Roberto Marinho
Se você costuma passar pela Avenida Beira Rio (Almirante Adalberto de Barros Nunes), tome cuidado, muito cuidado. Seja a pé, de bicicleta, de carro ou de moto, a via é uma das que mais concentram acidentes de trânsito com vítimas em todo o Sul Fluminense. Só perde para as rodovias estaduais e federais que cortam a região. Isso é o que aponta o ‘Vidas em Trânsito’, estudo feito pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Rio, responsável pelos primeiros socorros às vítimas de acidentes de trânsito em todo o território fluminense.
O estudo – divulgado na semana passada – mostra, de forma detalhada, todos os atendimentos feitos pela corporação em 2017. O levantamento revela ainda quais são as maiores vítimas – homens jovens, de 20 a 29 anos – e qual tipo de veículo que mais se envolve em acidentes; neste caso, as motocicletas, meio de locomoção de 47,7% das vítimas atendidas pelos Bombeiros no local das ocorrências.
No total, 1.958 casos foram atendidos pelos Bombeiros na região, sendo que 47 terminaram com mortes. Surpreendentemente, o maior número de mortes foi oriundo de acidentes envolvendo ônibus. No entanto, o levantamento do Corpo de Bombeiros não mostra em que locais as mortes foram registradas.
Locais de risco
O relatório dos Bombeiros mostra, entretanto, os 25 locais onde mais foram registrados acidentes no ano passado. No Sul Fluminense, as rodovias federais – BR-393 (Rodovia Lúcio Meira), com 130 ocorrências, e BR-116 (Via Dutra, no trecho entre Piraí e Itatiaia), com 103 ocorrências – lideram as estatísticas, seguidas das rodovias estaduais – RJ-125 (Miguel Pereira), com 91 registros, e RJ-145 (Rio Claro/Barra do Piraí), com 64 acidentes registrados.
No perímetro urbano, o local que mais concentra ocorrências de toda a região é a Avenida Beira Rio: foram 37 ocorrências de trânsito com vítimas registradas em 2017. Deste total, 30 colisões envolveram automóveis, além de três quedas de moto, dois atropelamentos, um capotamento e uma queda de bicicleta.
Na sequência dos locais com mais acidentes de trânsito com vítimas em toda a região aparecem mais três avenidas de Volta Redonda: a Nossa Senhora do Amparo (Voldac), com 31 vítimas socorridas; a dos Trabalhadores (Jardim Amália/Vila), com 27 vítimas; e a Sávio Gama, também com 27 vítimas. A Avenida Lucas Evangelista, no Aterrado, e a Rodovia dos Metalúrgicos aparecem na 11a e 12a posições, com 19 e 18 vítimas respectivamente. Nessa última, que agora terá o trânsito duplicado ou triplicado com a abertura do Shopping Park Sul, chama a atenção que três das vítimas foram de acidentes com bicicletas, com necessidade de pedir socorro aos Bombeiros.
A Via Sérgio Braga, que liga Volta Redonda a Barra Mansa, ocupa a 13a posição entre as vias que fazem mais vítimas no Sul Fluminense, com 15 ocorrências, a maioria delas (11 registros) de colisões entre automóveis, com vítimas. O que ocorre desde que foi inaugurada.
Em Barra Mansa, além da Sérgio Braga, a Estrada Governador Chagas Freitas, as Avenidas Presidente Ken-nedy e a Joaquim Leite são as mais perigosas, com 15, 13 e 11 vítimas respectivamente. No total, dos 25 locais elencados no levantamento, 13 são de Volta Redonda e cinco de Barra Mansa.
O levantamento do Corpo de Bombeiros aponta outro dado alarmante: na maior parte dos atendimentos feitos pelos Bombeiros os envolvidos claramente apresentavam sinais de consumo de álcool, principalmente nas rodovias da região. Na RJ-125, por exemplo, foram 18 ocorrências com indícios de consumo de álcool; na BR-393 e na RJ-145, foram 12 ocorrências registradas.
Tem mais. No caso dos homens jovens, outro detalhe chama a atenção: além de se envolverem nos acidentes mais graves, a incidência de ocorrências é 324% maior entre eles que as mulheres na mesma faixa etária. Na faixa etária de 20 a 29 anos, por exemplo, três de cada quatro socorridos pelo CBMERJ eram do sexo masculino. Campeões em acidentes, eles também foram os que se envolveram nos casos de maior complexidade e gravidade.
Apesar da predo-minância masculina adulta, de forma geral, o relatório chama a atenção para a prevalência de acidentes envolvendo bicicletas, entre as crianças, e os atropelamentos, entre os idosos. As motocicletas apareceram como meio de locomoção campeão em vítimas atendidas (47,7%), seguidas dos automóveis (28,9%), dos atropelamentos (11,7%) e das bicicletas (6,9%). Apenas 2,8% das pessoas socorridas estavam em ônibus, 1,2% em caminhões e 1% em vans.
“Embora as motos só representassem 16,7% da frota do Estado, foram responsáveis por quase metade dos socorros a vítimas registrados em 2017. Os eventos de colisão envolveram 24.516 pessoas, a maioria delas (66,3%) contra anteparos ou outros veículos. Quedas representaram 33,7% dos casos. Já os automóveis, que correspondem a 68,2% da frota, foram registrados como meio de transporte de menos de 1/3 dos atendidos”, explicou o comandante Roberto Robadey Jr.
Os membros inferiores (34%) e superiores (31,6%) foram as partes mais afetadas dentre as lesões causadas, seguidos da cabeça – crânio (10,1%) e face (11,7%). Os eventos que geraram maior número de traumas graves foram os atropelamentos; o menor número diz respeito a vítimas socorridas em ônibus. “Pedestres são mais vulneráveis a traumas múltiplos, lesões graves e mortes. As vítimas ficam desprotegidas e expostas ao impacto direto do veículo – complementou Robadey.
Dos 1.236 óbitos constatados na cena do socorro, 35,5% envolviam condutores ou tripulantes de motocicletas, 33,9% ocupantes de automóveis e 20% de pedestres. Os outros 10,6% contabilizam outros perfis, completou.
A partir dos dados registrados pelas unidades operacionais do CBMERJ, foi possível desenvolver uma análise epidemiológica e geográfica dos acidentes, traçando o perfil das ocorrências e das vítimas de cada região. “A riqueza de informações coletadas permite produzir diagnósticos e conhecer as relações multifatoriais de causalidade das lesões e mortes decorrentes de acidentes de trânsito no Estado. Com esta iniciativa, o Corpo de Bombeiros do Rio amplia a abrangência de sua atuação, vai além da assistência imediata às vítimas e fornece informações que podem ser usadas para basear e fortalecer estratégias de prevenção”, afirmou o secretário de Estado de Defesa Civil e comandante-geral do CBMERJ, coronel Roberto Robadey Jr.
O relatório aponta que apenas 44,7% dos acidentados em automóveis usavam o cinto de segurança. Entre os motociclistas, a utilização do capacete foi registrada em 63% dos casos. O assento infantil só foi percebido em 34,6% dos socorros envolvendo crianças de zero a sete anos. “É fundamental ressaltar a importância dos dispositivos de segurança obrigatórios. É fácil observar: quanto maior a proteção, menor a lesão. Nossos registros mostram, por exemplo, que apenas 25,3% das vítimas graves de acidentes de carro, com risco iminente de vida, estavam de cinto. Dentre os que saíram ilesos, 69,9% usavam o equipamento de proteção. O mesmo padrão é notado entre os motociclistas. Nas fatalidades, mais da metade não usava capacete. Entre as vítimas leves, o uso do acessório foi registrado em 75,5% dos casos”, destacou o oficial.