Por Vinícius de Oliveira
Apesar do surto de dengue que assola o estado do Rio, o carnaval já está fervendo nas principais cidades do Sul Fluminense. Em Volta Redonda, um dos assuntos principais é o retorno do Bloco da Vida, criado e mantido pela prefeitura, que não desfilava desde 2020 devido à Covid-19. Com- posto, em sua maioria, por idosos, o bloco está nos ajustes finais para sua apresentação, marcada para a noite de hoje, sábado, 10, na Vila, a partir das 20 horas. O desfile terá concentração às 18 horas, na Rua 43, próximo ao Clube Umuarama, seguin- do em direção à Rua 21, passando pela 14. Ricardo Ballarini, presidente do Banco da Cidadania – instituição responsável pelo famoso bloco – não con- firma, mas estima-se que, só em fantasias, o Poder Público tenha investido cerca de R$ 300 mil.
Mas nem tudo é confete e serpentina. Na cidade do aço, ao menos três blocos tradicionais não vão ganhar as ruas por motivos distintos. Um dos primeiros a engavetar as fantasias e guardar o glitter foi o bloco LGBTFolia. Motivo: autorizado apenas a reunir seus foliões na Ilha São João – enquanto os idosos podem se divertir na rua –, os organizadores
alegaram falta de recursos para bancar a taxa de R$ 25 mil cobrada pelo Banco da Cidadania para a utilização do espaço. “Só para empresário isso. Quem faz parte de orga- nização não governa- mental e sem fins lucrati- vos não tem essa contra- partida para oferecer”, comentou Natã Teixeira Amorim, presidente da Liga Independente de Blocos de Rua de Volta Redonda.
Enquanto o bloco LGBTQIAPN+ sucum- bia ao capitalismo, o bloco ‘Orla da Volta Grande’ foi impedido de desfilar por ordem de traficantes, que não querem ‘bagunça’ no complexo do Santo Agostinho, com a presença de foliões de áreas rivais. A decisão se deu por conta da morte de ‘Cabeça’, um dos principais traficantes do Morro da Conquista, executado no dia 23 de janeiro, à luz do dia, na porta de uma agência de carros. O caso chocou os moradores, deixando-os ainda mais vigilantes com a guerra das drogas que se intensifica na região dia após dia.
Já o bloco ‘Arrastão do Conforto’, cujos foliões são conhecidos como inimigos do fim do carnaval, não vai sair neste ano por ter
descumprido o horário de encerramento da folia em 2023. “O bloco foi alvo de reclamações dos moradores. A prefeitura chegou a oferecer outras alternativas para o grupo, mas ele não aceitou. Vai ficar sem desfilar”, contou Natã Teixeira Amorim, presidente da Liga Independente de Carnaval de Volta Redonda.
Outro ponto negati- vo que ronda o carnaval local diz respeito à acessibilidade. E isso não é uma falha apenas de Volta Redonda. Barra Mansa também não se preocupou com a pauta, apesar da questão de inclusão de pessoas com deficiência (PCDs) na festa do momo ser discutida nas capitais há bastante tempo. No Rio de Janeiro, por exemplo, o bloco ‘Foliões da Abrace’, em Copacabana, tem atraído muita gente com deficiência desde 2018. A iniciativa é da Associação Brasileira de Reabilitação e Assistência aos Cegos e Surdos (Abrace), contando com o apoio da vereadora Luciana Novaes (PT), primeira tetraplégica a atuar na Câmara do Rio. Para a parlamentar, que perdeu os movimentos em 2003 após um incidente violento, o lugar da pessoa com deficiência é onde ela deseja estar.
“Nós também merece- mos nos divertir, e o car- naval é uma festa genui- namente inclusiva. Todos somos iguais, mesmo com nossas particu- laridades”, defende.
Questionado sobre o assunto, o presidente da Liga volta-redondense disse que estão em busca de investimentos para desenvolver projetos para o carnaval, inclusive de acessibilidade. “Assim como acontece com a Folia de Reis, estes grupos recebem verbas e podem se estruturar melhor. A Liga de Carnaval de Volta Redonda não recebe, assim fica difícil pensar em projetos desse tipo. A prefeitura contribui apenas com banheiros químicos e com a Guarda Municipal”, comentou Natã, elogiando a atuação dos secretários Luiz Henrique, da Ordem Pública, e Anderson de Souza, da Cultura. “São democráticos. Estão junto com a gente”, completou.
Mas dinheiro não deveria ser o problema. No final do ano passado, os vereadores se reuniram para votar a liberação de uma verba oriunda da recente Lei Paulo Gusta- vo, uma iniciativa pleiteada por artistas durante a pan- demia do Coronavírus para subsidiar a pasta de Cultura, que em Volta Redonda é responsável pelo carnaval. Cerca de R$
2 milhões foram destina- dos para a secretaria.
E Anderson explicou ao aQui que a verba está sendo aplicada conforme preconiza a lei, sendo que neste ano decidiram não focar no carnaval, mas abriram editais que contemplavam os blocos. “Setenta por cento da verba foi para o audiovisual, festivais e oficinas ligadas ao cinema. Agora, 30% da verba foi para um único edital para contemplar 20 projetos que não fossem do audiovisual, que poderiam ser cultura popular, dança, teatro, carnaval etc. Mas, dos inscritos, apenas um foi relacionado a carnaval: o bloco ‘De Volta na Redonda’”, disse.
O presidente da Liga Carnavalesca de Volta Redonda explicou que preferiu não se inscrever
no edital da Secretaria de Cultura, pois esperava obter mais verba do governo do Estado. “Nos inscrevemos nos editais que o governo do Rio de Janeiro costuma lançar, mas até o momento ainda não fomos contemp- lados”, lamentou Natã, salientando que correrá atrás dos vereadores em busca de um projeto de lei garantindo verbas fixas para a Liga. “É isso que a gente busca: paridade entre os segmentos da Cultura para fomento de manifestações populares e de rua, dando acesso às pessoas que não conseguem estar dentro de teatros, estádios e shows. É importante esse reconhecimento e valorização que vem sendo invisibilizada em todo nosso território. Vejo que falta vontade política”, avalia.