Por Pollyanna Xavier
Há pouco mais de uma semana, a Usiminas registrou um acidente grave em Ipatinga, no Vale do Aço Mineiro: o gasômetro da usina explodiu deixando mais de 30 pessoas feridas, provocando ainda um tremor de terra no município, que foi sentido até mesmo por moradores de bairros bem distantes da siderúrgica. Imediatamente a usina foi evacuada e o entorno dela também. Alunos de uma escola municipal próxima ao local do acidente foram dispensados. Funcionários e moradores de prédios ao redor foram para as ruas. O medo de novas explosões, com consequências sérias, tomou conta de Ipatinga.
No início da semana, a Usiminas divulgou um relatório preliminar sobre o acidente. Exatamente 34 pessoas foram encaminhadas para atendimento médico por ferimentos sofridos na explosão. O documento aponta como causa provável a entrada indevida de ar atmosférico no equipamento, devido a uma falha no controle automático das válvulas que direcionam o gás de aciaria (LDG) para o gasômetro. A ignição é atribuída inicialmente a fagulhas de uma aparelhagem de limpeza que trabalha emitindo centelhas.
O gasômetro é um equipamento imenso que armazena gases produzidos no processo de produção das usinas e funciona como uma espécie de pulmão das redes de distribuição de gases. São esses mesmos gases que movem o próprio processo de fabricação do aço. Quando algum elemento (água, poeira, fuligem, água, etc) entra no gasômetro, o aparelho pode entrar em colapso, culminando na explosão. No relatório da Usiminas, há pelo menos duas razões que justificam o acidente. A primeira é uma falha no controle automático das válvulas do sistema, que permitiu a entrada de volume elevado de ar no gasômetro. A segunda é o sistema de limpeza, na saída do gasômetro, que pode ter provocado a explosão, pois opera com centelhamento, processo que pode ser comparado à emissão de faíscas.
O gasômetro da Usiminas fica na área da Aciaria. Com as válvulas abertas, foi possível a entrada de ar que se misturou ao LDG (gás de aciaria). “Combinados, os gases podem ter entrado em contato com uma centelha produzida pelos precipitadores eletrostáticos – equipamentos que fazem a limpeza do gás –, gerando a explosão”, diz o relatório da Usiminas.
Mais acidentes
Dois dias antes do incidente com o gasômetro, a Usiminas registrou outro acidente sério, que vitimou fatalmente o funcionário Luís Fernando Pereira, 38. Ele trabalhava no despoeiramento da aciaria quando o acidente ocorreu. Cinco dias depois, um terceiro acidente foi registrado. Desta vez, um eletricista de 36 anos teve amputado um dos braços durante uma manutenção programada na área da sinterização. “Ele foi prontamente socorrido e encaminhado ao Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga. A empresa ressalta que a Sinterização não tem ligação com as áreas das ocorrências anteriores e que já está apurando as circunstâncias do acidente”, informou a empresa.
A recorrência de acidentes fez com que o governo de Minas Gerais enviasse um ofício à Usiminas exigindo que a empresa comprove a eficácia da segurança na usina. A própria secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável vistoriou algumas áreas da Usiminas.
E se fosse na CSN?
O acidente envolvendo o gasômetro da Usiminas acendeu um alerta no Sindicato dos Metalúrgicos e preocupou os operários da CSN. Segundo o diretor do Sindicato, Orlando Zambotti, se o gasômetro da CSN explodisse, a exemplo do que ocorreu em Ipatinga, não sobraria muita coisa para contar a história. “O acidente na Usiminas foi muita sorte. O gasômetro de lá estava vazio, caso contrário, estaríamos lamentando a morte de milhares (de pessoas)”, disse Zambotti, que acrescentou: “Se acontecesse aqui em Volta Redonda, já estaríamos todos mortos num raio de 30 km”, exagerou.
Recorrente
A CSN voltou a registrar acidentes na UPV. Desta vez foi no domingo, 19, na fábrica de Aços Longos. Dois funcionários sofreram queimaduras leves enquanto trabalhavam na unidade. A CSN não deu detalhes do acidente, apenas confirmou o ocorrido e informou que os operários foram socorridos no Hospital das Clínicas (há quem garanta que eles deram entrada no Hospital da Unimed com queimaduras de primeiro grau em algumas partes do corpo, especialmente membros superiores).
Este é o terceiro acidente registrado na CSN em menos de uma semana. Daniel Silvério Bragança, 34, morreu no último dia 16, vítima de um curto-circuito em um transformador na área de laminação a frio. O metalúrgico não estaria vestido com a roupa apropriada para este tipo de manutenção. Ele chegou a ser socorrido no Hospital das Clínicas de Volta Redonda (antigo Vita) e depois transferido para o Hospital 9 de Julho, em São Paulo, mas infelizmente não resistiu.