Pollyanna Xavier
Nem sempre a interferência da Igreja Católica nas questões que envolvem a CSN e os seus trabalhadores foi positiva. A Marcha pelo Emprego e pela Vida, promovida pela Pastoral Operária na segunda, 16, dia de ‘meio feriado’ na cidade do aço (dia do comerciário), para defender a permanência do turno de seis horas na UPV, é uma prova disto. O ato não reuniu nem 400 pessoas, dentre fiéis das paróquias e pastorais de Volta Redonda, representantes da sociedade, sindicalistas, alguns vereadores e donas de casa. Só não atraiu os trabalhadores da CSN. E a explicação para a ausência dos metalúrgicos é bastante simples: eles querem negociar com a empresa a volta do turno de oito horas. As negociações, inclusive, devem começar nos próximos dias, com a participação do Sindicato, cujo presidente também é católico.
A marcha foi encabeçada pelo bispo Dom Francisco Biasin, que conduziu os manifestantes por uma caminhada que começou em frente à Igreja Santa Cecília, onde está enterrado o corpo de D. Waldyr Calheiros, o bispo vermelho, um líder carismático por natureza. Os fiéis passaram ainda por toda a extensão da Rua 33, até chegar à Praça Juarez Antunes, local onde ergueram uma estátua de D. Waldyr.
Coube a D. Biasin falar algumas palavras: “(…) Salvemos o turno de seis horas. A minha alegria hoje é que apesar das diferenças, das dificuldades, apesar dos embates que se criaram nestes últimos anos, conseguimos aqui nesta praça reunir, fazer unidade, no respeito em cada expressão, sobretudo daqueles que defendem a vida, o trabalho, a honra e a dignidade dos operários da CSN”, pontuou.
Em conversa com jornalistas, o religioso fez questão de frisar que o ato ali não era político, e que a ideia da ‘Marcha’ era mesmo só defender os trabalhadores da CSN contra possíveis demissões que, dizem os políticos presentes ao ato, poderão surgir caso o turno de oito horas seja implantado na Usina. “A Marcha é apartidária!”, disse, acrescentando que estava ali como pastor dos menos favorecidos. “O que Deus em quem eu acredito olha para cada pessoa não como um número, nem como uma ficha. Mas como uma obra prima de amor e de luta pela vida. Eu não poderia deixar e fazer aquilo que Dom Waldyr sempre sonhou e dizia que na ponta da nossa ação pastoral, deve estar o pobre, o mais pobre dos pobres. Estes são os nossos preferidos”, comungou.
Turno
Até o fechamento desta edição, ontem, sexta, 20, a CSN e o Sindicato dos Metalúrgicos ainda não tinham iniciado as negociações para a volta do turno de 8 horas na UPV. No dia 11 de outubro, os trabalhadores do turno participaram de uma votação secreta na Praça Juarez Antunes., E sob olhares atentos da estátua de D. Waldyr, os peões aprovaram a abertura de uma negociação com a CSN para discutir a retomada da jornada de 8 horas na UPV. Ao final da apuração dos votos, o Sindicato comunicou o resultado à direção da empresa, por meio de ofício. Desde então, o Sindicato aguarda o chamado da CSN para o início da negociação.
Na sexta, 13, à CSN comunicou, formalmente, aos seus trabalhadores, a decisão de suspender as medidas para a implantação do turno fixo de oito horas, que deveria entrar em vigor na segunda, 16 de outubro. A empresa informou que a decisão atende ao pedido feito pelo Sindicato imediatamente ao resultado da votação do dia 11, na Praça Juarez Antunes. Na ocasião, 68,6% dos votantes decidiram ouvir a proposta da CSN como alternativa ao turno fixo.
Em entrevista à imprensa, Silvio Campos disse que espera da direção da CSN na reunião marcada para quinta, 26, uma proposta que “preveja uma tabela justa, com a garantia de emprego aos trabalhadores do turno, além do intervalo de 1 hora de refeição, e ainda o pagamento de uma compensação financeira em forma de abono, caso o turno de oito horas seja retomado”. A empresa ainda não se manifestou a respeito.