Por Pollyanna Xavier
A poucos dias de completar quatro meses, as eleições do Sindicato dos Metalúrgicos seguem sem definição da Justiça. Essa semana, o Ministério Público do Trabalho emitiu um parecer no processo trabalhista que pede a anulação do pleito, e os promotores votaram pelo afastamento de todas as alegações da chapa 1 e pela declaração de improcedência dos pedidos. Tem mais. Pediu a extinção do processo e a condenação do autor da ação, Jovelino José Juffo. A ação tramita na 2ª Vara do Trabalho, mas há recursos no TRT e no TST. Neste último, o corregedor-geral do Trabalho, Guilherme Bastos Caputo, acolheu o pedido de Jovelino e suspendeu tanto as eleições quanto a posse de Edimar Miguel, depois de visualizar inconsistências no pleito. O processo, porém, segue na 2ª Vara, com chances de ser julgado nas próximas semanas. Aliás, Edimar, líder da chapa 2, que ganhou as eleições sindicais, acredita que o mérito favorável ao seu grupo será conhecido até o final do ano. Edimar conversou com o aQui na quarta, 16. Foi a primeira vez desde a largada eleitoral, em abril, já que sempre se esquivou de dar entrevistas ao jornal. “Estamos confiantes de que assumiremos o Sindicato até dezembro. Não sabemos o que vamos encontrar pela frente, provavelmente um sindicato quebrado ou até pior do que isto. Um presente de grego”, definiu, lamentando a falta de transição. “Não temos informação de nada, aliás, eles omitem as informações da gente. Não há transparência”, reclamou. Por telefone, Edimar foi muito cauteloso, procurando fugir de polêmicas. Ele não criticou Jovelino, disse apenas que falaram muitas inverdades a seu respeito. “Foram coisas levianas. Não vamos fazer o mesmo”, avisou. Sobre o líder da chapa 3, Vitor Véio, que chegou a ser seu companheiro em lutas passadas, Edimar foi ético. “Vivemos num Estado democrático de Direito. A Constituição concede ao cidadão o direito de ir e vir e de livre expressão. Quando fazemos a escolha de jogar em outro time, isso precisa ser respeitado, e eles fizeram essa escolha. Eu preciso aceitar, porque faz parte do jogo democrático”, resumiu, sem citar nomes, mas deixando claro que falava de Vitor Raimundo Junior, o Vitor Véio, seu ex-aliado. Edimar também falou das irregularidades listadas no processo de nulidade das eleições, da Comissão Eleitoral e de um possível racha na sua chapa. “Não houve irregularidades. Esta eleição foi limpa, transparente, ocorreu em praça pública e foi acompanhada de perto pelo Ministério Público do Trabalho e pela Justiça. Cumprimos tudo o que estava no edital e, a cada passo que dávamos, tínhamos a fiscalização do MPT. Nós seguimos em frente cientes de que se fizéssemos alguma coisa errada, seríamos comunicados para procedermos com as correções. Nós entendemos que não houve irregularidades”, crê. Sobre a Comissão Eleitoral, Edimar respondeu o questionamento do jornal envolvendo as denúncias de parcialidade e ainda o pedido feito ao TST, para que a liderança da chapa 2 tomasse posse excetuando os integrantes que estavam inelegíveis. Aliás, esse pedido soou como um mea-culpa, como se a comissão admitisse, formalmente, que errou ao permitir que dois ex-metalúrgicos, sem vínculos com o Sindicato, participassem das eleições. “A Comissão não foi parcial. Ela agiu dentro da legalidade e sob a fiscalização do MPT”, afirmou. Quanto ao pedido de deixar que a chapa tomasse posse sem os dois integrantes que deveriam ter sido impugnados, Edimar se limitou a dizer que tudo foi feito com base no Estatuto do Sindicato. “O Estatuto abre um precedente para que assumíssemos o Sindicato, mesmo com a ação correndo e com a chapa incompleta. Então, até o pedido da Comissão foi baseado no Estatuto”, explicou. Outro assunto abordado na entrevista foi um suposto racha na chapa 2, mais especificamente entre ele e Tarcísio Xavier – exmetalúrgico, ex-sindicalista e atual advogado da chapa. Tarcísio não ficou com o cargo de diretor jurídico do Sindicato e isso teria levantado suspeitas de um rompimento entre os dois. “Isto não existe. Eu falei com ele agora há pouco. O fato do Tarcísio não ter composto a chapa é que ele não é mais sindicalizado e nem metalúrgico. Houve uma briga no passado (gestão de Renato Soares, grifo nosso) e a partir daquele momento ele se dessindicalizou, por entender que não era justo pagar por algo que ele não acreditava. Se o Tarcísio ficasse na chapa, cometeríamos uma irregularidade”, reconhece.
Ministro
Com a esperança de assumir o Sindicato ainda neste ano, Edimar Miguel esteve em Brasília na posse do novo presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Lélio Bentes Corrêa. Voltou de lá sem nenhuma promessa, mas satisfeito por ter sido ouvido pelo magistrado. “Ele me recebeu e isto me deixou bastante satisfeito. Eu ainda não assumi o Sindicato e, desculpe a expressão, sou um zé ninguém, mas fui recebido pelo presidente do TST, que me ouviu e disse que vai se inteirar de tudo pessoalmente”, contou. Segundo Edimar, toda a situação vivida no processo eleitoral do Sindicato dos Metalúrgicos, incluindo as manifestações na CSN em plena campanha salarial, as demissões, as impugnações, as decisões da Justiça do Trabalho, as denúncias envolvendo a Comissão Eleitoral, o pleito, enfim, tudo, foi contado a Lélio Bento. “Como eu falei, ele não prometeu nada, mas nos ouviu atentamente. Disse que analisaria tudo com carinho. E, pra nós, só de nos ouvir, já foi uma vitória”, comemorou. O processo de nulidade das eleições do Sindicato, movido pela chapa 1 de Jovelino José Juffo, está nas mãos da juíza Monique Kozlowski para ser julgado a qualquer momento. Um advogado especialista em direito sindical, ouvido pelo jornal e que pediu anonimato, disse que as chances de a juíza autorizar a posse e rejeitar o pedido inicial são grandes. Mas ponderou um detalhe: se perder, a chapa 1 vai recorrer da decisão e Edimar correrá o risco de não assumir o Sindicato enquanto o processo não transitar em julgado. Pior, a questão é morosa e pode levar meses e até anos, tornando real a máxima jurídica do ‘ganhou, mas não levou’. A conferir.