Por Pollyanna Xavier
A fábrica da Peugeot Citroen, localizada em Porto Real, pode sofrer uma baixa considerável em seu quadro de funcionários ainda este ano: mais de mil operários (contando com as unidades do Tecnopolo) poderão ser demitidos. A desculpa é a crise na Argentina e as barreiras de proteção impostas pelo governo de Maurício Macri. Mas o problema da Peugeot é mais centralizado. A marca não conseguiu emplacar seus dois últimos modelos – Air Cross (foto) e o C3. E o retorno do investimento feito há um ano, quando do lançamento destes dois veículos, está longe de ser alcançado.
A notícia da demissão foi divulgada pelo Sindicato dos Metalúrgicos, em boletim distribuído aos trabalhadores na tarde de ontem, sexta, 9. A publicação diz que na quarta, 7, a diretoria do Sindicato se reuniu com representantes da Peugeot para tentar resolver o problema e impedir as demissões. “A Peugeot apresentou ao Sindicato a atual situação da empresa com a queda na produção em função da crise na Argentina. A PSA justificou que, com o atual cenário, teria que reduzir o quadro de funcionários, acabando com o segundo turno de trabalho”, diz o órgão.
Uma fonte ouvida pelo aQui, ligada à Peugeot, contou detalhes do que vem acontecendo na empresa. Segundo ela, a ideia inicial era a redução de 30% da carga horária e, posteriormente, uma redução proporcional nos salários. “Com esta medida, a empresa afastaria as demissões”, contou. Porém, continua, a empresa teria desistido de mexer nos salários e na carga horária e optado pelo corte de um turno de trabalho. “Se ela levar esta ideia até ao final, cerca de mil operários poderão ser demitidos tanto na Peugeot quanto na MA, Benteler e outras empresas do Tecnopolo”, lamentou.
A fonte vai além. Conta que a Peugeot não teria a mesma fatia de mercado que a vizinha Nissan. E que os carros lançados no último Salão do Automóvel, com promessa de serem lideres de mercado, foram um fracasso. “A Peugeot investiu pesado em propaganda, mas não conseguiu vender o esperado. Se você olhar os relatórios de emplacamento da Fenabrave, vai ver que a Peugeot tem carros que ocupa o 24º lugar de venda, enquanto que a Nissan, por exemplo, está em 2º, 3º lugar. A Nissan está produzindo a todo vapor, as encomendas não param. A Peugeot não segue o mesmo ritmo”, comentou. “A Peugeot tem capacidade para produzir 320 carros por turno. Hoje estão na casa de 150 a 160 por turno”, emendou.
O arrefecimento do ‘mercado Peugeot-Citroën’, somado aos problemas econômicos na Argentina, foram cruciais para que a empresa levasse ao Sindicato a intenção de encerrar um turno na fábrica de Porto Real. A decisão, porém, ainda não foi acertada. E o Sindicato e a montadora estariam em negociação para tentar encontrar uma saída para a crise. “O Sindicato dos Metalúrgicos não aceitará o encerramento de mais um turno e entende que as demissões não são, e nunca serão, o melhor caminho”, disparou Silvio Campos. “Não vamos permitir esse massacre. Se a empresa for radical com as demissões, o Sindicato também será!”, avisou.
A crise na Peugeot já vem sendo sinalizada há alguns meses. Em setembro, o aQui publicou com exclusividade a nota divulgada pela própria montadora aos seus colaboradores, informando sobre a redução da produção na unidade, redução da jornada de trabalho e até sobre o cancelamento do almoço para um dos turnos. As mudanças ocorreriam a partir de 1º de outubro e se estenderiam até 31 de dezembro. Como justificativa, a Peugeot falou sobre a crise na Argentina – a marca exporta componentes, chassis e até carros já montados para o país vizinho.
“O recente agravamento da crise econômica vivida pela Argentina, para onde destinamos a maior parte da nossa produção, impactou fortemente o planejamento da produção do PIBR (Polo Industrial Brasil) para os próximos meses. Os cortes de pedidos de veículos na Argentina, somado ao atual desempenho das nossas vendas no concorrido mercado brasileiro, nos levaram a tomar importantes medidas para proteger os empregos dos nossos colaboradores e o nosso negócio na América Latina”, informa a nota, que foi assinada pela Equipe de Direção do Polo Industrial Brasil.
Land Rover
A montadora Premium, localizada em Itatiaia, também estaria enfrentando um revés financeiro muito grande. Só que a situação é abafada. Segundo apurou o aQui, no final do ano passado, todos os diretores de primeiro escalão da empresa (comercial, financeiro, recursos humanos, dentre outros) voltaram para Londres, de onde vieram. A equipe técnica de projetos, desenvolvimento e concepção já teria sido dissolvida e, para que não fizesse demissões em massa, a montadora teria feito um acordo com o Senai de Resende e Itatiaia, que absorveu os funcionários e os realocou em outras montadoras da região. Alguns foram para a MAN, outros para a Magneto, Nissan e até Peugeot.
Uma fonte ouvida pelo jornal disse que a saúde financeira da Land Rover – cuja marca integra o mercado de luxo – começou a decair, coincidentemente, depois que as investigações da Lava Jato chegaram ao governo do estado do Rio. E que a situação piorou de vez após a prisão de Sérgio Cabral, da sua esposa Adriana Ancelmo, e de alguns secretários do ex-governador. “É estranho. Não conseguimos relacionar um problema ao outro. Mas o fato é que depois que a Lava Jato chegou ao governo estadual, as vendas foram caindo gradativamente”, comentou a fonte. Estranho.