segunda-feira, fevereiro 17, 2025
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Do luxo da 33 ao lixo, no Volta Grande

Pedras portuguesas, retiradas do coração da Vila Santa Cecília, estão abandonadas em terreno da prefeitura no Volta Grande

Por Mateus Gusmão

A retirada de milhares de pedras portuguesas das calçadas existentes no coração
da Vila Santa Cecília, em Volta Redonda, para serem substituídas por pisos de concreto, de
qualidade inferior e péssimo visual, já foi motivo de diversas reportagens do aQui. Afinal, a troca das históricas pedras não foi explicada até hoje e gerou críticas por parte da população. Além disso, muitos passaram a questionar o que estaria sendo feito com o material removido das Ruas 12, 14 e, principalmente, da 33, entre outras. Há até quem garanta que, no passado, boa parte das pedras portuguesas foi levada para sítios de volta-redondenses ilustres, o que ainda não foi provado com fotos.
O aQui chegou a ser informado que as pedras retiradas estariam sendo levadas para a sede da antiga SMI (secretaria de Infraestrutura de Volta Redonda), onde ficariam armazenadas à espera de uma destinação final. O que ninguém sabia – e que foi descoberto agora pela reportagem – é que as pedras estão abandonadas, sucateadas. Detalhe: estão jogadas em uma área da fábrica de pré- moldados da prefeitura, no Volta Grande. “O mato já tomou conta de tudo pelo tempo decorrido”, disse uma fonte do aQui, ao enviar uma foto do local.
Vale destacar que as pedras portuguesas, um bem cultural da cidade do aço, valem muito dinheiro. E, jogadas ao relento, são um desperdício de dinheiro público. Segundo um profissional ouvido pela reportagem, as pedras valeriam – usadas e lavadas – R$ 45,00 o metro quadrado. “Como qualquer outro material, ao estar jogado em um canto, há uma perda grande. As pedras estão sujas, sem limpeza. É um desperdício de dinheiro público. Temo que, se um dia resolverem usá-las, as pedras possam não estar mais em condições de uso”, opinou.
A fonte destacou que hoje as pedras portuguesas custam caro. “Na Rua 33, existem duas calçadas laterais de cinco a seis metros cada, por baixo. Somando as duas, teremos 10 metros. Como a extensão da 33 é de quase 1000 metros, fazendo uma conta simples, 10.000 m2 a R$ 45,00, só as pedras retiradas devem valer cerca de R$ 450 mil”, pontuou.
Tem mais. A empresa que está fazendo a reforma da 33 – que já dura mais de dois anos – recebeu recursos para retirar cada metro quadrado de pedra. “Onde foram parar as pedras portuguesas da Rua 33, patrimônio histórico e bem cultural material da Vila de Santa Cecília? São 10.000 m2 só na 33. Material recuperável e reaproveitável”, disse, lembrando que em cartões-postais do Rio de Janeiro, por exemplo, como as orlas de Copacabana, Ipanema e Leblon, é comum a utilização das pedras portuguesas. “E não tem reclamação, por um motivo: lá é feita a manutenção das pedras. Aqui em Volta Redonda, preferiram jogar fora e colocar um piso horrível no lugar delas”, disse.
A fonte lembrou que a justificativa para a retirada das pedras portuguesas seria a questão da acessibilidade e que as pedras soltavam, provocando riscos aos pedestres. “O problema é igual a qualquer outro material. Se não houver manutenção com esses blocos de cimento, que estão colocando agora, vai acontecer o mesmo que acontecia com as pedras portuguesas. Quando a manutenção da cidade era feita pela CSN, até os anos 70, não se via pedras soltas. Uma pena”, disse. “Ficaria mais barato fazer uma manutenção criteriosa nas pedras portuguesas, mantendo o fator histórico, cultural e sentimental”, completou.

NOTA DA REDAÇÃO: Questionada sobre o que será feito com as pedras portuguesas abandonadas no Volta Grande, a prefeitura de Volta Redonda não retornou até o fechamento desta edição.

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