A briga indigesta entre o vereador Washington Granato, presidente da Câmara de Volta Redonda, e o empresário Maurinho Campos Pereira, ex-assessor especial do Palácio 17 de Julho, tem uma piscina entre eles. Era, até bem pouco tempo atrás, como mostra a foto, uma piscina vazia. Cheia, ia fazer a festa de 30 das 180 famílias que já residiam, em setembro do ano passado, no Mirante do Bosque, condomínio construído na Água Limpa.
Foi por tentar encher a piscina com água do Saae-VR, retirada irregularmente de um hidrante (ver foto), é que o bicho pegou entre Granato e Maurinho, como o aQui deu conta recentemente na coluna de Grampos (edição 1109). O parlamentar foi até bem radical ao discursar na Tribuna da Câmara, na noite do dia 2, dizendo que o ex-assessor do prefeito Samuca Silva e vice-presidente do Conselho do Saae-VR teria sido flagrado roubando água potável da autarquia.
Em sua defesa, Maurinho, depois de teorizar sobre sua ‘importância para a cidade do aço’, em carta enviada à direção do Saae disse que um funcionário teria cometido, sem a sua devida autorização, a irregularidade (crime) de pegar água para encher a piscina do prédio da Água Limpa. Maurinho mandou até cópia de uma advertência que teria aplicado ao funcionário. “Um funcionário bombeiro da empresa Acil Construções, enchia um reservatório da obra (piscina, grifo nosso) para executar seu serviço mais rápido, por sua conta, sem nenhuma ordem superior, utilizou as mangueiras de incêndio para colocar no hidrante dos bombeiros” justificou o vice-presidente do Conselho do Saae-VR.
O flagrante, pelo que o aQui descobriu ao receber cópias dos documentos obtidos junto ao Saae-VR, baseado na Lei da Transparência, teria ocorrido no dia 11 de setembro de 2017, quando um fiscal do órgão encontrou a ligação clandestina (gato) para retirar água de um hidrante localizado bem em frente ao Mirante do Bosque. O detalhe é que a ligação era feita através de uma mangueira (usada no combate a incêndios). Ela estava ligada ao equipamento, atravessava a rua, subia o muro do condomínio até chegar à beira da piscina, que estava vazia. Ou seja, seria cheia com água da rua, do Saae-VR. Com a fiscalização, correta, por sinal, a irregularidade foi abortada. “O gato morreu”, ironizou uma testemunha, referindo-se ao que as autoridades chamam de ‘gato’ para os casos de furto de água e luz.
Mesmo abortada, a ação irregular custou a Maurinho uma multa de R$ 848,75. Motivo: “Autuado por utilizar água irregularmente do hidrante em frente ao prédio”, construído pela Aceplan e que até aquela data – novembro de 2017 – ainda não estava totalmente ocupado. Dos 128 apartamentos, apenas 30 já estavam devidamente ocupados. Sem piscina, é claro.
No Parlamento
Ninguém sabe dizer o que originou o quiproquó entre Granato e Maurinho, dois políticos que muitos consideram ser do tipo que ‘não leva desaforo para casa’. O certo é que um não engole o outro, principalmente a partir do momento em que o empresário, cuja família é dona do cemitério Portal da Saudade, andou se oferecendo como candidato a prefeito em 2016. Na época, Granato caminhava ao lado de Neto; Maurinho ia a tiracolo com Samuca. Hoje, Granato tem trânsito quase livre no Palácio 17 de Julho e Maurinho vive a falar mal do governo Samuca depois de ter sido dispensado de sua cadeira.
Há quem diga que, mesmo estando longe da Praça Sávio Gama, Maurinho, como presidente do Sinduscon (patronal), continuaria mandando e desmandando no IPPU-VR por ter colocado uma ex-funcionária do grupo Aceplan (conhecida por Graça) para cuidar apenas dos seus interesses – e dos amigos. A possível interferência, inclusive, foi alvo de vários discursos na Câmara, por parte de Granato, Carlinhos Santana e Conrado, que passaram a pedir a cabeça da responsável por liberar projetos no IPPU-VR e que só estaria atendendo quem Maurinho indicasse. “No IPPU só (aprova) com QI”, ironizou um dos parlamentares. Grupos contrários ao presidente do Sinduscon teriam ido pedir apoio ao presidente da Câmara, e Granato os recebeu de braços abertos. Deu no que deu.
Já no dia 1 de agosto, por exemplo, o vereador, encaminhou um requerimento ao Saae-VR pedindo “cópia na íntegra do auto de infração nº 94.199, o da constatação de ligação clandestina no sistema de fornecimento de água potável no município de Volta Redonda pela empresa Aceplan Const. e Incorp. Ltda”. Não satisfeito, no dia 6 de agosto, Granato apresentou o requerimento 251/18, pedindo que o Saae fizesse o levantamento de todas as contas de água do empreendimento denominado Mirante do Bosque, localizado na Rua C, lote 70, quadra E, no bairro Água Limpa, de propriedade da empresa Aceplan Const. E Incorp. Ltda, objeto de auto infração Nº 94.199″. Resumindo: Granato queria ver se o “furto de água era constante”.
Não era. De acordo com uma fonte do aQui, o empresário estava tendo prejuízo com as contas de água do condomínio que construiu na Água Limpa. Pagava a mais até, pois o Saae, como manda o figurino, cobrava pelo consumo mínimo de 128 apartamentos, quando apenas 30 estariam consumindo água (mais a taxa de esgoto). Ou seja, a água de uma piscina entornou o caldo entre os dois bicudos. E deve parar nas barras da Justiça.
Sindicância
Em entrevista ao jornal A Voz da Cidade, de Barra Mansa, Maurinho procurou minimizar a denúncia de Granato. Se ‘auto proclamou’ bom moço, empresário de sucesso, gerador de emprego e renda e nada disse sobre o caso. Mas, como o ‘caso da piscina’ passou a render até chacotas, o presidente do Sinduscon decidiu reagir. E encaminhou uma carta ao presidente do Conselho do Saae-VR, Joselito Magalhães (dublê de político e presidente da Aciap-VR) pedindo que ordenasse a criação de uma sindicância interna para apurar o caso da piscina.
“Na qualidade de vice presidente (sic) desta autarquia, venho através desta solicitar a abertura de uma sindicância interna para apurar a acusação que me foi feita pelo vereador Granato, na tribuna da Câmara Municipal de Volta Redonda, quanto (sic) me acusa de roubo de água”, justificou.
Quem viu a correspondência diz que Maurinho deve ter errado o objeto da sindicância, sem contar os erros de português. É que o ‘uso irregular da água potável do Saae’ ele mesmo reconhece ter ocorrido. Tanto que advertiu o pato (ops, o funcionário da Acil) quanto mandou pagar a multa de R$ 848 aos cofres do Saae. Para a fonte, Maurinho deve estar querendo é descobrir como o ‘auto de infração 94.199 (vaca na cabeça)’foi parar nas mãos de Granato.