Por Mateus Gusmão
O leitor do aQui se surpreendeu, na edição no 1474, com a revelação de que o número de farmácias em Volta Redonda já é superior, e muito, ao de padarias. O cheiro do pão quentinho, saindo do forno, deu lugar às luzes brancas das drogarias, que vendem medicamentos, cosméticos e muito mais. Tudo bem caro, aliás. Agora, um novo levantamento exclusivo feito pelo jornal revela outra característica marcante: Volta Redonda é apaixonada por veículos – carros e motos – e muito voltada para a fé, seja ela católica, evangélica, umbandista etc.
De acordo com dados da Secretaria de Fazenda de Volta Redonda, dois segmentos ocupam cada vez mais espaço na paisagem urbana e, por que não, no coração dos volta- redondenses: o das agências de veículos, conhecidas como ‘agências pardais’ e o dos templos religiosos. Afinal, quem circula pelos bairros Aterrado e Niterói percebe, sem esforço, a grande quantidade de lojas de venda de veículos. Detalhe: algumas, às moscas.
Ao todo, a cidade do aço conta com 184 estabelecimentos voltados à venda de automóveis, entre concessionárias e revendas, e 110 templos religiosos registrados – igrejas católicas, evangélicas, centros espíritas e de matriz africana (umbanda e candomblé). Os números impressionam. O Aterrado/Nossa Senhora das Graças se consolidou como polo auto- motivo da cidade, reunindo 67 lojas de veículos. Em Niterói, existem outras 35 agências, enquanto o Retiro soma 20. Já a Vila Santa Cecília e o Centro possuem, respectivamente, cinco e nove estabelecimentos. No caso das igrejas, o Retiro lidera: são 21 templos religiosos espalhados pelo bairro. Na Vila há cinco, no Aterrado/Nossa Senhora das Graças existem sete, no Centro, seis e em Niterói, dois.
Para o empresário Carlos Henrique, que foi proprietário da Nena Automóveis durante mais de 20 anos, a concentração de agências reflete a força do setor. “Volta Redonda virou referência regional para a compra de carros. Gente de cidades vizinhas vem para cá, porque encontra variedade, preço e condições melhores”, avaliou. “Eu fechei minha loja na pandemia, mas muita gente segue investindo nesse negócio de compra e revenda. A região tem demanda para isso”, calcula.
Nena ainda lembra que Volta Redonda é uma das cidades com o maior número de veículos per capita no Brasil. “Os volta- redondenses gostam de carro. Vemos casos em que, na mesma família, há mais de dois veículos. As pessoas têm o costume de ir trabalhar de carro, ir ao shopping, entre outros. Então, há demandas significativas na cidade para revendedoras”, disse, ressaltando que os veículos ‘zero quilômetro’ estão com valores elevados. “O que favorece a venda de seminovos e usados”, acrescentou.
Igrejas crescem na cidade
O aQui procurou o vereador Betinho Albertassi, liderança evangélica e que comanda o programa de maior audiência da Rádio 88 FM (voltada para o segmento evangélico), para comentar o crescimento de templos religiosos em Volta Redonda. Em sua avaliação, a abertura de igrejas é positiva. “Sou um entusiasta da abertura de templos. Penso que a igreja hoje colabora também com o Poder Público no que tange ao social”, avaliou Betinho.
Segundo ele, a igreja atende seus fiéis tanto no campo social quanto no espiritual. “Várias igrejas destinam cestas básicas. A minha, por exemplo, entrega mais de 50 por mês. Muitas vezes a igreja chega antes do Poder Público. Muita gente que sofre de depressão procura o amparo espiritual”, disse Betinho, salientando que as igrejas que fazem um trabalho sério têm tudo para crescer.
“Hoje, para se ter ideia, a população cristã evangélica cresceu muito. As pessoas estão procurando a igreja”. Para Betinho, há espaço para tantas igrejas na cidade – em especial pelo crescimento do número de fiéis –, mas, pondera, o trabalho precisa ser sério. “Acho que há espaço para tantas igrejas, desde que tenham um trabalho verdadeiro de evangelizar as pessoas. Esses são muitos os benefícios”, completou. O vereador, entretanto, faz um alerta: as pessoas percebem quando estão diante de falsos profetas. “Lógico que o pastor que abre um ministério para se autopromover, para enriquecer ilicitamente, amanhã ou depois as pessoas vão perceber e abandonar o espaço”, finalizou.
Padarias x farmácias
A revelação do aQui de que o número de farmácias já é superior ao de padarias, em especial nos bairros centrais de Volta Redonda, não surpreendeu muitos leitores, já acostumados a reparar ao andar por aí. Os exemplos: na Vila Santa Cecília, há apenas quatro padarias, contra 27 farmácias – quase sete vezes mais. No Aterrado, o quadro também chama atenção: quatro padarias, para 19 farmácias. No Centro/São João, duas padarias contra nove farmácias. A exceção é o Retiro, onde o número de padarias (18) se aproxima do de das farmácias (21).
Nas redes sociais, a reportagem repercutiu. A internauta Thais Marcelino, no Instagram do aQui, avaliou o motivo de tantas farmácias. “População de muitos idosos, até os mais novos com saúde de idoso, fora a galera com problemas respiratórios por conta da poluição… haja farmácia”, disse. “Realmente são 3 padarias pra atender mais de 10 mil pessoas por bairro”, completou Alexandre Van Basten. O internauta Mizar do Mar foi além: “Quanto mais poluição, mais farmácia. Quanto menos espaços verdes, mais farmácias. Quanto mais trânsito estressante, mais farmácias… cidade doente gera população doente”, opinou. Gleydson Barroso foi na mesma linha: “Sinal de uma cidade doente”, disparou. Tem razão.