sexta-feira, março 29, 2024
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Crimes de ódio!

Diretores de escola municipal são agredidos por pai de aluna

Pollyanna Xavier

O horário de saída dos alunos da Escola Municipal Jayme de Souza Martins, em Volta Redonda, transformou-se em um caso de polícia na última segunda, 27. É que os diretores Vinicius de Oliveira e Aline Cerqueira foram agredidos verbal e fisicamente por um pai que se recusou a entrar na fila para esperar pela liberação dos estudantes. Impaciente, ele chamou o diretor de ‘viado’ e a vice-diretora de ‘crioula’ – fato que foi ouvido por outros pais – e tentou forçar a entrada na escola empurrando o portão. Ao ser impedido pela vice-diretora, ele empurrou o braço dela chamando-a de ‘ridícula’. Diante do ocorrido, Vinicius interferiu, mas foi empurrado e levou um chute do agressor. As cenas foram gravadas por alguns pais que estavam com celular e presenciaram o fato.
A escola Jayme Martins fica no Santo Agostinho – bairro com histórico de violência na cidade do aço. O agressor seria ex-presidiário, com 23 passagens na Polícia, suspeito de ter cometido diversos crimes, dentre eles cárcere privado, lesão corporal grave, estupro e até homicídio. A agressão aos diretores aconteceu no horário de saída, na frente de professores, alunos, funcionários e pais que buscavam seus filhos. Vinicius e Aline registraram Boletim de Ocorrência na 93ª DP e no dia seguinte foram enviados ao IML para exame de corpo de delito. “Eu espero que providências sejam tomadas, tanto pela Polícia quanto pela secretaria de Educação, no sentido de aumentar a segurança na escola”, afirmou Vinicius.
O diretor da escola é professor da Educação Infantil e jornalista freelancer da equipe do aQui. Abalado, ele contou que ligou para a secretaria de Educação no dia seguinte e foi orientado a fazer um relatório do ocorrido. Na ligação, chegou-se a cogitar a transferência da filha do agressor – uma criança de oito anos – para outra escola, a fim de evitar futuros contatos do pai com professores e funcionários da escola. Mas a medida fere o direito do aluno de estudar perto de casa. “Eu tenho a convicção de que ele se sentiu potente suficiente para fazer o que fez diante de cerca de 200 pessoas, porque é um homofóbico e racista. E tamb-ém porque existe essa sensação de impunidade para essas pessoas. Pessoas que cometem esse tipo de crime são vinga-doras”, desabafou Vinicius.
Tem mais. Vinicius lembrou que recentemente Volta Redonda sancionou uma lei que torna obrigatória a instalação de câmeras de monitoramento de segurança, catraca e detector de metal nas escolas de ensino fundamental da rede pública. A lei, de autoria do vereador Lela, dá um prazo de 180 dias, a partir da sua publicação oficial, para que a instalação dos equipamentos seja iniciada. “Eu acho que precisa ter uma cobrança em cima disso. Esses equipamentos vão ajudar na segurança nossa e de nossos alunos”, justifica.
Na quarta, 29, a secretaria de Comunicação da prefeitura de Volta Redonda foi procurada pelo aQui para se posicionar diante da agressão sofrida pelos servidores Viniciusa e Aline. Responsável pela Secom, Rafael Paiva se solidarizou com Vinicius, seu colega de profissão, e a SME enviou uma nota (ver box).
Repercussão
Na quinta, 30, depois que Vinicius se manifestou pelo grupo de WhatsApp dos pais dos alunos, muitos mandaram mensagens de apoio e palavras de solidariedade. Segundo ele, guardas municipais que foram enviados para fazerem ronda nas proximidades da escola perguntavam com frequência se estava tudo bem. Vinicius ainda recebeu telefonemas da Polícia Militar se colocando à disposição para qualquer emergência. “Esse apoio tem me ajudado a ficar bem. Os pais querem fazer um abaixo-assinado para pedir mais segurança, e essa movimen-tação é saudável para a escola”, comentou, acrescentando que ouviu de alguns pais que o agressor continua solto pelas ruas do bairro e teria passado em frente à escola exibindo uma arma. “Não sei se é verdade, eu não vi. Mas o medo está instalado”, pontuou.
Vinicius contou também que recebeu manifestações de apoio por parte de diretores e docentes de outras escolas. “Eu descobri que meu caso não é único. Muitos professores vieram me dar apoio e contaram o que eles também passam. São casos absurdos”, lamentou, acrescentando que há relatos de professores que precisaram deitar-se no chão com seus alunos durante uma troca de tiros entre criminosos na rua da escola. “As crianças ficaram com medo e algumas chegaram a fazer a xixi na calça”, disse.
Vinicius disse ainda que outra diretora que o procurou para manifestar apoio disse ter recebido voz de prisão de um pai que é policial militar, e que, em outro caso envolvendo uma diretora que quase foi agredida por um pai enfurecido, ela só não apanhou, porque conseguiu recuar. “São casos que a gente não vê acontecer, mas que têm acontecido com frequência. Acabou o respeito pela educação, e a gente precisa recuperar isso, de um jeito ou de outro”, concluiu.
Nota da SME
A Prefeitura de Volta Redonda repudia com veemência qualquer ato de violência e lamenta o ocorrido, se solidarizando com os profissionais envolvidos. O fato foi registrado e está sendo investigado pela Polícia Civil de Volta Redonda, através da 93ª DP. A Secretaria Municipal de Educação (SME) também está avaliando a situação, com intuito de tomar medidas administrativas cabíveis.
A Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) esclarece que a Patrulha Escolar foi acionada e que todas as medidas cabíveis foram tomadas. Inclusive, reforçou que uma viatura da GMVR (Guarda Municipal de Volta Redonda) está efetuando rondas periódicas na entrada e saída dos alunos nesta unidade escolar.
Existe por parte da Administração Municipal uma licitação para inserir câmeras de segurança no interior das unidades escolares. Outras medidas preventivas estão previstas para evitar atos de desrespeito e violência.

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