Vinicius de Oliveira
A semana foi marcada por uma perda que tocou profundamente as bases do jornalismo fluminense. No domingo, 11, vítima de problemas respiratórios, morreu o jornalista e empresário João Pançardes, aos 77 anos. Dono de um característico bigode, adotado desde mais moço, o fundador do jornal ‘A Voz da Cidade’, um dos mais importantes veículos de comunicação do Rio de Janeiro em circulação, foi mais do que pioneiro em seu ofício. Foi também professor para tantos outros profissionais da área, mostrando, na prática, como driblar as dificuldades extremas de se fazer jornalismo no interior.
“Nunca trabalhei com o seu João, éramos ‘concorrentes-amigos’, e ele sempre me apoiou, sempre esteve ao meu lado, me incentivando, me elogiando pelas edições do ‘Opção’, que acabou comprando das mãos do Roberto Pires, a quem tinha vendido o jornal quando fui embora de Volta Redonda. Seu João também me apoiou quando voltei e lancei o aQui, no mesmo estilo. Em nosso relacionamento, aprendi muitas coisas. Ele sabia, por exemplo, como ninguém, o caminho das pedras para sobreviver mesmo fazendo jornal no interior. A ele, o nosso adeus e um muito obrigado”, declarou Luiz Alfredo Vieira, editor do jornal aQui.
Aurélio Paiva, dono do Diário do Vale, falou da influência de João Pançardes em sua formação. “Trabalhei com o João Pançardes depois que saí da assessoria de imprensa do governo Clinger. Ele havia comprado o jornal ‘Opção’. Era de um coração sem tamanho. Um grande amigo. Na área de comunicação, foi o primeiro jornalista em toda a região a ver o jornal como uma empresa. Utilizou seu espírito empreendedor para criar o ‘A Voz da Cidade’ e inúmeros outros jornais. João soube como ninguém superar os momentos difíceis que o país passou década por década. Sentiremos muito sua falta”, declarou.
Emocionado, Luciano Pançardes, filho do ‘seu João’ e atual responsável pelo jornal ‘A Voz da Cidade’, reforçou o pioneirismo do pai, salientando sua generosidade ímpar. “Meu pai foi pioneiro, visionário. Transformou o jornal numa empresa e adiantou o seu tempo editando um jornal diário. E, como ser humano, tinha um coração imenso. Dificilmente encontraremos outra pessoa com a generosidade dele, nitidamente conhecida por quem conviveu com ele. Um homem muito além do seu tempo”, pontuou Luciano.
Políticos influentes também fizeram questão de prestar suas homenagens, provando o quão gigante foi João Pançardes. O prefeito de Volta Redonda, Antônio Francisco Neto, mencionou justamente tal grandeza. “Perdemos um dos baluartes do jornalismo do nosso estado! João Pançardes tem seu nome eternizado na Comunicação e será sempre lembrado pelo pioneirismo, pela determinação e pelo sucesso nas suas ações. Que Deus abençoe e conforte os familiares”, disse.
Do mesmo modo, o prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable, manifestou pesar em suas redes sociais tão logo soube da notícia da morte de João Pançardes, seu amigo. “Jornalista e empresário. Fundou vários jornais e revistas, dentre eles o jornal ‘A Voz da Cidade’, um dos jornais com maior circulação no estado do Rio. Uma das figuras históricas da cidade. Deixa entristecidos seus amigos, sua família. Mas a todos deixa a certeza de ter tido uma vida bem vivida. Suas histórias ficarão na memória de todos que tiveram o privilégio de seu convívio. Que seja recebido em festa no céu”, escreveu em tom emocionado.
Até o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, deu um tempo em suas atividades para prestar condolências pelo falecimento do fundador do ‘A Voz da Cidade’. “Lamento a morte de João Pançardes, fundador de ‘A Voz da Cidade’, de Barra Mansa, um dos primeiros diários do nosso estado. A imprensa nacional perde um de seus principais representantes. Em 2020, João entrou para a história, tendo seu nome consagrado entre os 50 mais influentes comunicadores do mundo, ao levar seu jornal à marca de mais de 15 mil edições publicadas ao longo de 50 anos. Meus sentimentos à família e amigos”, disse o governador em nota.
Pançardes começou sua história com o jornalismo bem cedo, ainda aos 12 anos, entregando jornais. Como jornalista profissional, passou pelo jornal ‘A Voz do Povo’, onde trabalhou como tipógrafo, foi para a ‘Folha Barra-mansense’ e ‘O Sul Fluminense’. Em 1970, após o fim da parceria com o irmão Geraldo Pançardes, João fundou o ‘A Voz da Cidade’. Com notícias do dia a dia do Vale do Paraíba, circulou em caráter bimensal, mensal e quinzenal, semanal, até que se tornou diário.
João Pançardes deixa, além de Luciano, a filha Valéria, a esposa Maria Pançardes e cinco netos: Larissa, João Cláudio, Daniela, Isabela e Davi. E ainda dois bisnetos: Conrado e Helena. A todos, o nosso muito obrigado e uma informação que ele, seu João, deverá ler com satisfação. Seu nome, brilhante, por sinal, poderá batizar a futura Arena Esportiva Municipal, que o governo Rodrigo Drable vai criar em área do UBM, situada bem em frente às instalações do jornal ‘A Voz da Cidade’.