O grupo de idosos que mais sofre com a violência, em território fluminense, está na faixa etária de 70 a 74 anos. Isso mesmo, pode ser o seu pai, sua mãe. Ou avós. O levantamento foi divulgado pela Comissão de Assuntos da Criança, do Adolescente e do Idoso, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio, durante audiência pública realizada na segunda, 6, no plenário da Câmara de Volta Redonda. No encontro, parlamentares e especialistas debateram quem são os principais agressores e as diversas formas de violência e, segundo dados informados pela Comissão, cerca de 90% dos casos ocorrem na casa onde o idoso reside e os próprios filhos são os principais agressores. De acordo com o presidente do colegiado, deputado Munir Neto (PSD), o encontro teve como objetivo ampliar a conscientização sobre o tema e a discussão de políticas públicas a favor da população idosa na região. “Nós abordamos medidas para prevenir a violência, negligência e abuso contra a pessoa idosa”, disse.
Ao seu lado, a coordenadora do Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas) de Volta Redonda, Ana Carolina Coelho, explicou que, entre janeiro e setembro de 2023, o órgão atendeu 173 casos de pessoas idosas vítimas de violência intrafamiliar e outros 163 de negligência ou abandono. Além dos crimes de violência física e psicológica, também há relatos de exploração do recurso financeiro sem o consentimento da vítima, violência sexual e discriminação. “A violência física é mais comum de ser identificada porque deixa marcas. Já o abuso psicológico é mais difícil de ser detectado, porque muitas vezes ocorre de forma sutil. Outro tipo de violência que é muito comum é o abuso financeiro. Se lúcido e orientado, o idoso tem autonomia sobre seus gastos”, pontuou.
Os participantes do encontro também discutiram formas de prevenção à violência contra a população idosa. Para o defensor público Erick Ferreira de Souza, é preciso que haja uma rede de saúde e socioassistencial para detectar a violência física e psicológica, além de incluir a Defensoria Pública estadual entre os órgãos a serem comunicados em casos identificados pelas equipes de assistência social.
“Vejo a necessidade muito grande de melhora da integração operacional entre os órgãos que formam a rede de proteção. É preciso que haja mecanismos mais eficazes de detecção da violência, especialmente por terceiros”, comentou.
O vereador Ednilson Vampirinho (REP), de Volta Redonda, sugeriu que seja criada uma estrutura, em nível nacional, para defender os direitos da população idosa, que funcionaria de maneira similar aos conselhos tutelares. “Não oferecer a saúde básica também é uma forma de violência contra o idoso. Essas pessoas fizeram e continuam exercendo papel importante na sociedade e precisamos respeitá-las”, enfatizou.
Outro tipo de violência citado durante a reunião foram os golpes contra idosos aplicados através da internet. Mestre em Direito, Rodrigo Duarte Batista da Silva citou que isto é fruto do processo de incremento tecnológico que fez com que as pessoas mais velhas se tornassem “imigrantes digitais”. “É importante que a gente compreenda a causa dessa vulnerabilidade. É difícil comparar uma pessoa que já nasceu nessa era tecnológica com um idoso, que são imigrantes digitais obrigados a entrar nesse ambiente. Com a pandemia, os golpes se intensificaram”, destacou.
10a no ranking com mais idosos no Brasil
Dados divulgados pelo IBGE mostram que Volta Redonda é a 10a no ranking das cidades com mais idosos no Brasil, considerando apenas os municípios com mais de 100 mil habitantes. Dos 261.563 moradores, 14,47% são idosos, mais de 37 mil pessoas. Já o Rio de Janeiro é o segundo no estado com maior percentual de população idosa no Brasil; 13,1% das pessoas têm 65 anos ou mais.
Além disso, Volta Redonda é conhecida por seus programas e ações voltados à Melhor Idade e, graças aos projetos direcionados ao bem-estar dos idosos, a cidade foi destaque no Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade, divulgado em outubro pelo Instituto de Longevidade (IDL), associação sem fins lucrativos que estuda os impactos socioeconômicos do envelhecimento. De acordo com o levantamento, Volta Redonda aparece como a primeira do Sul Fluminense no ranking que avaliou 5.570 cidades do país.
O objetivo do IDL é avaliar a capacidade dos municípios em criar as condições adequadas para um envelhecimento saudável e sustentável. No ranking nacional, Volta Redonda aparece na 58a posição; já no estado do Rio, a cidade está na quarta colocação, atrás apenas de Niterói, Itaperuna e Maricá, e ficando à frente, inclusive, da capital fluminense.
A avaliação do índice é feita com base em 23 indicadores, divididos em três variáveis: saúde, socioambiental e economia. Cada indicador busca mensurar os fatores que afetam a qualidade de vida da população com 60 anos ou mais. Para Gleisson Rubin, diretor do Instituto de Longevidade, é fundamental entender o que é preciso para garantir longevidade e um envelhecimento ativo e saudável à população. “O papel de um índice que permita entender a realidade municipal de cada localidade do país para lidar com os desafios e as oportunidades dessa proporção crescente de idosos é enorme”, ressaltou Gleisson.
‘Viva a Melhor Idade’
Com 55.380 pessoas acima dos 60 anos (21% da população) vivendo na cidade – de acordo com os dados atualizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do Censo 2022 –, Volta Redonda investe em diversas frentes para promover a saúde e o bem- estar da terceira idade. A prefeitura, por meio de diferentes secretarias, oferece programas e projetos que contribuem para essa meta.
Umdeleséo“Vivaa Melhor Idade”, desenvolvido pelas secretarias de Esporte e Lazer (Smel) e de Ação Comunitária (Smac), que premia os participantes assíduos de atividades da Smel e de grupos de convivência da Smac com passeios a destinos turísticos, incluindo atividades que promovem o lazer, socialização entretenimento e saúde para esse público.
“Neste ano as viagens estão sendo para Caxambu, em Minas Gerais, e no ano passado eles foram para Teresópolis (RJ). Além de beneficiar quem participa dos projetos da prefeitura, o ‘Viva a Melhor Idade’ faz com que nossos idosos tenham menos problemas de saúde e mais disposição. Eles interagem mais, e isso aumenta em pelo menos uns dez anos suas expectativas de vida, vivendo com mais qualidade”, lembrou o prefeito Neto.
Mais projetos
O município conta ainda com outros projetos voltados para a terceira idade. A área de assistência social, por exemplo, oferece espaços como o Centro-Dia para Idosos; o Centro-Dia Synval Santos (Alzheimer), além de ações como a Fanfarra da Melhor Idade. No quesito esporte e lazer, os idosos de Volta Redonda contam com as atividades de Ginástica para a Melhor Idade, realizadas em ginásios, quadras e outros espaços nos bairros, e a Academia da Melhor Idade, que funciona no Estádio Raulino de Oliveira.
Ainda no estádio, a Melhor Idade também se beneficia com a Academia da Vida Oscar Cardoso, unidade escolar da Fevre que oferece cursos para a terceira idade e visa reforçar a linha de cuidado e promover o envelhecimento saudável, com ações voltadas para a valorização da pessoa idosa.
“E temos muito mais para a nossa Melhor Idade, como a Patrulha do Idoso e o Núcleo de Atendimento ao Idoso da delegacia, para dar mais segurança, e o nosso tradicional Bloco da Vida, que retorna no ano que vem para alegrar a todos. O Poder Público tem esse papel de cuidar dos nossos idosos, que tanto contribuíram para a construção da nossa Volta Redonda”, ressalta Neto.