sexta-feira, junho 2, 2023

Chove sem parar

Drable espera por apoio do governo para tirar Barra Mansa da Lama

Por Mateus Gusmão

O verão termina na segunda, 20. As ‘águas de março’, também. Pelo menos é o que todos esperam, afinal Barra Mansa e Volta Redonda estão sendo castigadas desde outubro de 2022. Só no último final de semana, choveu o acumulado de mais de 300 mm, deixando um rastro de destruição, alagamentos e pessoas desalojadas. Mais de 400 barra-mansenses foram obrigados a deixar suas casas por conta de riscos de desabamento. Na cidade do aço, três residências foram interditadas.
Rodrigo Drable, em entrevista ao ‘Bom Dia, Cidade’, revelou números impressionantes e, para arrumar a casa, o prefeito de Barra Mansa pediu ajuda a Cláudio Castro. De R$ 700 milhões. “Começou a chover em outubro. Tivemos alguns dias de tranquilidade, mas voltou a chover em novembro e isso se intensificou em meados de janeiro. Na última sexta, 10, chegou a chover 135 mm acumulados. Isso é um número absurdo e fora de qualquer parâmetro que já tenhamos enfrentado. E olha, Barra Mansa está acostumada a enfrentar chuvas graves”, pontuou.
Drable foi além. Disse que as fortes chuvas fizeram com que as encostas ficassem encharcadas. “Diante de novas chuvas, essas encostas deslizam. Chegou ao cúmulo de termos 700 pontos de escorregamento em encostas.Sóontemànoite (domingo, 12) tivemos 40 eventos deste tipo”, acrescentou, ressaltando que a região não terá descanso pelos próximos meses. “A gente já esperava essa chuva, o que a gente não esperava era que haveria um funil que faria com que caísse mais em Barra Mansa do que nas cidades ao redor”, completou. “As chuvas vão até maio”, sentenciou.
O prefeito lembrou que até o início da semana 440 pessoas estavam desalojadas. “Não são desabrigadas, são desalojadas. Tiveram que sair de suas casas, e esse número tende a crescer, pelas próximas vistorias que vamos fazer”, pontuou, pedindo que a população ajude a prefeitura a fiscalizar obras irregulares que possam colaborar com desastres. “O cara tá escavando irregularmente e o vizinho não denuncia; não ficamos sabendo e não podemos tomar nenhuma atitude. Aí no verão, quando a terra ceder, não cede só a casa de quem escavou, mas a do vizinho também”, disse, bem aborrecido, por sinal.
Drable aproveitou para atacar quem costuma fazer queimadas irregulares em Barra Mansa. “As queimadas do inverno têm que ser lembradas agora. Porque boa parte das encostas que estão descendo ficaram expostas pelas queimadas”, justificou, ressaltando que o vizinho não denuncia por não querer ser, digamos, dedoduro. “Tem que denunciar, porque o corno que tacou fogo no morro expôs a vida de todos ao seu redor, inclusive daqueles que nem estão tão próximos. Porque quando o morro desce, entope a rede e causa alagamento, esse cara (que fez a queimada) tem que ser punido”, disparou.
Aproveitando a entrevista, Drable disse que os problemas com as chuvas se repetem ao longo dos anos, principalmente por Barra Mansa ter sido criada em volta de vários morros. “Eu estou enfrentando muitos problemas novos e outros antigos. Eu fiz mais de 80 muros de contenção em uma cidade que precisa de mais de 400. Agora, a coisa potencializou”, disse, salientando que a cidade está se preparando para enfrentar mais chuvas nas próximas semanas. “Eu não vou conseguir fazer um acordo com São Pedro para parar de chover. Tem gente que espera que a gente faça parar de chover. Eu ainda não consegui essa interlocução para resolver com São Pedro”, ironizou.

“Tem que denunciar, porque o corno que tacou fogo no morro expôs a vida de todos a seu redor, inclusive daqueles que nem estão tão próximos”,

Rodrigo Drable.

Ao encerrar a entrevista, Drable pediu que todos façam uma oração pelas pessoas que vivem em área de risco e aproveitou para destacar que não houve vítimas fatais na cidade. “Quero parabenizar nossa Defesa Civil, que conseguiu chegar antes nos pontos mais graves para fazer com que as pessoas saíssem. Ela tem antecipado as tragédias e, mesmo nas casas que desabaram, o órgão chegou antes e conseguiu tirar as pessoas. Eu vejo cidades em que morre muita gente (em período de chuva) e, em Barra Mansa, com a graça de Deus, não morreu ninguém. Ainda. As pessoas estão atentas e ouvindo a Defesa Civil”, concluiu.

BM tem sirene, VR não tem
Na sexta, 11, por volta das 19 horas, as sirenes de alerta de fortes chuvas em Barra Mansa foram acionadas. O aviso foi dado até pelo prefeito Rodrigo Drable em suas redes sociais. Procurada pelo aQui, a prefeitura de Barra Mansa explicou que há na cidade nove sirenes em uso: nos bairros Vila Coringa, Vila Nova, Vista Alegre, Monte Cristo, Nova Esperança, Boa Sorte, Cotiara, Metalúrgicos e Paraíso. O equipamento serve para advertir o risco de deslizamentos ou inundações.
A orientação, segundo a prefeitura, é para que as pessoas possam sair de suas casas, procurando pontos de apoio. “Todo ano fazemos simulações nesses bairros para ajudar a população a entender as rotas de fuga e os pontos de apoio. É imprescindível que a população entenda a gravidade. Só acionamos a sirene quando o risco é grande”, explicou, ressaltando que no Nova Esperança, por exemplo, a sirene está instalada para avisar do risco de transbordamento do Rio Barra Mansa. “E foi o que aconteceu, já que houve transbordamento de mais de dois metros. Por isso, é importante a população seguir as orientações”, completou.
Ao contrário de Barra Mansa, Volta Redonda estaria sem sistemas de alerta para fortes chuvas. O aQui recebeu reclamações de volta-redondenses que se inscreveram junto à Defesa Civil para receber – por SMS e WhatsApp – avisos de fortes chuvas na cidade do aço, como as que ocorreram no final de semana, e que não estão recebendo as mensagens. A reportagem ligou para a Defesa Civil, no número divulgado pelo município, para saber como se cadastrar para receber os alertas. “Não estamos sabendo desse serviço”, disse o atendente.
A prefeitura, entretanto, divulgou que as equipes da Defesa Civil de Volta Redonda se mantêm em estado de alerta para minimizar os impactos das fortes chuvas que atingiram a cidade no fim de semana. De acordo com dados do órgão, somente no fim de semana o município registrou 204,2 milímetros de chuva, índice muito elevado para o período.
Em balanço divulgado pela Defesa Civil, até segunda, 13, foram registradas 45 ocorrências, entre elas, três interdições de imóveis. Os moradores foram acolhidos em casa de parentes. Do dia 1o de março até o dia 13, foram 354 mm de chuva.
Ações emergenciais ‘sem prazo’
Na quarta, 15, o prefeito Rodrigo Drable esteve em reunião com vários integrantes do governo do Estado para tratar das chuvas. Avaliaram, por exemplo, laudos técnicos e fotos aéreas dos locais atingidos. O secretário rio estadual de Infraestrutura e Cidades, Uruan Cintra, garantiu que o governo realizará 25 obras emergenciais. “Como o risco de deslizamento é enorme, oferecendo perigo para a população, nós vamos começar rapidamente o processo emergencial. O governo do Estado está totalmente fechado com a prefeitura de Barra Mansa”, disse. Só não adiantou o prazo. “Apesar das obras serem emergenciais, elas demoram algum tempo para começar, por causa dos
trâmites normais. Mas nós iremos fazer o que for necessário para Barra Mansa voltar a ser pujante como sempre foi”, prometeu.
O presidente do DER, Pedro Henrique Ramos, informou que, dentre as 25 obras, cinco serão de sua responsabilidade. E é aí que mora o perigo, afinal o órgão tem pisado na bola na polêmica sobre a Rodovia do Contorno em Volta Redonda. “Foi definido que nós do DER vamos assumir as obras na RJ-157, a Rua D, no Getúlio Vargas, no Verbo Divino, no Morro do Cruzeiro e na RJ-153 (região da Serra da Mutuca), que nós já estávamos tratando nos últimos dias. Essas são as cinco obras delegadas pelo secretário Uruan ao DER”, informou.
No final, Drable se posicionou a respeito das promessas. “Hoje, nós
elencamos 25 pontos que são prioritários na cidade, dentre eles a encosta no Verbo Divino, que será contida. Essas obras serão feitas pelo governo do Estado e estão estimadas em pelo menos 40 milhões de reais. São obras que nós não teríamos condições de fazer. Estamos fazendo todas as vistorias nos locais e as análises dos projetos que serão apresentados. Gostaria de agradecer ao governador Cláudio Castro e a toda a equipe liderada pelo Uruan, que está permitindo que Barra Mansa consiga enxergar um futuro. Importante dizer que essas obras receberão projeto e execução para que sejam duradouras. Estamos enfrentando reincidência de transtornos por causa de obras que foram malfeitas no passado, e nós não faremos dessa forma”, concluiu.

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