Diretores do Sindicato dos Metalúrgicos estariam rompidos com Edimar & Tarcísio

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Por Pollyanna Xavier

A inauguração de uma filial da CSP Conlutas na São João, em Volta Redonda, no último final de semana, pode servir de termômetro para medir a temperatura na sede do Sindicato dos Metalúrgicos. E é bom que se diga, ela está alta, muito alta. Por dois motivos: o primeiro é que o evento do Conlutas aconteceu simultaneamente a um oba-oba do PCdoB, do qual Edimar é filiado. Ele ‘deu um migué’ e acabou indo prestigiar a agenda comunista, enquanto seus diretores marcavam presença na agenda sindical. Alguns, inclusive, aproveitaram o evento para se filiar à central sindical.
O segundo motivo não chegou a surpreender, porque já é de domínio público a existência de um racha entre Edimar e a maioria dos seus diretores. Há quem garanta que o relacionamento entre eles não seria nem mais amistoso e a razão tem nome, sobrenome e histórico: o advogado Tarcísio Xavier, ex-sindicalista que militou no Sindicato na Greve de 88 e que vem se mantendo na oposição sindical há anos (mesmo sem ter vínculo com qualquer empresa da base).
Hoje, Tarcísio é advogado pessoal e assessor jurídico de Edimar. Ele apoiou o movimento deflagrado na CSN, em abril de 2022, que resultou na demissão de mais de 200 trabalhadores, dentre eles, nove integrantes de uma comissão trabalhista nunca reconhecida pela CSN, muito menos pela então gestão do Sindicato na época. Os nove tentam a reintegração na Justiça. Dois deles, inclusive, foram candidatos na chapa de Edimar – Odair Mariano e José Marcos – mas acabaram afastados da mesa diretora do Sindicato, pela perda de vínculo com a base.
Nas redes sociais, o clima é tenso. O ‘Amigos da Onça’, perfil do Instagram, vem tratando Edimar como ‘ex-presidente do Sindicato’, como se quem comandasse a entidade fosse Tarcísio Xavier. “Edimar não está mais presidindo o Sindicato, pois sem pertencer a categoria metalúrgica, o Dr. Tarcísio passou a ser a pessoa que toma as decisões. Inclusive ele, que pertence ao Consultas, abriu uma sede na Rua São João, ali pertinho do Sindicato, de onde as decisões importantes serão tomadas, excluindo das decisões o restante da diretoria executiva”, escreveu.
O ‘Amigos da Onça’ cita ainda as “trapalhadas do Sindicato” na campanha salarial da CSN, e responsabiliza Tarcísio e Edimar pela confusão criada. “Esse fato já vinha se desenhando, já que vimos a trapalhada nas negociações coletivas, comandadas pelo Dr. Tarcísio e Edimar (sic)”. Mais adiante, o perfil cita o caso do assédio moral contra a advogada do Sindicato, Ana Paula Martins, que acabou demitida por justa causa por Edimar, depois que denunciou o que estaria passando dentro da entidade. “O recado dado aos trabalhadores pelo ex- presidente Edimar foi o seguinte: se um trabalhador denunciar um caso de assédio, as empresas estão autorizadas a demiti-lo por justa causa”, diz um trecho da publicação.
O perfil vai além. Alerta quanto à renovação do acordo do turno de 8 horas na CSN, que vence em novembro. Segundo uma fonte, que pede anonimato, no Sindicato, o que se comenta é que Edimar, orientado por Tarcísio, pretende propor a volta do turno de 6 horas na UPV ou a deflagração de uma greve. A fonte vai além e prevê que a CSN não irá aceitar a volta do turno de 6 horas, estabelecendo turno fixo, que iria prejudicar os trabalhadores do turno noturno. “Com todo esse racha e caos que se estabeleceu no Sindicato, já podemos prever como será a negociação do acordo de turno; na verdade, nem haverá negociação, já que o atual presidente Dr. Tarcísio não é a favor do turno de revezamento de 8 horas”, diz o ‘Amigos da Onça’.
Seja como for, o racha entre os diretores do Sindicato e Edimar Miguel é visível dentro e fora do órgão. Eles não estariam sendo chamados a participar das decisões e, quando as negociações são externas – com alguma empresa da base –, há muita divergência na tomada de decisões. Segundo apurado pelo aQui, dos sete diretores que compõem a executiva, cinco seriam filiados à CSP Conlutas e todos estariam rachados com Edimar. “Os diretores não são ouvidos em nada, pois as decisões são do Tarcísio, e o Edimar acata tudo. Ele não enxerga o que está acontecendo à sua frente. Isto pode afetar drasticamente o Sindicato e o trabalhador”, comentou a fonte.
Para ela, Edimar está se voltando contra quem tem poder estatutário e que, ao contrário da assessoria jurídica da presidência, pode mudar os rumos do Sindicato. Uma coisa é certa: a confusão sindical está não apenas no racha entre diretores e presidente, mas também no fato de a CSP Conlutas se fortalecer entre a executiva do órgão ao mesmo tempo em que Edimar é filiado ao PC doB e o Sindicato à Força Sindical. Um desalinho só.

NOTA DA REDAÇÃO: O aQui enviou um e- mail a Edimar Miguel para comentar um possível racha na diretoria do Sindicato e a liderança velada por parte de Tarcísio Xavier. Não houve resposta.