O prefeito Samuca Silva assumiu o Palácio 17 de Julho no dia 1º de janeiro de 2017 prometendo, entre outras, uma equipe de primeiro escalão, sem viés político. Seria formada apenas por técnicos, com competência comprovada. Deixou claro que quem não desse conta do recado seria demitido. “A prefeitura é um organismo vivo. Ninguém está com cadeira cativa”, declarou na época, mostrando que já estava ciente que nem tudo sairia como o programado. Como vamos mostrar abaixo, Samuca manteve a prática de trocar alguns titulares ao longo do ano e pode fazer alguns ‘ajustes’ na reunião de hoje, sábado, 13, no Hotel Bela Vista, batizada de “Encontro anual de estratégia governamental e análise de políticas públicas”.
Apesar de Samuca fazer mistério quanto à permanência de vários secretários, nos bastidores do Palácio 17 de Julho não se fala em outra coisa. O assunto surgiu quando o prefeito passou a falar em ‘ajustes’ – nome pomposo para uma ampla reforma que pretendia promover, pensando, entre outras, nas eleições de outubro. Maycon Abrantes, o vice-prefeito eleito, por exemplo, quer disputar um cargo para a Assembleia Legislativa e conta com o apoio de Samuca. Fernando Samuquinha também pensa da mesma forma. O PV do Palácio, por sua vez, trabalha o nome de Alfredo Peixoto, secretário de Saúde. Alfredo e Maycon terão, se forem disputar a eleição, que deixar os cargos de secretários até o início de abril. Ou, dependendo da estratégia, sair antes disso. Hoje? Só o tempo dirá.
Fernando Samuquinha, por sua vez, está em uma situação complicada. Se insistir em disputar a eleição para a Alerj deverá perder a oportunidade de herdar a poderosa Secretaria de Ação Comunitária (Smac), que passou um ano nas mãos do vice-prefeito sem que este tenha aproveitado a chance de ganhar espaço entre os velhinhos-eleitores do ex-prefeito Neto. Um ano se passou e a terceira idade mostra estar disposta a manter apoio a quem Neto quiser; no caso, ao deputado federal Deley de Oliveira, que vai buscar sua reeleição. Caso Samuquinha aborte seu plano de ser candidato, ele deverá ser nomeado para o lugar de Maycon, que continuaria como vice, contando com seu apoio para conseguir os votos dos idosos de Volta Redonda.
Além de Maycon Abrantes, mais três secretários, ou melhor, secretárias, estão para cair nos ajustes de Samuca. Uma delas vem de Barra do Piraí. Quando o então presidente do IPPU-VR, Ricardo Moreira, nomeado por Samuca no início do governo, pediu para deixar o cargo alegando problemas pessoais, o prefeito não sabia que, ao substituí-lo por Maria Ilma de Andrade Silva, passaria a ter algumas dores de cabeça. Acontece que a arquiteta e urbanista não tem conseguido desenvolver bons projetos à frente da pasta, além de ter desagradado alguns vereadores. Washington Granato foi um dos que pegaram birra da barrense.
Segundo uma fonte da Câmara, Maria Ilma não tem o hábito de atender telefonemas do vereador, que era líder do governo na Câmara – hoje? é o presidente da Casa. “Se ela não atendia nem o representante do prefeito na Câmara, vai atender quem?”, indagou a fonte, cheia de maldade. Ela pode estar certa. E o nome de Maria Ilma é quase pule de dez nos ‘ajustes de Samuca’.
Outra que estaria na berlinda é a ainda secretária de Educação, Rita de Cássia Andrade. Embora ela tenha a seu favor o fato de ter sido professora de Samuca na Escola Miguel Couto Filho, um grupo considerável de diretoras anda torcendo o nariz para os lados dela. Tem mais. Estariam enchendo a Ouvidoria do Palácio 17 de Julho com reclamações de toda ordem. Além disso, pesa sobre ela a fúria dos evangélicos. “A situação dela é tão crítica que o Samuca está realizando reuniões, sem a secretária, com os diretores escolares para ouvir suas demandas”, disse uma fonte.
Tem mais. Desde que Rita, com aval do próprio prefeito, aceitou a difícil tarefa dada pelo procurador federal Júlio Amaral (que já foi embora de Volta Redonda) de discutir gênero nas escolas com enfoque na temática LGBT, seu futuro à frente da pasta ficou incerto. A pá de cal pode ter sido a audiência pública realizada pelo vereador Paulo Conrado, onde, além de não ter conseguido se explicar aos conservadores presentes, acabou enfrentando a ira dos vereadores, que se posicionaram contra o trabalho desenvolvido por ela.
Nos corredores da secretaria de Educação, o silêncio passou a ser sepulcral. Pouco se falou sobre a audiência LGBT, mas a expectativa continua latente. Aos seus funcionários mais próximos, Rita teria dito até que Samuca não pretende demiti-la. Que ela vai emplacar 2018, quer eles (vereadores) queiram ou não.
Por falar em pressão, se depender dos vereadores, a presidente da Fundação Beatriz Gama, Claudia Moreira Dornellas, também estaria com os dias contados. Durante um ano ninguém a defendeu. Pelo contrário. “Tem secretário que acha que é Deus, e que manda até no prefeito”, dispara o vereador Neném toda vez que se refere à executiva da FBG.
Comandando a Fundação, Claudia teria até se recusado a permitir que a Câmara indicasse dois representantes para compor o Conselho Fiscal da FBG, deixando os vereadores revoltados. “Ela está totalmente equivocada. Desde sempre esta Casa teve prerrogativa para indicar membros do Conselho”, desabafou Fernando Martins, seguido por Granato, que completou, quando o assunto foi à baila, em tom ameaçador. “Teremos algumas reuniões com o prefeito sobre o secretariado e vamos pedir algumas cabeças”, disparou. Hoje, sábado, veremos se Granato foi atendido…
Quem já foi
A primeira grande mudança na gestão Samuca aconteceu ainda durante o período eleitoral. Na época, o PV teve de escolher um novo vice para ocupar o lugar de Dayse Penna após a Justiça Eleitoral constatar que a mudança de domicílio eleitoral da candidata de Sumaré (SP) para Volta Redonda foi feita fora do prazo. O escolhido para substituí-la foi Maycon Abrantes que, como citado acima, apresenta desgaste junto ao governo. Atualmente, Dayse responde pela pasta de Políticas Públicas para Mulheres, Idosos e Direitos Humanos.
Depois de eleito, Samuca não conseguiu emplacar o nome que escolheu – a pedido do deputado federal Alexandre Serfiotis – para comandar a pasta da Saúde. Saiu Rafael, entrou Márcia Cury, ex-aliada do ex-prefeito Neto. Curiosamente, Rafael Galvão, o escolhido, ficou subordinado à nova titular. E deu no que deu. Márcia tanto fez que acabou sendo trocada por Alfredo Peixoto, que tinha sido escolhido para comandar a pasta do Meio Ambiente, que foi entregue a Daniela Vasconcelos, indicada, dizem, pelos empresários-assessores Maurinho Campos e Rafael Capobiango.
Outra polêmica na gestão Samuca foi a saída de Márcia Fernandes da secretaria de Cultura. Depois de ter firmado parcerias com a periferia e com a comunidade LGBT, Márcia instigou a fúria de alguns vereadores conservadores como Sidney Dinho, ex-presidente da Câmara. Com uma sucessão de eventos que não foram sucesso de público, Samuca não teve opção, senão demiti-la, explicando que ela estaria, de certa forma, pondo em risco a estabilidade do seu governo. Para seu lugar foi nomeada Aline Ribeiro, que era chefe de gabinete de Márcia.
Leonardo Vidal, ex-executivo do Saae-VR, também teria sido demitido por colocar em risco o prestígio de Samuca junto aos eleitores. Não é para menos. Graças à sua gestão –totalmente equivocada –, a população de Volta Redonda enfrentou horas e dias sem água para beber. Ele fez mais. Foi à Delegacia de Polícia denunciar funcionários do órgão – que não identificou, é claro –, acusados de terem sabotado a administração Samuca. Pura lorota. E isso lhe custou o emprego. A autarquia, comandada pelo seu sucessor José Geraldo Santos, o Zeca, que Samuca foi buscar em Barra Mansa, resolveu os problemas e a água nunca mais acabou…
Outro notável que Samuca acabou tendo que demitir foi o carioca Fábio Fernandes da Silva, nomeado para comandar a Procuradoria do Município. Oficialmente, sua saída teria sido a pedidos. Mas uma fonte, que pede que seu nome não seja revelado, garante que o advogado criou uma enorme confusão em uma festa de criança em Volta Redonda. Teria até brigado com alguns amigos do prefeito. Acabou indo embora. Para seu lugar, foi nomeado Augusto Cesar Nogueira.
Quem também acabou perdendo o cargo pomposo que tinha foi Juliano de Sá, que era Coordenador Municipal de Juventude. Foi exonerado por Samuca e ganhou um cargo no Departamento de Materiais. Para seu lugar foi nomeado o jornalista Luciano Campos. Outro que deixou o governo, alegando problemas pessoais, foi o bombeiro Márcio Cláudio Caetano Siqueira, que ficou quatro meses à frente da Defesa Civil. Não deve ter gostado do cargo. Ele foi substituído pelo também bombeiro Rafael Champion.
O último a deixar o governo, sem qualquer alarde, foi o diretor do Fundo Comunitário de Volta Redonda (Furban), Marco Antônio Marques. Em dezembro, assumiu o cargo o engenheiro Ronie de Oliveira Machado, escolhido através de uma lista tríplice apresentada pelo Conselho Comunitário de Volta Redonda. Detalhe: o processo de escolha levou quase um ano para sair do papel.