Por Vinicius de Oliveira
O próximo governador do Rio de Janeiro vai ter uma missão e tanto pela frente, pois vai assumir um estado afundado em uma crise administrativa, política e financeira. Se trabalhar bem, poderá sair como o salvador da pátria – e terá uma gloriosa carreira política. Mas, se fracassar, e o estado permanecer no buraco, pode ser que nunca mais vença qualquer tipo de eleição. Nem mesmo para síndico de prédio ou presidente de Associação de Moradores. Ou seja, os desafios para o futuro chefe do Executivo fluminense são incontáveis e decisivos.
A questão mais gritante ainda é a segurança pública (ver matéria nas páginas 12, 13 e 14). O Rio está sob intervenção do governo Federal desde fevereiro de 2018, com término previsto para 31 de dezembro. Ou seja, o novo governador assume, os interventores vão embora. A medida intervencionista foi decretada pelo presidente Michel Temer em comum acordo com o atual governador, Luiz Fernando Pezão, e tem sido alvo de duras críticas da população e de muitos políticos, pois apresentou pouco ou nenhum efeito até o momento.
Parte dos líderes fluminenses está na cadeia ou responde a acusações de envolvimento com esquemas de corrupção. O ex-governador Sérgio Cabral (MDB), por exemplo, já foi condenado em cinco processos – a mais de 100 anos de prisão. O presidente licenciado da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (MDB), também foi preso (em novembro de 2017) acusado de integrar outro esquema de corrupção. Teve mais sorte que Cabral, pois cumpre pena em prisão domiciliar.
Já no campo econômico, outra tragédia. Em 2016, o estado passou por uma crise sem tamanho na história. Passou até a atrasar pagamento de salários de servidores públicos da ativa e aposentados, além de enfrentar problemas na prestação de serviços em áreas importantes, como saúde. Até hoje, os cofres do Rio sangram e as contas continuam no vermelho.
Além disso, o futuro governador terá que redobrar as atenções para o interior do estado, em especial o Sul Fluminense, que, por tabela, tem sofrido com as ações tomadas apenas para a capital. Um exemplo é o alto índice de violência. Pior. O êxodo da bandidagem, que deixa as grandes cidades cariocas para aterrorizar Volta Redonda, Barra Mansa, Resende e todas as cidades vizinhas. O que preocupa não só os moradores da região, mas, também, prefeitos e vereadores.
Em suma, é esse cenário caótico que 10 candidatos a governador vão encontrar a partir do próximo dia 15, quando poderão assumir o que pretendem fazer caso eleitos. A seguir, o aQui apresenta a lista de todos para que o leitor saiba quem são e conheça boa parte de seu histórico. Alguns já são conhecidos do grande público, outros, no entanto, são figurinhas novas no quadro político.
Anthony Garotinho (PRP)
Anthony William Matheus de Oliveira talvez seja o candidato mais controverso. Inclusive, tem a chance de nem conseguir chegar até o final da corrida pelo Palácio Guanabara, já que pode ter sua candidatura cassada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Garotinho foi condenado a 9 anos e 11 meses de prisão por liderar um esquema de compra de votos. Ele nega as acusações, mas chegou a ser preso duas vezes, em novembro de 2016 e setembro de 2017.
Foi governador do Rio de Janeiro de 1999 a 2002. Terminados seus mandatos, Garotinho ajudou a eleger a mulher, Rosinha Garotinho, e o ex-governador Sérgio Cabral. Foi candidato a Presidente da República em 2002 e chegou a ser secretário de Segurança Pública do Rio de 2003 a 2004. Em 2010, venceu as eleições para deputado federal.
Dayse Oliveira (PSTU)
Dayse Oliveira Gomes é educadora e militante do movimento negro. Ela é mestre em história pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professora da rede pública estadual do Rio. Participou da fundação do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), sigla pela qual é filiada e vai concorrer ao cargo de governadora. Ela já havia se candidatado à mesma posição em 2014. Antes, entre 2004 e 2012, concorreu ao cargo de prefeita de São Gonçalo e ao de senadora pelo Rio de Janeiro. Perdeu as duas.
Eduardo Paes (DEM)
Eduardo da Costa Paes é ex-prefeito do Rio de Janeiro e quase ficou de fora do pleito por ter sido acusado de abuso de poder econômico. Ligado ao grupo de Cabral por muitos anos, Paes vai tentar desvincular sua imagem da de seu antigo mentor político. A primeira estratégia foi mudar de partido. Saiu do MDB para o DEM e foi garimpar um vice dentro do PPS, partido considerado do centrão, mas que critica abertamente a política adotada pelo grupo do ex-governador preso. Em entrevistas, Eduardo Paes disse que focará bastante energia, se eleito, no interior. Bastante conhecido do público, iniciou a carreira política em 1993, quando foi subprefeito de Jacarepaguá e da Barra da Tijuca. Em 1996, foi eleito vereador do Rio. Dois anos depois, deputado federal. Foi, ainda, secretário de Turismo, Esporte e Lazer do Rio de Janeiro durante o governo Sérgio Cabral. Em 2008, foi eleito prefeito do Rio de Janeiro.
Índio da Costa (PSD)
Antonio Pedro Índio da Costa é deputado federal pelo Rio de Janeiro. Foi eleito em 2006. Seu principal mote de campanha sempre foi – e deve continuar sendo – sua participação na construção da Lei da Ficha Limpa. Índio faz constantes visitas ao interior, a última vez foi em março de 2016, quando era secretário estadual de Meio Ambiente para tratar do Projeto de Lei Federal que altera a categoria da Cicuta para Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Ao aQui, Índio disse que o interior deveria ser prioridade para qualquer governante, “porque do interior vem a capacidade de desenvolvimento econômico com maior velocidade”.
Marcelo Trindade (NOVO)
Marcelo Trindade é advogado há 32 anos e professor de Direito desde 1993. Atualmente, é professor do Departamento de Direito da PUC-Rio. Entre 2004 e 2007, foi presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão federal que regula, fiscaliza e dá segurança ao mercado de capitais. Antes, foi diretor da CVM. Trindade foi ainda vice-presidente do Conselho de Administração da BM&F Bovespa e publicou diversos artigos de doutrina jurídica, em livros e periódicos. É casado, pai de três filhos e filiado ao NOVO. Tem 53 anos.
Márcia Tiburi (PT)
Como não poderia deixar de ser, o Partido dos Trabalhadores não abriu mão de candidatura própria, e o nome escolhido foi o de Márcia Tiburi. Com pouca experiência no meio político, a petista terá como principal desafio durante a corrida eleitoral provar que nem todos os integrantes do PT são corruptos.
Pedro Henrique (PDT)
Pedro Henrique Fernandes da Silva é, atualmente, deputado estadual pelo Rio de Janeiro. É ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia na gestão do governador Pezão e ex-secretário municipal de Assistência Social do prefeito Crivella. Iniciou a carreira política em 2006, quando foi eleito deputado estadual. Em 2008, concorreu ao cargo de prefeito do Rio de Janeiro sem sucesso. É formado em odontologia e já atuou como cirurgião dentista.
Romário (PODEMOS)
O ex-jogador Romário de Souza Faria é o candidato que, até o momento, tem mais chances de vencer a disputa para o Palácio Guanabara. Ele é do mesmo partido do prefeito Samuca Silva, mas, ao que tudo indica, pode não tê-lo ao seu lado nos palanques pela região, pois ambos não batem bola juntos. Romário ficou conhecido pela sua carreira de jogador de futebol e, ao entrar para a política, deu ‘carrinhos’ em políticos experientes, sendo um dos deputados federais mais bem votados do Rio em 2010. Atualmente Senador, Romário é titular da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa e dos grupos parlamentares Brasil-China, Brasil-Espanha e Brasil-Sérvia. Luta pela inclusão social da pessoa com deficiência e ações de desenvolvimento social através do esporte. É réu em uma ação por dívidas do antigo Café do Gol, bar carioca do qual o jogador foi sócio no final dos anos 1990 e que faliu em 2001.
Tarcísio Motta (Psol)
Tarcísio Motta de Carvalho é professor. Atualmente, é vereador no Rio de Janeiro, professor de História do Colégio Pedro II e presidente do Psol Carioca. É formado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com mestrado e doutorado na mesma área e na mesma universidade. Virou professor das redes estadual e municipal na década de 1990. Foi diretor do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe) do Rio de 2006 a 2012. Participou do processo de fundação do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), ao qual é filiado desde 2005. Em 2014, foi candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro. Desde o início do ano, Tarcísio e sua equipe caminham pelo interior com o projeto ‘Se o estado do Rio fosse nosso’, onde promove debates sobre inclusão social e reforma política. Sua principal cabo eleitoral na região é a sindicalista Maria das Dores Mota, a Dodora.
Wilson Witzel (PSC)
O juiz federal Wilson Witzel, ex-titular da 6ª Vara Federal Cível, deixou a magistratura no último dia 2 de março, mesma data em que se filiou ao Partido Social Cristão (PSC), legenda pelo qual ele vai concorrer ao governo do Rio de Janeiro. Witzel é doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Processo Civil e professor de Direito Penal Econômico há mais de 20 anos. Como juiz federal, atuou em diferentes varas cíveis e criminais, no Rio e em Vitória (ES).