Por Mateus Gusmão
As eleições presidenciais, vencidas por Lula, terminaram há cerca de duas
semanas, e o normal seria que a vida voltasse ao normal. Que os ânimos exaltados de bolsonaristas e petistas se acalmassem. Ledo engano. A pacificação ainda não ocorreu, e a guerra entre os dois lados continua nas redes sociais. Pior. Tem gente usando a internet para afetar e prejudicar tanto em termos presenciais quanto comercialmente falando – a
vida de eleitores-empresários que declararam votos a Lula. Pregam abertamente, entre outros, um boicote às empresas cujos donos tenham votado ou defendido o voto no presidente eleito. Resultado: cerca de 80 empresas de Volta Redonda, Barra Mansa, Resende e Itatiaia estão sendo ‘queimadas’ em duas listas divulgadas por supostos bolsonaristas nas redes sociais e, principalmente, pelo WhatsApp. As listas contêm os nomes dos estabelecimentos cujos donos teriam apoiado Lula, e o objetivo é claro: promover um boicote eleitoral. Ou seja, que os apoiadores de Bolsonaro deixem de frequentar os estabelecimentos. A empresária Marcella Rios, dona de duas franquias de sapatos em Barra Mansa e Resende, teve o nome de sua loja incluído na lista. Pior. Sentiu que as vendas já diminuíram. “Eu fiquei sabendo da existência dessa lista de boicote por uma amiga que está em um grupo de WhatsApp de apoiadores do Bolsonaro. Eles divulgaram essa lista no grupo. Ela viu e me
mandou”, disse a empresária em entrevista ao aQui. “Eu tomei um susto,
Perseguição virtual de bolsonaristas a petistas vira caso de polícia Boicote eleitoral
foi horrível. Eu senti como uma exclusão, como se alguém apontasse o dedo na minha cara me julgando”, completou, ressaltando que em suas lojas não foi feita qualquer manifestação política, nem nas redes . “Eu me posicionei (a favor do Lula) no meu perfi privado. A gente não sabe como começaram essas listas. Mas já temos ‘prints’ de muitos que compartilharam e até dos grupos bolsonaristas”, comentou. Segundo a empresária,a queda no movimento nas lojas começou com a divulgação da lista. “Em Resende, após uma campanha que estamos fazendo junto às clientes, estamos conseguindo reverter isso. Mas em Barra Mansa ainda não. Esse era um período das lojas estarem cheias, já que estamos fazendo uma promoção de ‘novembro colorido’, como uma preparação para a Black Friday. É uma crueldade muito grande”, avaliou, de forma desapontada. Marcella foi além.
Lembrou que são as empresas como a sua que levam o sustento paradentro das casas e que geram empregos. “A gente não é dessa índole, é muito triste. Eu não sei se as
pessoas que fizeram isso sabem, mas no nazismo eles marcavam lojas e casas de
judeus com uma ‘Cruz de Davi’ para que aquele local fosse fiscalizado, fechado e até depredado”, completou. Tanto Marcella quanto outros empresários fizeram questão de registrar Boletins de Ocorrência na Polícia Civil diante do que consideram um crime de difamação. Eles estão sendo orientados pelo advogado Davi Ferez, que é de
Resende. Aliás, o escritório de advocacia também aparece na ‘lista de boicote’ dos bolsonaristas. Assim, ele está orientando os empresários que tenham os nomes citados a fazer o B.O. na Polícia Civil a abrirem uma investigação para se descobrir quem criou as tais listas de boicote, quem divulgou e se elas foram patrocinadas. “Dependendo da investigação policial, poderá haver uma ação judicial criminal. Mas é certo que haverá ações na Vara Cível. Esse pode ser um dos
poucos casos em que empresas possam ser indenizadas por danos morais pelos prejuízos causados com a difamação que está ocorrendo”, disse o
advogado, ressaltando que em Volta Redonda já foi identificada uma internauta que estaria divulgando o nome das empresas a serem boicotadas. “Quem compartilha é tão responsável quanto quem cria a lista. E também já há como responsabilizar os administra-dores dos grupos de WhatsApp onde foram divulgadas as listas”, salientou Davi Ferez.
O advogado lembrou que no Brasil o voto é obrigatório e não faz sentido pessoas sofrerem represálias por suas escolhas políticas. “Essas empresas podem virar alvo de ataques,
depredação e boicote financeiro realmente. São empresas que são fonte de sustento e geração de emprego”, completou. Em Resende, as entidades empresariais, como a CDL local e a Associação Comercial divulgaram nota repudiando a existência e divulgação das
listas de boicote. Em Volta Redonda e Barra Mansa, até o fechamento desta edição, as entidades empresariais não se pronunciaram a respeito. É uma pena!