CSN pagará R$ 5 mil na negociação do turno

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Por Pollyanna Xavier

Na terça, 21, cerca de 5.200 metalúrgicos da CSN vão decidir no voto se aceitam, ou não, a proposta da empresa para a renovação do turno de oito horas na Usina Presidente Vargas. A primeira reunião para negociar o acordo foi realizada na quinta, 16, entre representantes do RH da CSN e a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos. A proposta foi a mesma oferecida, e aprovada, na GalvaSud e na CSN Cimentos: de R$ 5 mil de compensação financeira pela manutenção da jornada estendida. Se for aprovada, o turno de oito horas será renovado por mais dois anos consecutivos a partir de 1o de dezembro. Se for rejeitada, Sindicato e CSN devem voltar à mesa de negociação. Ou não…
A votação será na Praça Juarez Antunes, no horário das 6 às 16h30min, e vai envolver mais de cinco mil operários. A cédula de votação terá apenas duas opções à pergunta: “Você aprova o turno de 8 horas?” Sim ou não. Detalhe: um dos votantes, veja só, será o próprio Edimar Miguel, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos que, apesar de eleito, continua até hoje fazendo turno na CSN. Em postagens nas redes sociais, o sindicalista defende a volta da jornada de seis horas. “Fazer zero hora não é fácil”, comentou recentemente.
Ele foi além. Disse que, embora a CSN Cimentos e a Galvasud tenham aprovado a renovação da jornada de oito horas, Minas recusou. “Nós acreditamos que o turno de seis horas é o melhor para o trabalhador, para sua família e para a nossa região. Minas recusou, e lá o turno é de seis horas. Precisamos lutar por isso. No dia 21, precisamos dizer um grande ‘não’”, pediu em vídeo postado no Instagram do Sindicato.

Turno Fixo
Ao ser informada oficialmente do resultado da votação, a CSN poderá reabrir as negociações com Edimar Miguel. Mas isso é pouco provável. É que, antes mesmo do sindicalista ter protocolado o ofício pedindo a abertura das negociações, a empresa já estava estudando a implantação do turno fixo na UPV, como o aQui revelou com exclusividade na edição passada. E isso seria implantado já no dia 1° de dezembro, quando vence o acordo do turno de revezamento.
A CSN, segundo a fonte, teria duas alternativas legalmente aplicáveis: o turno de revezamento de 6 horas, defendido por Edimar, ou o turno fixo de 8 horas. Neste caso, ainda segundo a fonte, a opção será pelo turno fixo. O turno de 6 horas seria uma alternativa descartada pela empresa pelo fato de a CSN ter problemas para contratar o número de operários necessários em Volta Redonda. “Não existe mão de obra preparada para trabalhar na CSN de forma imediata”, disse.
Assim, pelo que a fonte revela, em 1° de dezembro, os metalúrgicos da Usina Presidente Vargas continuariam trabalhando em turnos de 8 horas. A questão é se será por revezamento ou fixo. Nesse último caso, por exemplo, um grupo de trabalhadores teria um horário fixo das 23 às 7 horas; outro grupo, das 7 às 15 horas; e um terceiro grupo, das 15 às 23 horas. Detalhe importante: todos sem mudança de horário.

RACHA
A reunião sobre o turno de 8 horas, realizada na CSN, seria mais uma entre tantas que o Sindicato já participou, se não fosse por um detalhe: mostrou que cinco dos seis diretores do Sindicato estão realmente rachados com Edimar Miguel – fato que o aQui vem falando desde maio. O pivô seria o assessor jurídico, Tarcísio Xavier, e a influência que ele exerce sobre Edimar.
A questão teria ficado clara em dois momentos distintos. O primeiro, às vésperas do último dia 9 (data dos 35 anos da Greve de 88), quando um boletim (quase apócrifo), sem assinatura e sem logotipo do Sindicato, foi distribuído entre os trabalhadores. Na publicação, textos em homenagem a William, Valmir e Barroso, mortos durante a greve, e um paralelo com a volta do turno de seis horas na UPV. A autoria do boletim foi atribuída ao Comitê de Luta, que seria liderado por Tarcísio Xavier, e formado por apenas dois sindicatos: dos Metalúrgicos e dos Vigilantes.
“Tarcísio está preso ao passado, ainda na Greve de 88 da CSN, não percebeu que os tempos mudaram e que o cenário é outro. Os trabalhadores daquela época se aposentaram e os que estão hoje talvez nem saibamoquefoio9de Novembro. A maioria dos trabalhadores de hoje nasceu depois da greve. Ele não consegue ver isto e achar que vai repetir aquela situação. O Tarcísio e o Edimar estão afundando o Sindicato por viverem no passado”, reclamaram os cinco diretores (Odair, Leandro, Alex, José Marcos e Marcelino), que se autointitularam ‘Grupo dos Cinco’ ou apenas G5.
O segundo momento foi na própria reunião do acordo de turno, quinta, 16, na CSN, quando Edimar – sem a presença de Tarcísio – não teria tocado na jornada de seis horas, e os representantes da CSN logo apresentaram a proposta dos R$ 5 mil para renovar o turno de oito horas. Edimar concordou em levá-la à apreciação dos trabalhadores. “Sem o Tarcísio por perto, o Edimar é outra pessoa. Ele escuta o grupo e respeita o direito do trabalhador”, comentaram.
Há ainda outro detalhe que pode indicar a falta de sintonia entre Edimar e os cinco diretores. Trata-se de um boletim publicado pelo G5 na noite anterior à reunião da CSN, dizendo que, embora a direção do Sindicato defenda a volta do turno de seis horas, os cinco “respeitam e apoiam o que os trabalhadores decidirem”. Na publicação, há uma foto dos cinco diretores reunidos, sem Edimar, e ainda um trecho onde deixam claro que a intenção do grupo sempre foi a de ouvir os trabalhadores em assembleia.
Para uma fonte ouvida pelo aQui, ligada ao Sindicato, mas que não pertence ao G5, Edimar se enfraqueceu ao seguir as orientações de Tarcísio. “O que está acontecendo é que o Edimar é muito fraco, aí o Tarcísio está conduzindo ele com aquela cabeça radical, fazendo uma política errada”, criticou. A fonte foi além. Disse que o racha entre a maioria dos diretores e Edimar existe desde abril, e o próprio Tarcísio admite a sua existência.
Em capturas de tela de conversas de WhatsApp enviadas ao jornal, Tarcísio teria admitido o racha em um grupo do Sindicato, depois que uma pessoa postou uma nota publicada no aQui falando da briga entre o grupo. “Infelizmente existe, sim”, concordou, para em seguida dizer que o presidente, Edimar Miguel, iria se manifestar sobre o racha. Não se sabe se a manifestação seria feita no grupo, para os membros, ou se nas redes sociais, para todos os trabalhadores.
Quanto ao G5, os diretores afirmaram que estão rachados com Edimar e admitiram ao aQui que foi um erro ter desmentido o jornal, na edição 1371, de 16 de setembro, quando eles negaram, em nota oficial publicada pelo Sindicato, ter rachado com Edimar Miguel. “Não valeu a pena ficarmos do lado dele”, desabafaram. “Ele pediu que nós assinássemos a nota desmentindo o jornal. Demos um voto de confiança pra ele, mas nos arrependemos. Não valeu a pena. Ele não mudou, não quis ouvir a gente”, desabafaram.
O grupo ainda criticou Edimar e a política de sindicalização que ele vem realizando junto aos trabalhadores. “Sindicalizar para quê, se eles não são ouvidos? O Edimar já chega nos acordos com uma pauta pronta, nunca escuta o trabalhador. Se o peão aceitar a proposta da CSN para a renovação do turno e o Edimar se recusar a assinar por achar que o turno de seis horas tem que voltar a todo custo, nós vamos tomar medidas punitivas contra ele”, avisou.
O aQui tentou falar com Edimar Miguel por meio do WhatsApp e ainda enviou um e-mail para o correio da presidência do Sindicato para saber mais sobre o que ele pensa fazer em caso de a CSN decidir pela implantação do turno fixo de 8 horas. Mas, até o fechamento desta edição, não houve qualquer resposta.