A Light, empresa de energia que já foi da CSN, cutucou a onça com vara curta. Foi na manhã de quarta, 26, quando mandou uma equipe cortar a luz do Palácio 17 de Julho por falta de pagamento. Como o sol já estava quente, por volta das 10 horas, Samuca desceu as escadas palacianas bufando de raiva. E com razão.
Já na Avenida Paulo de Frontin, Samuca ficou ainda mais p… da vida. É que o caminhão da empresa tinha estacionado em local proibido: em um dos pontos do ônibus elétrico existente na cidade. Ou seja, estava cometendo uma infração de trânsito. Depois de cumprimentar os funcionários da empresa, Samuca fez um vídeo ao vivo para o seu Facebook e descascou com a Light. Estava possesso. Aliás, se a empresa tivesse mãe, teria ficado com as orelhas vermelhas. Veja o que o prefeito disse:
“Estou aqui em frente à prefeitura onde a Light, de uma forma irresponsável, contra você, cidadão que quer uma mudança nas posturas dos políticos, das empresas, enfim, desse país que não aguenta mais tanta corrupção, acabou de fazer o corte de luz da prefeitura, de uma forma arbitrária”, disse.
Segundo Samuca, ele estava em negociações com a empresa sobre as dividas existentes. “A prefeitura de Volta Redonda em nenhum momento virou as costas, pelo contrário, pagamos mais de R$ 30 milhões de dívidas do passado só com a Light. Nossas dívidas vão de R$ 700 milhões a R$ 1 bilhão e tenho atuado para fazer a gestão correta dos recursos, tentando aumentar a capacidade de honrar todos os compromissos, seja na área de precatórios, restos a pagar, seja com a própria concessionária”, acrescentou.
Samuca, ainda possesso, foi além. “Quero reafirmar meu compromisso com Volta Redonda e dizer que em nenhum momento a prefeitura se privou de pagar algum fornecedor. As dificuldades são imensas e (eles) estão aqui agora atrapalhando o serviço da população, que é a tarifa comercial zero, gratuita para você e (corte da luz) sem comunicação prévia, de forma bruta”, disse, apontando para o ponto de ônibus que estava irregularmente ocupado pelo veículo da Light.
Não satisfeito, Samuca contou aos internautas que no comunicado da Light, o do corte da energia, estava bem claro que a ação tinha um propósito. “O corte era para forçar a prefeitura a fazer o pagamento das faturas (vencidas)”, disse, completando, de forma irada, com o seguinte comentário: “Pagar a energia elétrica é tirar dinheiro da saúde, do medicamento, do atendimento ao cidadão, do profissional da saúde, do profissional de educação, que são prioridades de todos nós. Pagar a Light de forma rápida, sem qualquer tipo de negociação ou um acordo para o pagamento, quer dizer que é o servidor público (que vai ficar) sem receber o seu salário”, disparou.
Com o sentimento à flor da pele, Samuca falava como se fosse um simples mortal que teve a luz cortada de sua casa. “Afundaram esse município em dívidas e o que nós fazemos todos os dias é efetivamente negociar dívidas do passado. Vai meu manifesto público como prefeito de Volta Redonda, da maior cidade do Sul Fluminense, onde a Light acaba de cortar a luz da sede administrativa para forçar o pagamento. Tirando dinheiro do medicamento, da saúde e da educação para que ela possa encher os cofres e lucros de seus acionistas”, comparou.
Duas horas depois, com a energia já religada, Samuca voltou à avenida para dizer que o bom senso tinha prevalecido. “Ela restabeleceu (a energia). Prevaleceu o bom senso da instituição, pois Volta Redonda nunca se esquivou de suas obrigações. O fato é que, com o bloqueio dos precatórios judiciais, houve um descontrole no fluxo financeiro, mas nós estamos regularizando todos os pagamentos da prefeitura”, disse, para acrescentar: “Volta Redonda nunca deixou de apresentar uma proposta (para a Light) e a última, apresentada na sexta, foi negada e hoje, quarta, três dias após (eles aparecem para cortar a luz). Essa forma de negociar não condiz com o povo brasileiro. Não é com falta de diálogo que vamos resolver os grandes problemas, principalmente financeiros”, pontuou.
Samuca, ainda aborrecido com a Light, aproveitou para questionar a postura da empresa para com o seu governo. “Estranhamente em 2016 a prefeitura de Volta Redonda ficou 12 meses sem efetuar o pagamento de uma conta de energia, o que gerou a dívida de R$ 32 milhões”, disparou, referindo-se ao governo do ex-prefeito Neto, cujo nome nem foi citado, o que já é um sintoma a se analisar. “Eu mesmo encaminhei à Câmara o pedido de autorização do Legislativo para o parcelamento da dívida da Light de 60 meses. É assim, com muita transparência, que nós vamos manter os serviços da população em dia”, encerrou.
Samuca só esqueceu um pequeno grande detalhe: de revelar quanto a Light deve de ISS aos cofres públicos. Mas ele adiantou ao aQui que na quarta mesmo mandou a Procuradoria do Município entrar com uma ação de cobrança contra a Light. E, aqui entre nós, estuda outras medidas de represália contra a empresa.