quinta-feira, março 28, 2024

Doação legal

VAQUINHA

Roberto Marinho

Que todo mundo está cansado da classe política, não é mistério pra ninguém. Mas o fato é que as eleições de outubro estão aí, e todos os brasileiros em idade de votar – querendo ou não – serão obrigados a ir às urnas para escolher seus representantes. E, no mar de candidaturas, geralmente se sobressai aquele que tem mais dinheiro, ou que está há mais tempo na política. Mas uma mudança na legislação eleitoral pode tornar a competição pelo voto do eleitor um pouco mais justa – ou um pouco menos injusta.

 

Trata-se do crowd-funding – ou vaquinha virtual, na versão abrasileirada –, tipo de financiamento coletivo muito usado por artistas e bandas independentes, pequenas empresas e todos aqueles que não têm acesso ao financiamento tradicional, oferecido por bancos ou investidores particulares.

 

Em um site especializado – há milhares deles – o interessado lança sua ideia, obra ou produto, e pede a contribuição voluntária dos internautas. As campanhas, como são chamadas, geralmente têm um prazo de validade e uma meta de arrecadação a ser batida dentro deste tempo. Se a ideia é boa, geralmente o interessado consegue atingir o objetivo, às vezes arrecadando quantias surpreendentes.

 

Os políticos tradicionais, cujos partidos têm acesso ao dinheiro do Fundo Partidário e outras formas de financiamento, ainda que mais restritas com a nova lei eleitoral, também se preocupam com o financiamento de suas campanhas, mas bem menos que aquele candidato estreante nas urnas, que não é político “profissional” e não tem ninguém para bancar os custos de campanha. É aí que entra a vaquinha virtual.  

 

Um exemplo disso é o pré-candidato a deputado estadual pelo PTB Elias Raffide, o Peça. Natural de Barra Mansa, o publicitário está estreando nas urnas, e garante que a vaquinha virtual vai ajudar muito candidaturas como a dele.  “Acho a vaquinha virtual um instrumento fantástico. Ela democratiza a campanha e ajuda ‘Davis’, como eu, a enfrentar os candidatos ‘Golias’, que devem gastar em média R$ 4 milhões em suas campanhas. Acho que vai ajudar os estreantes na política, como é o meu caso”, aponta Peça, que não vê desvantagens na nova modalidade de doação. “Só vejo vantagens e a principal delas, creio, seja a transparência”.

 

O publicitário revela que deve gastar “cerca de 5%” (aproximadamente R$ 200 mil, grifo nosso) do que gastaria um candidato tradicional, e conta só com a ajuda da campanha virtual. A dele já está no ar em uma das empresas autorizadas pelo TSE para receber as doações virtuais. 

 

Com a experiência de quem já trabalhou em campanhas eleitorais por 22 anos, Peça sabe como vai usar o dinheiro. “Como eu trabalho em campanhas eleitorais há muito tempo, consegui descontos enormes de meus fornecedores. Além disso, o marqueteiro não está me cobrando (risos). Por isso, pretendo usar quase todo o valor arrecadado na vaquinha na contratação de pessoal para distribuição de folhetos e materiais gráficos nas 92 cidades do estado”, aponta.

 

Mas Peça acha que a maioria dos candidatos continuará arrecadando dinheiro da maneira tradicional. E ele pode ter razão: em um levantamento feito pelo aQui, nenhum dos pré-candidatos mais tradicionais da região está pedindo dinheiro usando as vaquinhas virtuais. Pra estes, o publicitário tem um recado: “Minha dica pros políticos tradicionais é para que mudem de profissão, porque a ‘vaquinha’ de vocês já foi pro brejo”.

 

Leia a entrevista com Peça:

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aQui: Como candidato, o que acha da vaquinha virtual? Vai criar para ajudar a bancar a sua campanha eleitoral?

Elias Raffide, o Peça: Acho a vaquinha virtual um instrumento fantástico. Ela democratiza a campanha e ajuda “Davis”, como eu, a enfrentar os candidatos “Golias”, que devem gastar em média R$ 4 milhões em suas campanhas. Inclusive já fiz a minha. Quem quiser contribuir, basta acessar www.doacaolegal.com.br/eliasopeca

 

aQui: Quais são as vantagens e desvantagens que vê em criar uma vaquinha virtual?  

Peça: Só vejo vantagens e a principal delas, creio, seja a transparência.

 

aQui: Quanto espera gastar na campanha e quanto pretende arrecadar?  

Peça: Minha expectativa é de gastar cerca de 5% (isso mesmo, cinco por cento) de um candidato tradicional. E pra isso contarei apenas com a ajuda dos amigos.

 

aQui: Acha que isso poderá facilitar a vida dos candidatos, financeiramente falando?

Peça: Sim, mas a longo prazo, pois acredito que nesta eleição a grande maioria dos candidatos continuará arrecadando recursos da forma antiga (e ilegal), ou seja, através de caixa dois.

 

aQui: Acha que isso poderá ajudar aqueles com pouca tradição na política?

Peça: Acho que o que vai ajudar os estreantes na política, como é o meu caso, é a vontade da população de tirar aqueles que não honraram a sua confiança, e colocar no lugar pessoas de bem, honestas e capazes de tirar o Rio de Janeiro do estado de calamidade financeira e moral em que o estado se encontra.

 

aQui: Em que área da campanha o dinheiro arrecadado será utilizado?

Peça: Como eu trabalho em campanhas eleitorais há 22 anos, consegui descontos enormes de meus fornecedores. Além disso, o marqueteiro não está me cobrando (rsrsrs). Por isso, pretendo usar quase todo o valor arrecadado na vaquinha na contratação de pessoal para distribuição de folhetos e materiais gráficos nas 92 cidades do estado.

 

aQui: Alguma dica para os candidatos que pretendem fazer o mesmo? Ou aos que ainda nem pensaram nisso?

Peça: Minha dica pros políticos tradicionais é… mudem de profissão, porque a “vaquinha” de vocês já foi pro brejo (rsrsrs)

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