Pollyanna Xavier
A CSN deu um passo importante na questão que envolve o Volta Grande IV. A empresa finalmente conseguiu apresentar aos moradores o estudo ambiental sobre a qualidade do solo do bairro, desenvolvido – a pedido dela – pela consultoria ambiental independente New Fields. A empresa, que tem como cliente as forças armadas dos Estados Unidos, declarou que, em termos ambientais, o Volta Grande IV “é um local seguro para se viver”, e que os dejetos da CSN encontrados no solo do bairro “não trazem qualquer risco aos moradores”.
A declaração foi dada pelo diretor da New Fields, Daniel Moura, durante reunião na noite de quinta, 30, no Ciep Nelson dos Santos Gonçalves, no próprio Volta Grande IV. Participaram deste encontro cerca de 200 moradores do bairro, representantes do Ministério Público Estadual e Federal e da própria CSN, sendo que o Inea nem mandou representante. Mais cedo, Daniel concedeu uma entrevista exclusiva ao aQui, onde afirmou que as substâncias encontradas no solo e na água do bairro não são prejudiciais à saúde da população local.
“Recolhemos quase mil amostras de vapores de solo, solo e água em todo o bairro. Não encontramos nenhuma substância, além dos limites permitidos pelos órgãos reguladores, que possam trazer prejuízos à saúde dos moradores”, garantiu, afirmando que o bairro foi minuciosamente avaliado. “Posso te afirmar que, pela quantidade de amostras coletadas, este é uma área de maior investigação e monitoramento ambiental no Brasil”, emendou.
Segundo Daniel Moura, as amostras coletadas seguiram o protocolo da Legislação Ambiental Brasileira e, em parte delas, foram encontrados resíduos de escória compatível aos materiais particulados da CSN. A escória, porém, explicou Daniel, teria sido encontrada em apenas 10% do Volta Grande, a uma profundidade de um metro. “O resíduo está em uma área específica do bairro. E o vapor que emana do solo não está acima, nem mesmo no limite do que a Legislação preconiza. Verificamos que os índices estão bem abaixo do permitido”, garantiu, acrescentando que os riscos são avaliados levando-se em consideração a concentração do material encontrado e o grau de contato com o ser humano.
Questionado sobre o risco de se plantar hortas no bairro, Daniel Moura disse que não há qualquer restrição ao cultivo de vegetais e hortaliças. A CSN, porém, lembrou que existe uma decisão antiga do Inea que proíbe a população do Volta Grande IV de fazer hortas em seus quintais e que, embora os estudos da New Fields indiquem a ausência do perigo em ingerir alimentos plantados no solo do bairro, a CSN não vai confrontar a decisão do Inea. “O risco para cultivo de vegetais não existe. As pessoas podem plantar em seus quintais e podem consumir o que plantam. Porém, não vamos confrontar o Inea nesta questão. Se ele recomendou que não se plante nada, vamos respeitar, até que ele mesmo (o Inea) reavalie sua decisão”, pontuou Alexandre Campbell, assessor de imprensa da CSN.
Contraprova
Daniel Moura rebateu as críticas que o Inea e tanto o MPF quanto o MPE fizeram ao estudo elaborado pela New Fields. Ele garante a credibilidade dos resultados e mandou um recado para os órgãos reguladores. “Somos uma consultoria ambiental independente, com sede nos Estados Unidos. Atendemos empresas do mundo inteiro. As forças armadas americana são nossos clientes. Prestamos consultoria para a Agência Americana Ambiental, que é uma espécie de Ibama brasileiro. Temos um nome forte e somos totalmente responsáveis civil e criminalmente pelo nosso trabalho. A CSN é uma cliente pequena diante da extensão do nosso portfólio e da nossa carteira de clientes. Não nos queimaríamos por conta de um trabalho isolado”, declarou Daniel. “O estudo realizado pela New Fields seguiu uma investigação geoforense e foi desenvolvido segundo o protocolo do Conama”, reforçou.
O consultor ambiental disse ainda que, se os órgãos reguladores brasileiros e a Justiça não confiam no trabalho executado pela New Fields, que façam uma contraprova e apresentem os resultados à população “Toda análise é muito bem-vinda e só vai agregar valores ao nosso estudo”, avaliou. Sobre este assunto, o aQui apurou junto a uma fonte da CSN que os estudos da New Fields são resultados de um antigo pedido do Inea, que exigiu na Justiça que a Siderúrgica apresentasse relatórios sobre a qualidade do solo do Volta Grande IV. Estes estudos, inclusive, foram concluídos em 2015 e protocolados junto ao Inea em agosto daquele ano. “Na época, a CSN protocolou e pediu que o Inea fizesse uma avaliação sobre os resultados”, contou a fonte. A empresa teria esperado por dois anos e não foi atendida até hoje.
No encontro na noite de quinta, 30, os moradores puderam tirar todas as suas dúvidas, fazendo perguntas e discutindo as questões ambientais que envolvem o bairro. Todos os questionamentos foram atendidos pela CSN e pelos técnicos da New Fields. Se alguém saiu do encontro com alguma dúvida, não foi por falta de esclarecimento da empresa.