Expectativa x Realidade

Samu de Volta Redonda atinge recorde de rapidez, apesar das críticas nas redes

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Por Pollyanna Xavier

O atendimento do Samu de Volta Redonda, amplamente criticado nas redes sociais, expõe um contraponto: enquanto parte da população garante que não consegue acessar as equipes de resgate ou, quando acessa, o socorro é lento, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência atingiu em setembro o menor tempo de resposta do ano – apenas 22 minutos.
Os dados são do Relatório Mensal do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paraíba (Cisme- pa), gestor do Samu, recentemente divulgados. O resultado, pasmem, é ainda melhor quando a resposta é para casos graves (risco vermelho): apenas 17 minutos do primeiro toque até a chegada da equipe ao local.
Para entender esse contraponto (entre as reclamações recorrentes dos usuários e os números positivos divulgados pelo Cismeia), o aQui conversou tanto com o presidente do órgão – Pezão, prefeito de Piraí – quanto com o coordenador médico do Samu 192, Paulo Mendes. Ambos explicaram que houve um problema na operadora de telefonia responsável pela central 192 e disseram que uma nova licitação precisou ser feita para substituir a empresa anterior. Essa transição dificultou, por um determinado período, o atendimento, mas não o paralisou.
“A empresa Oi, responsável pela telefonia de todo o Samu do Médio Paraíba, dos 12 municípios, entrou em processo de falência e, com isso, o serviço telefônico piorou. Foi necessária uma licitação para trocar toda a telefonia da região. O número 192
cai numa máscara e vai para outro número; esse outro número é o que trocou, e esse processo de transição leva até 60 dias para ser concluído. A partir daí, iniciaremos uma campanha para divulgar o novo número”, detalhou Paulo Mendes.
A mesma explicação também foi dada por Pezão. “Estamos trocando a operadora de telefonia. A Oi Telemar estava nos causando problemas enor- mes, pela Algar, empresa reconhecida por bons atendimentos em todo o país. Durante a transição é necessária uma nova configuração do tridígito 192 autorizado pela Anatel que dura entre 45 a 60 dias. Durante esse período estamos trabalhando com o número máscara que é temporário: 3512-4901”, explicou o prefeito de Piraí, que desde janeiro preside o Cismepa.
Pezão foi além. Disse que, apesar do problema envolvendo a antiga operaDora de telefonia, não existe demora no atendimento do Samu. “Isso não procede. Nossos indicadores são os melhores do Estado, e podemos demonstrar. Os dados da Ibhases (OS que substituiu a Mahatma Ghandi na gestão do Samu e do Hospital Regional, grifo nosso) são públicos. Qualquer pessoa pode entrar e ver o desempenho do serviço”, ressaltou Pezão.
De fato, o relatório da Ibhases para o atendimento do Samu no mês de setembro era animador. O próprio coordenador médico do Serviço, Paulo Mendes, provou isso ao aQui ao mostrar os registros: só em Volta Redonda – cidade com maior reclamação de usuários nas redes sociais e também com maior demanda de atendimento por ser a mais populosa da região – o Samu possui quatro viaturas, sendo três para atendimento básico e uma UTI. Essas quatro ambulâncias realizaram uma média de 1.500 atendimentos em setembro (1.482 para ser exato), sendo 1.007 para ocorrências clínicas (68%), 296 para traumas (20%), 118 para psiquiátricos (8%), 29 para pediátricos (2%), e o mesmo percentual para atendimentos obstétricos (2%).
Segundo Paulo Mendes, a melhor parte deste relatório é o tempo de resposta para os atendimentos de urgência e emergência (que no Protocolo Manchester, adotado pelo SUS, representa a cor vermelha). “Quando a urgência chama, Volta Redonda responde com um tempo médio de resposta de pouco mais de 22 minutos. E para as ocorrências de classificação vermelha é de apenas 17 minutos. O serviço se destaca pela eficiência e compromisso com a vida”, avalia Paulo Mendes.
Ao aQui, Paulo disse que a triagem – que detecta a classificação do risco – é feita ainda durante o chamado. E os usuários não sabem discernir a diferença entre eles, fazendo com que considerem urgência e até emergência chamados que não são. “Outro dia chegou uma reclamação de uma senhora sobre demora. Identificamos que a ambulância foi duas vezes na casa dela devido a uma dor na coluna, mas na verdade ela queria uma ambulância com médico para ser atendida em casa. Nestes casos, a ambulância não vai, porque nosso atendimento é para casos graves. Precisamos entender a situação pontual para ver se tem pertinência, justamente porque recebemos em média 1.500 chamados por mês”, comentou Paulo.
Ainda de acordo com o coordenador médico, os atendimentos do Samu seguem uma conduta única em todo o Médio Paraíba, que começa com o recebimento do chamado, que é atendido por um auxiliar de regulação médica (Tarm). “Esse profissional identifica o tipo de ocorrência, local exato e dados do paciente, enquanto mantém a pessoa em linha para orientar e repassar as informações ao médico regulador. É esse médico que analisa as informações e classifica o risco; a partir daí, a ambulância é enviada para o socorro”, explicou.
No Médio Paraíba, o Samu funciona de forma regionalizada e consorciada, unindo os 12 municípios integrados ao Cismepa. “Esse modelo permite que as cidades se ajudem mutuamente em momentos de alta demanda, garantindo agilidade e eficiência no uso dos recursos públicos”,ressaltou Paulo, acrescentando que, se um município estiver com todas as unidades em atendimento, uma ambulância da cidade vizinha é deslocada automaticamente nos casos vermelhos. Esse é o princípio da regionalização solidária que norteia o consórcio”, concluiu.

Cidade Angels
O destaque do Samu no mês de setembro, em Volta Redonda, parece ter contribuído para que a cidade do aço recebesse o título de Cidade Angels. Trata-se de uma certificação internacional que municípios de todo o mundo recebem por sua performance na linha de cuidado a pacientes com Acidente Vascular Cerebral (AVC). E o Samu tem uma parcela de contribuição muito significativa nesta linha de cuidado, por ser um dos primeiros serviços a estar com o paciente vítima de AVC. A certificação ocorreu na quinta, 23, no auditório do Palácio 17 de Julho.
A boa notícia é que, além da premiação, Volta Redonda é oficialmente a primeira Cidade Angels do estado do Rio de Janeiro. “Mais do que um prêmio, esse reconhecimento celebra um compromisso de toda a rede de saúde com a vida — um sistema que funciona quando cada elo da corrente faz sua parte: o cidadão que re- conhece os sinais do AVC, a regulação que aciona rá- pido, o Samu que chega a tempo, o hospital que aco- lhe e trata com excelência”, comemorou o prefeito Neto. “Parabéns ao Samu, que demonstra todos os dias que tecnologia, treinamento e empatia salvam vidas. Esse prêmio é o reflexo de um trabalho silencioso, disciplinado e contínuo. O tipo de vitória que nasce do esforço de muitos”, reconheceu.