar com o Sindicato, esse tipo de coisa aconteceria, mas não é o caso. Então não vai ter bagunça, acabou. A CSN agora vai agir duramente com aquele funcionário que exceder o seu limite. Ele vai responder por isso. Nós temos muita convicção de que aqueles que foram demitidos deram causa às suas demissões. “Ah, demitiu”, a empresa não tem culpa, quem foi demitido deu causa a sua demissão, nitidamente deu causa. Embora não tenha sido feito por justa causa, mas por perda da confiança, perda de um vínculo fundamental entre empresa e funcionário, que é o conjunto de confiança. Quando tem uma quebra, é muito difícil continuar uma relação trabalhista. Então, efetivamente, a empresa não vai tolerar isso. Qualquer situação que fuja das normas de disciplina, das normas do código de ética da empresa, das normas daquilo que é ajustado entre a boa relação da empresa e seus funcionários, vai ser objeto de demissão, não pode passar em branco. E o departamento jurídico nitidamente está atento a isso, reconhece e vai cobrar dos funcionários esse tipo de conduta. O ideal é manter a paz nesse processo, uma conduta em elevado nível de cooperação, de diálogo, de discussão para o sistema todo.

aQui: Os demitidos teriam alguma chance de voltar a trabalhar na usina?
Luiz Paulo: No que depender da empresa, não, não terão. A empresa vai recorrer até as últimas instâncias do judiciário, fazer tudo que for possível, pois eles deram causa às suas demissões. Eles não foram demitidos, eles se ‘demitiram’. A empresa tem direito até de demitir em momentos que ela precise reduzir quadro de pessoal, ainda mais quando o funcionário afronta a regra da negociação, vai para a internet promover ameaças, promover bagunça, ameaçar companheiros, chefes e até ensinar a montar um coquetel molotov. Veja que coisa absurda a que chegaram. Então, a empresa vai até o final para que eles não sejam readmitidos. O departamento jurídico da empresa está muito firme nesse sentido.
aQui: A massa de funcionários teria sido manobrada pela oposição sindical, seria isso?
Luiz Paulo: A massa? Não.
Leonardo: Nenhum foi demitido por justa causa, todos foram desligados normalmente. Receberam todos os direitos, enfim…
Luiz Paulo: Um grupo se iludiu com esse processo.
Leonardo: Acreditaram em uma promessa que “ah, o que estamos fazendo é o correto”, e não era o correto. E como foi feito todo o movimento, não é o movimento que a lei permite. Disseram que estavam se baseando na lei, mas não seguiram os ritos legais, então não tem legitimidade alguma.

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