A possibilidade de mexer (negativamente) com a vida de milhares de famílias com uma simples canetada pode balançar o governo até mesmo dos mais preparados. Mas, uma vez que se assume a responsabilidade, é necessário cabeça fria para mexer na ferida, e deve-se estudar todas as soluções possíveis para tomar a melhor decisão. Tem mais. Com a maior transparência possível.
No caso dos ribeirinhos de Volta Redonda – que o aQui vem acompanhando há bastante tempo –, parece até que o assunto é coisa de cinema. De filme de terror, envolto em trevas. Talvez seja por isso que as autoridades competentes estão agindo meio que na surdina. Nada “por debaixo dos panos”, mas conseguir informações claras sobre o caso está muito difícil.
Na edição n° 1099, por exemplo, Edson Falcão, coordenador de Segurança Hídrica da subsecretaria de Segurança Hídrica e Governança das Águas (SUSEGH), subordinada à secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro (SEA), foi bem claro. Caberá à prefeitura de Volta Redonda promover a retirada das famílias ribeirinhas ao Paraíba, principalmente nos bairros Vila Americana e Pinto da Serra.
Mas, questionada pelo aQui sobre o cronograma do projeto e como o governo Samuca está se preparando para iniciar o processo de despejo, a secretaria de Meio Ambiente foi evasiva, limitando-se a dizer que o estudo da SEA ainda “está sendo finalizado”. “Após a conclusão do estudo, o mesmo será debatido com o Ministério Público e o Inea para ver se será necessária a retirada de famílias e quando isso vai acontecer”, afirmou Daniela Vasconcelos, titular da pasta do Meio Ambiente, ignorando as informações que já apontam para a necessidade da retirada de famílias, inclusive determinando um valor para as indenizações – de R$ 86 milhões.
Na resposta ao aQui, a secretária também procurou não se comprometer com prazos, embora o coordenador do estudo da SEA tenha afirmado que algumas ações – a regularização de construções onde não será necessário gasto de dinheiro algum, do público ou do contribuinte – já poderiam ser iniciadas este ano.
Mostra que nem todas as autoridades estão com pressa em resolver o imbróglio, que afeta moradores, comerciantes e empresários destes locais, que têm dificuldade para conseguir um habite-se – ou alvará definitivo – para regularizar de uma vez por todas os seus negócios. Que inclusive geram emprego e arrecadação para o município.
O governo Samuca perde ainda a chance de explicar para a população os passos do projeto – que prevê até a construção de diques, parques fluviais e uma série de outras medidas, sendo a retirada das famílias a última etapa. Sendo assim, ficam somente as dúvidas, o que não é bom para ninguém.