Liderados pelo prefeito Rodrigo Drable e diante de Gotardo Netto (deputado estadual) e Deley de Oliveira (deputado federal), representantes de diversas entidades de Barra Mansa, como Aciap, CDL e Sicomércio, além de empresários locais, declararam guerra ao governo Pezão. O conflito só não foi às vias de fatos na tarde de quinta, 23, quando um emissário do governador pediu, acenando com uma bandeira branca, uma trégua de 60 dias para resolver de vez o problema da transferência ou não da Inspetoria da Receita Estadual de Barra Mansa para Volta Redonda.
O prazo vence no final de abril e até lá, garantiu ele – que foi identificado como Luiz Cláudio Gomes, subsecretário estadual de Fazenda -, tudo fica como antes. “O caminhão (da mudança) vai voltar”, comemorou Gotardo, sendo aplaudido por todos. “Ele confirmou que a inspetoria já tinha retirado os móveis, equipamentos e documentos do imóvel, mas vai retornar para o local. E prometeu que em até 60 dias vai ter uma solução concreta para a situação”, garantiu o parlamentar voltarredondense.
Até a boa notícia ser dada, os ânimos estavam exaltados na reunião realizada no gabinete de Rodrigo Drable. Tanto que o próprio prefeito de Barra Mansa chegou a sugerir que todos fossem ao Palácio Guanabara e bancassem o envio de 20 ônibus (cerca de 700 pessoas) para protestar contra a decisão do governo do Estado de mandar desocupar o imóvel que a Inspetoria da Receita Estadual ocupava no centro da cidade. E que tudo fosse levado para Volta Redonda. Detalhe: a mudança já tinha sido feita no dia anterior, quarta, 22. “Eles usaram dois caminhões para fazer a mudança. Tiraram até a placa (de identificação) da Receita”, revelou um dos empresários.
Como a reunião não estava agendada, Rodrigo, ao aceitar conversar com dirigentes e empresários, chegou a pedir que a mesma fosse rápida e objetiva. Não foi. Carlos Magno, dono do imóvel ocupado até então pela Receita Estadual, foi um dos primeiros a falar e não deixou por menos. Revelou que estava há mais de um ano sem receber os aluguéis, da ordem de R$ 6 mil mensais. “Estou há 18 meses sem receber” denunciou, aproveitando para revelar que não foi comunicado oficialmente, como prevê o contrato firmado por ele com o governo do Estado, da inesperada mudança. “Deveria ter sido comunicado com antecedência, não sei se no prazo de 30 dias ou 60 dias. Mas tinha que ser. Eles (Receita) simplesmente encaixotaram tudo, colocaram nos caminhões e foram embora. É falta de consideração”, ponderou. “Saíram sorrateiramente”, acrescentou outro.
O problema financeiro do empresário, que quer receber cerca de R$ 150 mil de aluguéis atrasados, foi deixado de lado e passou-se a discutir a solução da transferência ou não da Inspetoria. Para muitos, a prefeitura de Barra Mansa poderia assumir o aluguel do imóvel, de R$ 6 mil mensais, ou encontrar um imóvel – no Parque da Cidade – para alojar a sede da Inspetoria. As duas alternativas foram descartadas por Rodrigo Drable. “A prefeitura não tem como assumir esse aluguel. Nós estamos terminando com os nossos. Estamos devolvendo tudo que é imóvel alugado”, avisou, para logo a seguir dizer, em tom irônico, que não daria para levar a Receita para o antigo quartel do Exército. “O Ministério Público Federal quer criar lá o Museu da Ditadura”, disse.
Rodrigo foi além. Lembrou a todos que tinha recebido um pepino das mãos do seu antecessor, o comunista Jonas Marins. “Quando assumimos a prefeitura, a previsão era encontrar cerca de R$ 130 milhões a R$ 160 milhões de dívidas. Mentira. Hoje elas estão na casa de R$ 350 milhões, sendo que R$ 250 milhões são de despesas essenciais, não tem como cortar. A gente não tem condição nenhuma de pagar o que deve. Nenhuma”, desabafou Rodrigo.
Logo a seguir, Rodrigo foi sincero e duro ao deixar claro a todos que brigar com o governo do Estado pela permanência da Receita Estadual em Barra Mansa não seria a sua maior prioridade. “Olhando nos olhos de vocês, eu digo: tenho muitas prioridades a resolver. Uma delas é que Barra Mansa pode ficar sem as ambulâncias do Samu” disparou, explicando que as verbas carimbadas que chegavam para o pagamento do Samu teriam sido usadas em outras despesas. “Estamos sem pagar o Samu há 24 meses. Corremos o risco de sermos expulsos do Samu”, disparou. “Expulso significa ser excluído; não ter mais o serviço das ambulâncias”, acrescentou. “Como vamos ficar sem ambulâncias?”,indagou, insistindo na tese de que existem muitas coisas mais difíceis a enfrentar.
O desabafo de Rodrigo deu certo e todos se colocaram à disposição para debater, em reunião marcada para 2 de março, todos os casos que o prefeito julgue necessário ter a ajuda das entidades. “Perder a receita pra Volta Redonda marca o fim de Barra Mansa”, exagerou um deles, voltando à pauta original. Foi interrompido por Rodrigo. “Tem que ir prá briga, sim. Eles não dão nada. Não vou deixar de brigar. Temos que ir ao Rio para mostrar que não estamos satisfeitos com a transferência”, ponderou o prefeito.
Insatisfação
Para muitos, a transferência da Inspetoria para Volta Redonda, que já foi tentada em 2013, quando Sérgio Cabral, hoje preso, era o governador, pode ser apenas política. Que não será digerida pelos barramansenses. “Até os contadores de Volta Redonda não querem essa mudança. Se acontecer, o serviço lá (em Volta Redonda) vai piorar muito”, teorizou o representante da classe dos contadores de Barra Mansa. “Nós somos 200 contadores e, com a mudança, teremos que ir a Volta Redonda. Isso é um contrassenso”, ponderou.
Além de não agradar, a mudança, dizem, pode atrapalhar o desenvolvimento de Barra Mansa. “Já temos um ambiente difícil para atrair e manter empresas no município e a saída da inspetoria só traria mais complicações. Desde que ficamos sabendo da mudança do órgão, no início da semana, estamos nos mobilizando junto ao prefeito e deputados para reverter essa situação”, destacou Arivaldo Corrêa Mattos. “Qual empresa vai querer se instalar em Barra Mansa se tudo que for necessário para a administração da mesma tiver que ser feito em Volta Redonda?”, questionou o representante do Sicomércio.
Ele também criticou Pezão por querer economizar R$ 6 mil de aluguel e, ao mesmo tempo, gastar muito pagando altos salários a Neto, ex-prefeito de Volta Redonda. “É uma contradição”, disparou. A comparação, é claro, não agradou a Deley e Gotardo. Nem a Rodrigo Drable. “O Neto, se você não lê jornal, já conseguiu cerca de R$ 400 milhões por mês a mais para o governo do Estado”, retrucou Deley. “O Neto não é o secretário estadual de Fazenda, não cabe a ele resolver isso. Ele está até tentando ajudar a manter a Receita em Barra Mansa. Ele me confidenciou isso”, acrescentou Rodrigo, prometendo marcar uma reunião com Pezão para que todos os presentes fossem exigir que a Inspetoria não saia de Barra Mansa.
Rodrigo aproveitou para fazer uma comparação. “A Receita Estadual fatura muito cobrando o ICMS de todo mundo aqui em Barra Mansa, então não justifica a economia que querem fazer em cima do nosso povo”, argumentou, prometendo levar todos até Pezão. “Ele tem que nos ouvir”, disparou, insistindo na tese do protesto na porta do Palácio Guanabara, cuja serventia tinha sido questionada. “Pode até ser mais um protesto dos muitos protestos que o Pezão está enfrentando. Mas nós temos que fazer o nosso. Temos que dizer a ele que não gostamos de como decidiram e, além disso, que não concordamos com a transferência da Receita Estadual para Volta Redonda”, justificou.
A ira dos presentes para com o governo do Estado só abrandou quando a representante da Firjan apresentou a sugestão de, ao invés de fechar a sede da receita em Barra Mansa por conta das despesas com aluguel, que fosse fechada a de Volta Redonda. “O contrato (da receita) de Volta Redonda deve ter sido revalidado e a sede fica na Amaral Peixoto, será que o custo com o aluguel não é maior do quem em Barra Mansa? Ela poderia muito bem funcionar em Barra Mansa, que é mais ampla”, ironizou.
O empresário Vivaldo Barbosa chegou a apresentar duas propostas a Rodrigo, Gotardo e Deley. Uma seria a sua empresa se responsabilizar pelo pagamento dos aluguéis para que a receita permanecesse em Barra Mansa. “Pago os aluguéis com ICMS”, disse, referindo-se a um possível encontro de contas com a máquina estadual. “Não quero nada dele (Carlos Magno, dono do imóvel ocupado pela receita). Pago a ele e o estado abate do ICMS que tenho que pagar”, propôs.
A segunda era mais ampla. “Juntamos um grupo de empresários e pagamos o aluguel, abatendo do IPTU que temos que pagar à prefeitura. A prefeitura, por sua vez, faz um encontro de contas com o governo do Estado. No dia em que ele (Pezão) tiver dinheiro para pagar o aluguel, tudo volta ao normal”, avaliou. Apesar da boa vontade, as propostas não despertaram o interesse dos demais. Deley, por exemplo, lembrou que não existe legislação a respeito que facilite tal operação.
“Estamos fazendo nosso papel de defender o desenvolvimento de Barra Mansa. A mudança da inspetoria só traria prejuízos aos empresários e prejudicaria o atendimento em Volta Redonda, que ficaria super lotado. Agradecemos o empenho dos deputados e do prefeito. Vamos continuar acompanhando essa situação”, finalizou Alberto dos Santos Pinto.