terça-feira, janeiro 21, 2025

Fla x Flu

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Tido como um dos grandes clássicos do futebol carioca, o Fla x Flu ganhou uma versão política. Passou a ilustrar a briga entre os grupos do prefeito Samuca Silva e do ex-prefeito Neto. Na verdade, os dois são flamenguistas, mas não são de ir ao Maracanã vestidos com a camisa do time que amam. Mas, é como fã do tricolor de aço, o Voltaço, que Neto tem infernizado a vida de Samuca desde que este assumiu o Palácio 17 de Julho. A troca de farpas e acusações chegou ao máximo no final de junho e tem tudo para prosseguir em julho e se arrastar até outubro de 2020, quando deverão se enfrentar em campo disputando a prefeitura de Volta Redonda.

 

A crise entre os dois explodiu na semana passada quando Neto foi às rádios e confirmou o que já tinha dito ao aQui: que quer voltar a ser prefeito de Volta Redonda já em 2020. Para ele, a questão de ‘estar inelegível’ por ter tido algumas contas reprovadas pela Câmara de Vereadores não o impedirá de se candidatar. Alega que não houve má fé sua ao administrar o Palácio 17 de Julho e isto servirá para conseguir o registro de sua futura candidatura. Só que, pensando no pior e a Justiça impedir que ele se candidate, Neto adiantou a existência de um plano B para derrotar Samuca, que vai buscar sua reeleição. Passa por eleger Munir como candidato estadual e, mais tarde, lançar o nome do irmão a prefeito. “Ele é o plano B”, resumiu Neto, ciente (ou não) de que pode estar queimando cartuchos junto aos políticos que sonhavam em tê-lo como padrinho para ser eleito em 2020.

 

Como toda ação gera uma reação, Samuca soltou as cobras para cima de Neto em entrevista na Rádio 96.1. Fugiu até do normal. Falando grosso, o atual prefeito disse que entende a candidatura do ex-prefeito como um projeto de se eternizar no poder. “Há um projeto de poder quando ele (Neto) fala ‘eu vou ser candidato em 2020’ tendo uma eleição agora (em 2018). E ele já fala que se não for ele vai ser seu irmão (Munir). Isso é projeto de poder e eu não tô aqui para falar de projeto de poder. Muito pelo contrário. Eu estou aqui para falar das pessoas”, rebateu. “Enquanto eles querem o poder, eu cuido das pessoas. Eleições (de 2020) é só lá na frente”, ironizou Samuca.

 

Não satisfeito, Samuca continuou atirando contra Neto. “Eu acho que (ele) tem que concorrer (em 2020), assim como eu concorri (em 2016) e ganhei”, disse, com aquele sorriso maroto no rosto. “Várias pessoas acham que eu terei a oportunidade para comparar (governos), pois as pessoas esquecem a cidade que nós assumimos. Dizem que devo mostrar como a cidade era há dois anos. Ele (Neto), por exemplo, deveria explicar como assessor (de Pezão) lá na secretaria estadual de Fazenda porque o governo do Estado não manda 1 real para a UPA, e me deve R$ 13 milhões. Em vez de ficar preocupado com 2020, ele deveria se preocupar em ver as pessoas que estão na fila de atendimento da UPA, que só não fechou porque o meu governo está bancando. É isso que deveria explicar”, comparou.

 

Com a metralhadora engatilhada, Samuca disparou novos tiros. “Ele (Neto) deveria usar o prestígio de ser um ex-prefeito, que fez muito para Volta Redonda, e ajudar a cidade (liberando recursos para a UPA). Deveria ajudar as pessoas nesse momento de crise e não ficar antecipando o debate eleitoral. Não (deveria) arranhar a sua imagem perante a população. Que tenha respeito com as pessoas que estão precisando de um atendimento digno. Vamos usar o seu prestígio partidariamente para aumentar a receita do município”, pontuou Samuca.

 

Nesse ponto da entrevista dada na 96,1, Samuca voltou a bater na tecla da situação que encontrou ao subir a rampa do Palácio 17 de Julho, pontuando alguns casos. “Ele (Neto) deveria explicar porque deixou R$ 12 milhões em caixa com R$ 1 bilhão de dívidas. Deveria explicar porque fechou o Restaurante Popular (que vai reabrir). Por que deixou uma dívida de R$ 32 milhões com a Light. Por que não usou o Memorial Zumbi (na Vila). Porque não tinha uniforme para a guarda municipal, e deveria explicar por que perdemos a Ford, a Nissan, a Peugeot ou por que não pagou o FGTS da Cohab, que se eu não pagar vai negativar o nome da prefeitura, inviabilizando investimentos futuros”, detalhou, com voz grave, de quem está muito irritado.

 

E ele estava, tanto que, ao contrário das entrevistas anteriores, continuou dando exemplos do que imagina serem erros do governo Neto. “Ele não pagou o FGTS da Cohab e eu tenho que pagar R$ 500 mil mensais da dívida. E por que a questão do RPA não foi resolvido? Há 20 anos as pessoas estão sem férias e 13º. Tem 3.500 pessoas no RPA e temos que resolver esse problema que dura mais de 20 anos. As pessoas sem férias, sem décimo terceiro, sem descansar, trabalhando como uma máquina 12 meses direto”, disse Samuca. “Por que ele inaugurou a Arena Olímpica se ela não está pronta? Por que inaugurou a Clínica de Diálise sem funcionar? É isso que ele (Neto) deveria explicar”, completou.

 

Antes de encerrar, Samuca voltou a atacar Neto. Detalhe: sem dizer o nome do ex-prefeito durante toda a entrevista. “Ele (Neto) deveria falar daquele problema da Gide do São João Batista, que gerou aquele inquérito que está sendo apurado pela Polícia Federal. Por que teve três contas reprovadas pelos vereadores, e por que não licitou o contrato de publicidade (rádios, TV e jornais)? Nós legalizamos esse contrato de publicidade da prefeitura. Por que não resolveu a questão do PCCS? É isso que deveria esclarecer”, disparou, para finalizar: “Se isso acontecer (candidatura de Neto), vai ser bom porque a gente vai comparar: o Samuca abriu a Rodovia do Contorno; abriu a Clínica de Diálise; pagou o PCCS. Vai ser um bom momento para que nós possamos comparar os dois modelos, mas isso só em 2020 porque o que as pessoas querem agora é urgência no atendimento da Saúde, querem investimento na educação. As pessoas não querem saber de crise financeira, de queda de arrecadação. Querem a manutenção da cidade, uma capina no bairro….”, encerrou. Prova que 2020 já está aí…

 

Telões nos hospitais

Na entrevista à rádio, Samuca abordou vários problemas ligados à área da Saúde. E fez uma comparação sobre os hospitais São João Batista e o Santa Margarida e, por tabela, o Hospital Regional. “A saúde é uma complexidade, ainda mais em Volta Redonda, onde cerca de 40% do atendimento é da região. É um grande desafio. Foi importante a aquisição do Santa Margarida. Só para as pessoas terem uma noção, o Hospital Regional custou cerca de R$ 80 milhões aos cofres públicos e sem equipamentos. O Santa Margarida foi adquirido por R$ 6 milhões e meio, e estava todo equipado”, comparou. “A Light ligou a luz (do Santa Margarida) e quando abrimos a porta (do andar) encontramos a área da fisioterapia toda montada, pronta para uso. É impressionante. Mostra que a estratégia de ter adquirido foi correta. O São João Batista é alugado; já o Santa Margarida é do município. Já nasceu como o maior hospital da região”, comparou.

 

Para quem não sabe, o prédio ocupado pelo Hospital São João Batista não é da prefeitura de Volta Redonda. É da UHG – União Hospitalar Gratuita, que o aluga para o Palácio 17 de Julho. “A prefeitura paga aluguel sim, tanto do prédio quanto daquele estacionamento que existe ao lado”, confirmou Samuca. “Ali já está saturado”, disparou, para logo justificar: “Qualquer projeto (no São João Batista) é de milhões de reais. Então, nós adquirimos o Santa Margarida e vamos abrir os dois primeiros andares até o mês de dezembro”, destacou.

 

Samuca foi além. Diz que tudo está devidamente planejado para não errar. “A pessoa tem que entender que quando você abre um novo hospital, o custo aumenta. Não adianta abrir e em três meses fechar por falta de recursos. O São João Batista gasta R$ 3 milhões, em manutenção operacional, sem a folha de pagamento. Dos três milhões nós só recebemos um milhão do SUS”, disse, anunciando que busca aumentar o valor que recebe do ministério. “Esse é o nosso desafio. É por isso que decidimos abrir os dois primeiros andares do Santa Margarida. Vamos abrir e dar uma resposta positiva à população”, prometeu.

 

A seguir, surpreendendo meio mundo, Samuca confirmou o boato, que não vai agradar a alguns grupos, de que o Santa Margarida será um hospital de portas fechadas. “É uma orientação dada pelo Ministério da Saúde, com redirecionamento da rede para oferecer mais conforto à população. O Santa Margarida tem 200 leitos e o São João Batista tem 156, então o Santa Margarida já é por si só o maior investimento de saúde da história de Volta Redonda”, disparou, passando a seguir a explicar o ‘portas fechadas’. “Porta fechada é porque ele não vai atender qualquer pessoa. Ele vai redirecionar as ações efetuadas dentro ou fora para a nossa rede. Os hospitais – Retiro e São João Batista – continuarão atendendo de portas abertas as emergências. Isso preserva a população e preserva o custo de manutenção do hospital”, crê Samuca. “É a mesma coisa que está acontecendo com o Hospital do Idoso. Você não pode ir direto para o hospital, você tem que ser encaminhado”, explicou, mostrando que o mesmo ocorrerá com o Santa Margarida e, dentro em breve, com o São João Batista.

 

A mudança no sistema de atendimento do São João Batista, que já ganhou espaço (para alegria dos adversários) nas redes sociais, foi abordada claramente por Samuca. “O São João Batista é um hospital de urgência, e atende a região, até a baixada fluminense em casos de urgência. Então se você está lá com uma dor de cabeça e chega um paciente com trauma, precisando de uma cirurgia, você vai ter que esperar, pois ele é um hospital para emergências. Baseado nisso, nós estamos capacitando toda a nossa rede para mudar a cultura da cidade. Quem for classificado com a cor verde,  ou seja de baixo risco, vai ser orientado a procurar outra unidade. Vamos sugerir que procure o  Cras Aterrado, Cras Conforto, UPA, Hospital do Retiro… Vamos sugerir opções onde ele não demore a ser atendido tanto quanto no São João Batista”, detalhou.

 

Samuca abordou até a recente confusão na ala da pediatria do Hospital São João Batista que bombou nas redes sociais. “Foi um absurdo aquela mãe ficar sete horas no atendimento. E foi um absurdo que a direção do hospital não tenha sido avisada que tinha um atendimento demorando mais de duas horas. Foi uma fatalidade e posso afirmar que naquele dia não havia superlotação. A equipe estava lá, o atendimento estava dentro da rotina. Vamos apurar o que houve”, prometeu.

 

O prefeito também aproveitou para fazer novas comparações e prometer soluções pontuais para cada caso que houver. “O importante é dizer duas coisas: a primeira é que a rede tem que estar preparada para melhor atender os pacientes. E outra, não é possível uma pessoa chegar ao São João Batista e depois de duas horas ser redirecionado para outra unidade. Tem que ser redirecionada quando chegar, já na triagem”, avaliou para revelar uma novidade, o uso de telões para mostrar ao público o tempo de espera em cada hospital de Volta Redonda. “Estamos colocando um painel no São João Batista e outro no do Retiro, falando o seguinte: ‘Atendimento médico na UPA Santo Agostinho 20 minutos; atendimento no CRAS Conforto 20 minutos”, etc. Isso é para que as pessoas possam chegar no São João Batista, olhar o painel, ver onde o atendimento está mais rápido para não perder tempo. Mas, não vai adiantar se ele chegar no CRAS Aterrado e levar duas horas para ser atendido. Ele vai ficar bravo. O painel vai informar onde o atendimento está mais rápido. Nossa intenção é que a pessoa não fique esperando tanto tempo no São João Batista porquê de qualquer forma se chegar algum caso de emergência a pessoa vai ter que esperar. Isso é o que acontece. Uma vez classificado a pessoa não vai ser redirecionado ao São João Batista. Se for classificada para ser atendida no São João Batista, ela vai ser atendida lá e vai esperar”, pontuou.

 

Insistindo em abordar a questão do relacionamento do prefeito com os internautas, o radialista da 96,2 abordou o boato que circula pela internet de que sua mãe teria um salário de R$ 7 mil como funcionária da Fundação Beatriz Gama. Detalhe: adiantando que o boato era falso. Mesmo assim, Samuca falou. “Quem dera (ela ganhasse), viu. Eu sou fã das redes sociais. Essa mãe que demorou sete horas para ser atendida foi ruim para ela, mas que bom que ela usou a rede social para mostrar sua revolta. Isso é sensacional. Aproxima o cidadão da autoridade. Só que as pessoas esquecem que a eleição (para prefeito) passou. Não precisamos de um Fla x Flu. Todos nós queremos o bem de Volta Redonda, mas tem umas pessoas que querem construir o mal e agridem a autoridade máxima do prefeito. Espalhar que ‘a mãe do prefeito ganha 7 mil’, meu Deus, isso é demais. Minha mãe tem 71 anos, ela foi aposentada com um salário digno, mínimo, mas um salário digno. E hoje faz um trabalho voluntário na Fundação, gratuitamente. Acho que nem a passagem está recebendo, pois usa da prerrogativa de ter 71 anos para se deslocar até a fundação. Eu queria alertar a população: cuidado com as redes sociais”, alertou. 

 

“As pessoa têm que entender que com isso de um contra o outro (na política), quem perde é a cidade. Precisamos ter cuidado com esse ódio (na internet). Nossa cidade não precisa de ódio. A classe política está totalmente desgastada, é notório. Mas temos que confiar nesse governo que quer mudar a cara de Volta Redonda, analisou, referindo-se, é claro, à luta emergente, e já às claras, do seu grupo contra o do ex-prefeito Neto, cujos aliados estariam disparando falsas notícias na rede social, como a postada contra sua mãe, de 71 anos, que não tem nada a ver com o Fla x Flu.

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