quinta-feira, março 28, 2024
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Confiar em quem?

Chapas 2 e 3 brigam pelo reconhecimento de ‘oposição metalúrgica’

Por Pollyanna Xavier

A guerra pelo comando do Sindicato dos Metalúrgicos pode virar uma simples briga de antigos compadres que não se bicam mais. É que as lideranças das chapas, em algum momento do cenário sindical, já foram aliadas. Eram unha e carne. Só que, com o passar dos anos, por interesses diversos, deram fim às alianças e amizades. Racharam feio. Nos bastidores passaram a se odiar e a querer um a cabeça do outro, no sentido figurado, é claro. Afinal, são apenas operários, e não assassinos a ponto de pensarem em matar um adversário.
Exemplo maior é que a oposição sindical, formada por três correntes – Edmar, Vitor e Cerezo –, foi reduzida a duas com a impugnação da turma do PCO. Como ainda não estão homologadas, muita coisa pode mudar daqui para frente. Como a liderança das chapas ou até a queda da composição completa de alguma delas. Tudo é possível.
Na segunda, 30, por exemplo, encerrou-se o prazo para a inscrição das chapas. Três delas – encabeçadas por Jovelino Juffo, Vitor Véio e Edimar Miguel – conseguiram se inscrever. Mas a de Carlos Alexandre Honorato, o popular Cerezo, do PCO, ficou de fora por não ter a documentação exigida. Segundo uma fonte, Cerezo chegou a pedir tempo para conseguir os documentos, mas não obteve o ‘sim’ do advogado da chapa de Edimar Miguel, que pediu a sua impugnação, que foi aceita. “A oposição está rachada”, disparou a fonte, pedindo para não ser identificada.
A análise das três chapas que foram registradas deve ser encerrada nos próximos dias e cada grupo apresentou 40 nomes: 32 da ativa e 8 aposentados, sendo que as eleições estão marcadas para 26, 27, 28 e 29 de julho. Trabalha-dores sindicalizados há mais de seis meses, em dia com as obrigações financeiras, terão direito a voto. Mas engana-se quem pensa que este número é alto. Não é. Para se ter uma ideia, as empresas da base empregam cerca de 60 mil trabalhadores, porém, nem sete mil são filiados ao Sindicato. Se o vencedor tiver algo entre três a cinco mil votos, será um grande resultado. Grande mesmo!
Na quarta, 1°, o aQui tentou falar com os três candidatos à sucessão de Silvio Campos, mas apenas Vitor Veio falou com o jornal. Jovelino disse que estava muito ocupado e respondeu apenas metade das perguntas que recebeu. Edimar Miguel, por sua vez, disse que antes de dar a entrevista, exigia uma retratação do aQui, porque, para ele – e para o seu advogado –, o jornal teria sido infeliz ao publicar que os candidatos da oposição estariam “querendo a cabeça de Silvio Campos”. Mostra que não entendeu o sentido figurado da expressão e perdeu a chance de falar de suas propostas. Errou até ao falar da manchete, pois ignorou que a chamada dizia “Três operários querem a cabeça e a cadeira de Silvio”. Os outros dois operários, por exemplo, não chiaram à toa.
Racha da oposição
Vitor Véio, que na verdade é um ex-operário, foi bem mais participativo do que seus adversários. E logo de cara explicou o racha que deu origem à sua Chapa (a 3). Contou, entre outras, que o grupo de Edimar, que tem assessoria jurídica do advogado Tarcísio Xavier, está usando o nome ‘Oposição Metalúrgica’ indevidamente. “Eu registrei esse nome no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). O nome é meu e os trabalhadores precisam ser avisados disso, porque só existe uma oposição metalúrgica, e não duas, e essa oposição é nossa!”, avisou Vitor, de forma categórica.
De fato, a chapa 2 de Edimar leva o nome de ‘Oposição Metalúrgica do Sul Fluminense: a hora da mudança vem aí’, o que tem tudo para causar uma tremenda confusão na cabeça do trabalhador, que pode votar na Chapa 2 querendo eleger a Chapa 3, a de Vitor Veio.
Segundo Vitor, Edimar e Tarcísio eram seus aliados desde 2008, quando o hoje advogado teria rompido com Renato Soares, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, aliado de Silvio Campos. A partir daí nasceu a ‘Oposição Metalúrgica’ – nome sugerido pelo próprio Vitor. “Fui cipista na CSN por duas vezes e em 2015, não podendo mais ser, nós elegemos o Edimar para o mandato de 2016. E assim a gente se revezava na Cipa. Até que em 2017 eu fui demitido da CSN e iniciei um processo judicial pedindo a reintegração. Em 2021, nas comemorações do 9 de Novembro, na Praça Juarez Antunes, o Edimar não compareceu, levantando suspeitas do pessoal. O racha começou ali”, contou.
Sem dar detalhes dos bastidores, Vitor contou que Edimar teria feito uma postagem no Facebook criticando o Comunismo, mas dias depois se filiou ao PCdoB e se afastou da oposição sindical. “O rompimento era inevitável”, contou. Em janeiro de 2022, Edimar, Alex (Sandro, vice da chapa 2) e Tarcísio teriam rompido oficialmente com a ‘Oposição Metalúrgica’, deixando o colegiado, mas levando com eles o nome que marcou o grupo.
Na semana passada, quando as chapas ainda estavam se organizando e formando suas bases, Edimar postou um vídeo no WhatsApp e no Telegram para alertar que pessoas, que não relacionou, estariam usando o nome da oposição sindical para convidar trabalhadores e aposentados ‘para comporem o time da oposição’. “Ninguém está autorizado a pegar nomes que não seja a minha pessoa. Não entregue o seu documento para outras pessoas que usam o nome da oposição, porque eles estarão querendo se passar por membros da oposição, sem serem membros da oposição (sic)”, disse, confundindo ainda mais o trabalhador.
A verdade é que o racha entre os membros da oposição já é evidente há algum tempo, com acusações e denúncias diversas. Chegou ao ponto de levar as Centrais dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), o Conlutas (CSP-Conlutas) e os partidos PCdoB e PSTU de Volta Redonda a assinarem um manifesto, em janeiro, expondo o rompimento, com ataques a antigos companheiros. O documento não fala na existência de duas chapas usando o mesmo nome de oposição metalúrgica, mas nas entrelinhas deixa claro que daqui a quatro anos os aliados de hoje provavelmente estarão em lados opostos amanhã. Quem duvida?
Quem são os cabeças das chapas:

Chapa 1 – Jovelino José Juffo – É o atual diretor-jurídico do Sindicato dos Metalúrgicos, escolhido por Silvio Campos para sucedê-lo. Tem 53 anos e trabalhou na CSN como mensageiro, operador de produção e coordenador de ponte rolante. Se ganhar as eleições, vai tentar recuperar a saúde financeira do Sindicato.

Chapa 2 – Edimar Miguel Pereira Leite – Foi cipista na CSN e liderou as manifestações dentro da UPV durante as negociações da campanha salarial deste ano.

Chapa 3 – Vitor Raymundo Junior – Foi demitido da CSN por justa causa em 2017, e aguarda decisão judicial de um processo de reintegração. Trabalhou na CSN Porto Real e UPV e foi cipista por algumas vezes. Sempre fez oposição ao Sindicato. Se vencer as eleições, vai mudar o estatuto do Sindicato e transformar a direção do órgão em um grande colegiado.

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