Gabriel Távora
Na segunda, 25, os alunos do Colégio Macedo Soares saíram das salas de aulas dispostos a promover uma atividade extraclasse. Detalhe: contra a Guarda Municipal e contra a fiscalização da prefeitura de Volta Redonda. E, por tabela, contra o prefeito Samuca Silva. Motivo: uma semana antes, na segunda, 18, um fiscal, acompanhado de dois GMs, apreendeu os produtos que o vendedor ambulante Levi Dionísio estava comercializando nas proximidades da escola, localizada na Vila. Eram balas, pirulitos, chocolates. Tudo para adoçar a boca dos alunos.
Não satisfeitos, os fiscais da lei decidiram prender o ambulante e levá-lo para a 93° DP, por entenderem que foram desacatados por Levi. A denúncia é contestada pelo ambulante, de 58 anos. “(Ele) Me abordou sem crachá e descaracterizado. Não havia como eu saber com quem estava falando. Resumindo: fui algemado pela guarda e encaminhado para a delegacia”, contou Levi, dizendo que, por não saber com ‘quem estava falando’, teria se recusado a deixar o local, onde sempre vendeu balas e doces – “há mais de 20 anos”, frisa.
Entre os motivos que podem ter provocado a prisão de Levi está o fato do mesmo ter se negado a sair do local – próximo ao portão da escola – e ter questionado a postura do fiscal da prefeitura de Volta Redonda, que não teria se identificado como tal. Para piorar, Levi teria ironizado como o mesmo se vestia, além de ter anotado a placa da moto em que ele estava, já que se tratava de um veículo particular.
O caso foi parar nas redes sociais e no Palácio 17 de Julho, tanto que o vice-prefeito Maycon Abrantes e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Joselito Magalhães, foram até a escola para conversar com Levi. “Sabemos de sua história nesta região, porém não o proibimos, apenas pedimos para respeitar a legislação”, argumentou Maycon conforme explicou em sua página do Facebook. .
A versão oficial transmitida apenas nas redes sociais não pegou. E o protesto dos alunos do Macedo, uma das escolas mais tradicionais da cidade do aço, foi mantido. “Todas as manifestações de apoio a ele são legítimas, mas somente pedimos que (o ambulante) respeite a legislação e solicitação do colégio quanto a seu posicionamento no espaço”, justificou Maycon referindo-se ao protesto dos estudantes.
E na manhã ensolarada de segunda, 25, sem ter GMs e fiscais como testemunhas, Levi estava na porta do Macedo sem o seu tradicional carrinho de balas e doces. Estava de mãos vazias, afinal tudo o que tinha para vender ainda estava apreendido no depósito da prefeitura. Mas, para sorte do vendedor ambulante, cerca de 20 a 30 alunos fizeram uma ‘vaquinha’ e arrecadaram R$ 300,00 em espécie e outros R$ 300,00 em mercadorias que lhe entregaram para que pudesse voltar à atividade.
Entre lágrimas, bem emocionado, Levi agradeceu: “Eles (os alunos) falaram que iriam me ajudar. Me mandaram uma mensagem falando para eu vir aqui no dia de hoje (segunda, 25) porque eles iriam me dar uma ajuda”, contou ele ao aQui.
Agradecendo a ajuda de todos inclusive, por terem compartilhado sua história na internet, Levi deixou no ar uma alfinetada em direção ao próprio Colégio Macedo Soares, que o teria denunciado na fiscalização da prefeitura der Volta Redonda. “Eu achei que (a denúncia) foi desnecessária. Bastaria a diretora, através de um de seus funcionários, mandar eu me afastar do portão da escola que eu teria me afastado imediatamente, sem nenhum transtorno. Nem para eles e nem para mim”, pontuou.
Na terça, 26, com os doces doados pelos estudantes, Levi Dionísio voltou ao trabalho. Mais longe um pouco do portão do Macedo (50 metros), no ponto de ônibus da pracinha ao lado da escola. E prometeu continuar ali, contanto que não atrapalhe ninguém, ironizou.
Novos
A história de Levi, até prova em contrário, teve um final feliz, mas a apreensão de produtos vendidos por ambulantes parece estar se tornando hábito nas áreas comerciais de Volta Redonda. Na segunda, 25, por volta das 17h30min, uma vende-dora tradicional de pipocas foi proibida de ficar na Vila Santa Cecília, nas proximidades das Lojas Americanas, durante ação do próprio secretário de Desenvolvimento, Joselito Magalhães, que também é presidente da Associação Comercial. Ela e muitos outros ambulantes, muitos de longa data, foram avisados para ‘sair do pedaço’ sob pena de ter as mercadorias apreendidas.
A ação do dublê de empresário-secretário não caiu bem nas redes sociais, afetando mais uma vez a imagem do prefeito Samuca Silva. “Com toda essa crise de emprego, sai o secretário, que não é da pasta de posturas, determinando aos ambulantes que encerrem suas atividades. Quem ele (Joselito) está defendendo? A população ou os empresários?” indagou um deles em um dos grupos do Facebook.
O engraçado é que Joselito & Cia fazem de conta que não veem a venda indiscriminada de abacaxis e móveis de piscina, entre outros, em caminhões estrategicamente estacionados em lugares de movimento. E permitem que ‘foodtrucks’ de fora atuem nos eventos oficiais do Palácio 17 de Julho. Chegam, vendem e vão embora com o dinheiro arrecadado junto aos voltarredondenses.