Mateus Gusmão
Apesar de ser necessária para que todos possam conhecer os candidatos e suas propostas, a campanha eleitoral, mesmo tendo sido encurtada para um período de apenas 45 dias, acaba enchendo o saco dos eleitores. E com razão. Afinal, nas ruas eles recebem os indesejáveis santinhos, que a maioria não guarda. Joga fora e vai direto para o bueiro. Em casa, suas caixinhas de Correios são entupidas por folhetos de todos os tamanhos, e níveis. Alguns com promessas claras, outros nem tanto. E ainda têm as famigeradas pererecas (carros de som), que quase todo candidato contrata para tocar jingles de péssima qualidade.
Mas nas eleições de 2022 tudo piorou e nos próximos oito dias – incluindo o dia 2 de outubro, data da votação – os eleitores serão bombardeados nas redes sociais com santinhos virtuais e vídeos de campanha. Vale de tudo. Comer pastel na feira e até pagar impulsionamento no Facebook e Instagram para mostrar que ele, candidato, é do povo. Vale agarrar no pescoço do governador e do prefeito para mostrar que tem poder e até beijar a mãe e os filhos para ‘provar’ que ele, candidato, é homem – ou mulher – de família.
Foi pensando nestas situações que o aQui fez um levantamento das ‘Prestações de Contas’ de boa parte dos candidatos da região para saber quem está investindo pesado com a estratégia de gastar dinheiro de campanha para vender sua imagem nas redes sociais. E estão gastando bem: já torraram, vejam só, R$ 250 mil só com propaganda na internet. Dos candidatos a deputado federal, os que mais investiram foram: Renan Marassi, de Resende, que desembolsou R$ 50 mil; e Antônio Furtado, delegado que passou a morar em Volta Redonda, que gastou R$ 20 mil dos dois milhões que recebeu do União Brasil para fazer sua campanha. Para deputado estadual, os maiores gastos foram feitos, até agora, por André Corrêa (de Valença) e Gustavo Tutuca (de Piraí e que mora em Volta Redonda), que investiram R$ 63 mil e R$ 19 mil, respectivamente.
Os investimentos com esse tipo de propaganda, é claro, não garantem que a mensagem do candidato esteja atingindo o coração do eleitor. Muito pelo contrário. A autônoma Cristina Ferreira se acha invadida. “Ah, eu entro nas redes sociais para me distrair, ver meus amigos. Agora toda hora enche o saco essa coisa de político que nem sigo aparecendo para mim. Eu não gosto. Tem aqueles vídeos também com a música do candidato, eu tomo até susto”, comentou, acreditando que a prática não deve conquistar os votos dos eleitores.
Ela tem razão. Segundo o jornalista Renato Natividade, especialista em marketing digital, os políticos do Sul Fluminense não estão usando a estratégia da forma correta e acabam ganhando antipatia. “Um exemplo seria um candidato evangélico que quer o voto desse nicho: se ele fizer uma propaganda com uma linguagem para esse público, ele poderia direcionar a peça publicitária apenas para esse segmento. Se ele enviar para todo mundo, vai gastar dinheiro à toa e pode gerar antipatia”, argumenta.
Natividade, entretanto, reconhece que a internet pode ser uma boa ferramenta para os candidatos. “As redes sociais permitiram que candidatos com pouco recursos possam equilibrar a disputa com quem tem muito dinheiro. O político que não tem recurso para fazer muitos materiais impressos pode investir na internet, mas lembrando que tem que ser com estratégia. E a campanha nas redes sociais tem que ser complementar, e não a principal. Ela tem que completar o que o político fala nas ruas, em posicionamentos e outros”, concluiu.
Já o publicitário volta-redondense Diogo Veloso destaca que, como estratégia, o político pode alcançar bastante eleitor nas redes. “Um cabo eleitoral com uma bandeira na rua atinge um número limitado de pessoas. Nas redes, o candidato pode chegar a mais pessoas. Além disso, há ferramentas em que o candidato pode levar o internauta a conhecer mais suas propostas e história”, destacou, ressaltando que uma das vantagens seria não fazer sujeira – como santinhos jogados nas ruas –, gerar trânsito, entre outros.
O Tribunal Superior Eleitoral estabelece que a propaganda eleitoral paga na internet deve ser feita somente por candidatos, partidos, coligações ou federações partidárias e precisa ser identificada como tal onde for exibida (o que nem sempre fica evidente).
Confira a lista dos candidatos que já gastaram, até sexta, 16, com propaganda paga nas redes sociais como no Facebook e Instagram, entre outros:
DEPUTADO FEDERAL
Antônio Furtado – R$ 20 mil
Samuca – R$ 7,5 mil
Deley – R$ 5 mil
Dinho – R$ 2 mil
Furlani – R$ 24 mil
Raone – R$ 10,5 mil
Leonardo Vidal – R$ 5,5 mil
Renan Marassi – R$ 50 mil
Paulo César Alves – R$ 1 mil
Carlinhos Santana – R$ 5 mil
DEPUTADO ESTADUAL
Betinho Albertassi – R$ 15,6 mil
Alexandre Fonseca – R$ 1 mil
Gustavo Tutuca – R$ 19 mil
André Corrêa – R$ 63 mil
Bruno Marini – R$ 10 mil
Tande Vieira – R$ 2 mil
Inês Pandeló – R$ 500
Noel de Carvalho – R$ 18 mil
Célia Jordão – R$ 7,7 mil